Há 15 anos, enquanto viaja de mochila às costas pelas profundezas do Brasil, sempre parava numa banca para levar uma revista Caros Amigos ou uma National Geographic Brasil. Estava na terra dos Sem Terra e conheci o seu movimento através da Caros Amigos, assim como a existência do Lula. O Sebastião Salgado também contribuiu para tal. Deixei de ler a Nathional Geographic no dia em que publicaram uma matéria sobre uma tribo recém descoberta na floresta amazónica. A matéria era tão fora da realidade que perdi o entusiasmo de continuar a lê-la. Para isso leio um romance do Sepúlveda ou do Garcia Marquez. Agora vender algo como factual sendo uma construção para os citadinos se deleitarem entre um uisqui a imagem do bom selvagem...
Quando o Lula ganhou as eleições eu já estava em Portugal. Pensei: "My dog! E agora! Como vai ser?! As expectativas são muitas, mas nem tudo está nas suas mãos e as pessoas sonham paizinhos deuses que resolvam todos os seus problemas. Mas o sistema é muito mais complexo!"
Quando aqui cheguei há dois anos e meio atrás procurei pela Caros Amigos. A capa anunciava uma matéria sobre as manifestações em Portugal, muito antes do Wall Street. Enfim, até na mudança de paradigma os "amaricanos" querem ser os primeiros como se o mundo não existisse antes deles. Não nos esqueçamos que eles são os filhos adolescentes do mundo ocidental. Enfim.
Abandonei a leitura da Caros Amigos a partir do momento que esta alegava que as assembleias populares e acampadas no centro de Lisboa , mesmo ao lado da minha casa, assim como em Coimbra e no Porto eram promovidas pelo Partido Comunista Português. Grande piada de mau gosto e muita desinformação. Essas assembleias durante várias semanas foram constituídas por gente POLITIZADA PORÉM APARTIDÁRIA. ESTAMOS CANSADOS DOS VOSSOS DOGMAS E SEDE DE PODER. Nessa época, em 2010 achei que poderia haver uma saída. Tive a oportunidade de ouvir ao vivo e a cores o sociólogo Boaventura Sousa Santos. Talvez haja uma saída, mas ainda não foi desta. Desta feita escrevo do outro lado do mundo partilhando um trecho da minha revista informativa atual:
"Parece que a questão da desigualdade passa obrigatoriamente pela não aceitação do tipo de divisão de riqueza que possuímos. E essa não aceitação passa pelo oferecimento de inserção nas escolas, não tipo de escola que perpetue o status quo, mas que quebre de vez com ele, mostrando aos alunos do povo como funciona a sociedade e como acontecem a produção e a distribuição da riqueza. A entrada de milhões de brasileiros do povo em escolas e universidades com a ascensão de um governo mais à esquerda de 2002 para cá significou muito, e é preciso continuar, mas infelizmente responde ao formato mais agudo e imprescindível que precisamos implantar. Esse modelo passa por um profundamento da participação mais consciente de trabalhadores no processo de escolha e de decisão política e administrativa do Brasil. AFINAL SOMOS A MINORIA; AS ELITES, O PRÓPRIO NOME DIZ, SÃO A MINORIA. Esse modelo de desenvolvimento que vem desde a REVOLUÇÃO FRANCESA (1789) NÃO FUNCIONOU PARA AS MAIORIAS, AO CONTRÁRIO, VEM PRODUZINDO MILHÕES DE MISERÁVEIS E EXCLUÍDOS. As riquezas estão sendo exploradas a cada dia mais para enriquecer os já ricos. Enquanto isso, forma-se uma classe de consumidores que vive como gado; consome, mas não sabe quem produziu e como produziu, e muitos não sabem nem por que comprou/ consumiu. Somos bois e vacas atrás de uma ilusão... não sei nem qual a ilusão, me digam." (in Le Monde Diplomatique Brasil, canal direto: THOMAS PIKETTY EM UM CAPITALISMO HUMANIZADO, Setembro 2014)
Ana Piu
Brasil, 23.09.2014
obs: Esta imagem não corresponde à revista deste mês.
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