quarta-feira, 24 de setembro de 2014

CARTA ABERTA PARA A BERTA

Querida Berta,

há muito percebi que para sobreviver neste mundo temos de ter a mente esperta.
Quem diz a mente diz o corpo.
Olhar de frente o que parece torto.
Se hoje escolhi estar longe foi para que de alguma forma me distanciá-se. Como um monge.

Sabes que gosto de falar em rima.
Dá mais feeling. Um estilo mais para cima.

Cá no meu entender o humor é o que salva.
Uma espécie de estrela d'alva.

Cada um escolhe os seus caminhos quereres
e eu cá não curto muito aquele, o dos sofreres.
Agora não me calo
vou falar até que a voz crie esse calo
se emigro
é uma coisa cá comigo
se quiser ficar fico. aqui a menina fica
mas Portugalito há muito que não dá pica
pouco estimulo, pouca entrega
dou por mim e tenho a vida cega
Portugal não precisa de mim, pá
ahhh não estou a ser má
desejo tudo de bom
até à próxima visita
que seja novamente um encontro catita

sou da geração rasca
ah pois sou
o que era para ser antes de o se dar evaporou
habituados a ter tudo e não ter nada
dorme o desempregado na bonita almofada
ele é o shopping, ele é a prestação carro, mais da casa
dá para pegar parcelado uma só asa?
já é qualquer coisa uma asa só
"agora vocês tem tudo!" já dizia a minha avó


este mundo neo liberal
é muita legal
adormece o pessoal
em toscos e rascas travesseiros
que se não abrimos a pestana acabamos nos bueiros

agora estou no Brasil
não é tudo maravilhas mil
pelo muda-se de ares
o que refresca os pensares

está mais justo que há uns anos atrás
isso posso garantir. já falei. zás!
quem não concorda e faz cara enjoada
é porque não quer dividir a feijoada

agora vou ali já volto
sonhar ao ar livre dá um ar mais solto

emigro se me apetecer
fico se me aprouver


Ana Piu
Brasil, 24.09.2014





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