terça-feira, 16 de setembro de 2014

A FUGA DOS PONTEIROS



E o dos minutos falou para o das horas: " Ainda estamos a tempo. O dos segundos por ser mais rápido já foi há muito tempo. Saiu de mansinho a meio da noite. Num segundo estava cá fora sem que ninguém desse por nada. Mas nós teremos de partir o vidro e partir. O mundo está lá fora à nossa espera. A vida é aqui agora", disse o ponteiro dos segundos ao das horas fitando no fundo dos olhos, sabendo que estava a dizer um profundo cliché que posto em prática deixava de o ser. "Já perdemos muito tempo e nós não somos escravos desse caprichoso tempo! Desse eternamente efémero. Bora!"

O grande deu a mão ao pequeno. O tamanho não era uma questão de estatuto ou importância. De mãos dadas perceberam que estavam juntos nessa corrida contra o tempo. Já longe do relógio, respiraram de alívio. Agora teriam todo o tempo do mundo para não mais fugirem de si mesmos. "Estamos juntos.", falaram um para o outro em silêncio, saboreando cada momento.

Ana Piu
Br, 14.09.2014

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