quarta-feira, 24 de setembro de 2014

CARTA AO CARLOS MARQUES

Querido Carlos,

por aqui as coisas vão indo. Umas vezes melhor outras por melhorar. Sempre digo por brincadeira: Marx morreu, Cristo também e eu faço por me sentir bem.

Sim, tu já morreste. Uma página ou várias páginas da história devem ser viradas. Mas penso que todos, de uma maneira ou outra, deveríamos ler realmente o que falas-te, Por ironia ou não escreveste num dos berços do capitalismo, quando este estava em expansão numa revolução industrial que trouxe alguns benefícios. Porém o resultado está à vista. Muitos citam-te entre um cálice de uma beberage sentados no chão, o que é próprio de um momento da vida, ou mais tarde num sofá de cabedal no seu escritório forrado a livros.
Não sei sinceramente se alguma vez alguém te entendeu realmente. Talvez sim, mas posto em prática sabes como é... Os egos e os interesses muitas vezes gritam mais alto. E depois ainda tem uma outra coisa. Citar-te e fazer do teu pensamento uma bandeira panfletária sem adequar aos nossos tempos é no minímo revelador de que não se sai o suficiente à rua e que não se escuta as  necessidades, pensamentos e outras inquietações daqueles que trabalham, que não vivem de rendimentos. Não, não é justo matarem-te desta maneira, mas também não é justo que te descredibilizem pelos motivos acima expostos. E ainda tem uma outra pequena questão, meu querido Carlos Marques, o pessoal anda mais preocupado em criticar os politicos, que reflectir e propor novas formas para que a habitação, a educação, a saúde, o emprego seja algo digno para todos. Conheces Amartya Sen? É um rapaz bem intencionado como tu. Isto para te dizer que praticamente tudo já foi pensado, dito, reflectido. Até mesmo antes de ti. Não concordas? E agora colocar em prática? Talvez a nível local, nas relações mais próximas. Essa coisa de "trabalhadores do mundo inteiro uni-vos" não te parece um pouco ingénuo nos dias que correm e que escorrem num neo liberalismo galopante?

um abraço cordial, sabendo que tens humor suficiente para nos rirmos juntos de nós mesmos e das nossas imperfeições e incoerências



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