sexta-feira, 1 de julho de 2022

PIU PIA UTOPIAS

 Cidade/ Sem muros nem ameias/ Gente igual por dentro/ Gente igual por fora/ Onde a folha da palma/ afaga a cantaria/ Cidade do homem/ Não do lobo, mas irmão/ Capital da alegria (...) Homem que olhas nos olhos/ que não negas/ o sorriso, a palavra forte e justa/ Homem para quem/ o nada disto custa/ Será que existe/ lá para os lados do oriente/ Este rio, este rumo, esta gaivota/ Que outro fumo deverei seguir/ na minha rota? - "Utopia" José Afonso

Acredito que muitos cidadãos e cidadãs em território brasileiro conheçam o uruguaio Eduardo Galeano, pelo menos ssim deveria ser quem defende a democracia. Já os portugueses José Afonso e Sérgio Godinho tenho a impressão que muitos e muitas não conhecem. Normalmente quando se fala 'dos portugueses' a referência é aos navegadores, invasores e colonizadores quinhentistas que ficaram neste território até 1822. Entretanto passaram-se 200 anos. Dois séculos já é qualquer coisa para se pensar e praticar democracia, justiça e igualdade sem estar constantemente a invocar "os portugueses" como a causa de todos os males, sem sequer haver um esforço em conhecer a oposição portuguesa a esse projeto nefasto que foi e é a colonização. Claro que os europeus colonizadores foram o inicio de algo que até hoje se perpetua só que com outra roupagem, mas algumas vezes não tão diferente da quinhentista. Os garimpeiros, os madeireiros, os extrativistas, os latifundiários, os empresários, as multinacionais, as instituições religiosas que invadem e assediam os povos nativos e não só.
Não sei se sermos iguais por dentro e por fora seja uma utopia a alcançar. Mas alcançar a dignidade na diversidade e igualdade de oportunidades, assim como o paradigma ser mais ecológico em todos os sentidos é uma utopia que não se deve perder de vista. Como o Galeano diz:
“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”
– Fernando Birri, citado por Eduardo Galeano in ‘Las palabras andantes?’ de Eduardo Galeano. publicado por Siglo XXI, 1994.
Também me parece que essa utopia não pode ficar entregue somente na mão de partidos e governos, por isso a importância dos movimentos sociais, que infelizmente no governo petista houve uma tentativa de desmobilização para centralizar numa só frente. Onde começa aí a união e acaba em autoristarismo? Perguntar não ofende, espero.
O que se observou com essa desmobilização dos movimentos sociais, que com certeza nunca desapareceram e agora estão a se firmar novamente é que o trabalho nas periferias, por exemplo, que deveria ser feito ao nível governamental e também associativo foi realizado pelos ivan bélicos. Pois é. O resultado está à vista. Ganharam poder mais do que a conta ao ponto da democracia ser posta em causa.
Como canta o meu compatriota Sérgio Godinho: 'A democracia é o pior de todos os sistemas com excepção de todos os outros."
Que ganhe nestas próximas eleições quem tiver que ganhar para destornar o Coiso, mas que haja essa revisão do que foi feito e deixado por fazer enquanto houve oportunidade em dois mandatos para fazê-lo. E isto não significa que o PT não fez coisas em prol do povo: acesso à habitação, à educação e cultura e ao consumo. Isso não agrada os privilegiados e a uma dita elite que perpetuam a lógica colonial. Paciência. Será uma utopia responsablizarmos-nos pelos nossos erros e acertos, tanto no individual como no coletivo?
Até aos próximos pius pius sobre utopias e democracias!
Beijus e abraçus!
A Piu
Brasil, 01/07/2022




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