sexta-feira, 8 de julho de 2022

PIU E OS PRINCÍPIOS INVIOLÁVEIS


 Estamos no ano de 1993 ou 94, tenho entre os 19 e 20 anos. O chapéu eu recuperei do Centro Cultural de Évora, onde frequentava o curso de atores, e estavam a fazer uma limpa no guarda roupa da companhia de teatro. Olhei para aquele chapéu de Robin Hood, pisquei-lhe o olho e este retribui-me com uma piscadela. A partir dali eramos inseparáveis, fosse Verão ou Inverno lá andava eu com o chpaéu colocado do meu jeito maneira. De chapéu de figurino passou a ser chapéu do dia a dia da Piu. Em sessões fotográficas como estas para o meu portfólio até à ida para Berlim na tentativa de me adaptar aquele clima e sociedade, visto ter alguma atração por esta cidade que conhecera em 1991 com dois camaradas e amigos num mochilão on the road pela Europa de Leste ( Hungria, ex Tchecoslováquia, Polónia e Alemanha) sem deixarmso de passar pela ocidental cidade de Amesterdão, capital do consumismo cool. ;) Nessa viagem de 1991 ( ou 92? Confirmem aí Xico e Tiago) nós confirmamos que o regime soviético tinha ido abaixo. Budapeste deu-nos as "boas vindas" com fast food por todo o lado e cueca cuela nas mãos de toda a gente. Um choque para nós, que mesmo assim Lisboa não estava nem era norte americanizada como aquela cidade que 2 ou 3 anos antes estava do lado de lá do ocidente.

Esta é uma foto que retrata os meus primórdios de atriz profissional, teatreira por opção de vida como muitos de vós outros estão aqui a ler-me. Se não for nessa profissão será noutra. Escrever também é uma profissão, assim como uma ferramenta de ativismo. Então, para mim é assombroso, desnecessáriO, desrespeitoso  diminuir alguém quando não concordamos com as suas ideias ou muito provavelmente a sua interpretação do que lê e observa não tem a ver com o que lá está escrito ou manifestado em outra linguagem. O mais assombroso é quando essa diminuição vem de parte de mulheres. Já me aconteceu umas três ou quatro vezes´, normalmente com alguém que ou não temos afinidade e que ao limite nunca nos vimos a não ser nas redes sociais... O que é curioso é que inicialmente nós somos  o ma´ximo para elas, curtem tudo o que se publica nas redes sociais, mas em algum momento existe ali uma faísca onde o que se pega é em escarnecer do trabalho da outra mulher, da outra mina. Não vou dizer mana porque isso cheira aforçado. Não, não somos todas manas. Mana é quando pelo menos a tentaiva de entender a outra parte está presente, colocar-se no lugar do outro. Eu prezo isso. COLOCARMOS-NOS NO LUGAR DO OUTRO. Com isto não quero lavar roupa suja, mas fico a pensar o porquê de reproduzir um desrespeito com o trabalho de outra pessoa, quer apreciemos ou não. Eu não me lembrei de fazer teatro há duas horas nem de escrever à meia hora, tampouco não comecei a viver há 5 horas e refletir há 10 minutos. Penso que o mesmo se passará com vós outros. 

Para mim mais do que a importância dos movimentos sociais é a importância dos movimentos interpessoais. Não temos que concordar com tudo o que os outros pensam, embora existam factos. A opinião tem que vir a partir de factos. A opinião pela opinião é achismo, fake. Eu também não obrigo ninguém a concordar comigo e ao limite agradeço que me avisem quando estou equivocada, mas com maneiras, com educação. Não é dizer pelo virtual: " Ai cachopa, parece que levou a picada do teatro e agora fala coisas nada a ver." ou " Você escreve porque não tem mais nada que fazer. É priviligiada!" OIA! E ESTA, HEIN? Além de ler e escrever desde a mais tenra idade, eu tenho trinta anos, trinta e dois vá, de trajetória de teatro. Poderia ter dois anos ou até dois meses. Além desse argumento ser fajuto é escarnecer das escolhas, do trabalho de alguém. E quando estamos a falar de pessoas que supostamente defendem o direito dos trabalhadores então aí cai mesmo mal essa distorção de valores. Existem principios inviolaveis. E quando se esquecem há que avisar.

A Piu

Br, 08/07/2022

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