" Se você ama, terá AIDS;
Se fuma, terá câncer;
Se respira, terá contaminação;
Se bebe, terá acidentes;
Se como terá colesterol;
Se fala, terá desemprego;
Se caminha, terá violência;
Se pensa, terá angústia;
Se duvida, terá loucura;
Se sente, terá solidão
Para ter fôlego é preciso ter desalento;
Para se levantar tem que saber cair;
Para ganhar tem que saber perder.
E temos que saber que assim é a vida,
e que você cai e se levanta muitas vezes.
Alguns caem e não se levantam nunca mais,
geralmente os mais sensíveis,
os mais fáceis de se machucar,
as pessoas que mais dor sentem ao viver.
Os mais sensíveis são mais vulneráveis.
Em contrapartida, esses que se dedicam a atormentar
a humanidade têm vida longuíssima, não morrem nunca.
Porque não têm uma glândula, que na verdade, é bem rara
que chama consciência,
aquela que nos atormenta pelas noites.
Acho que o exercício de solidariedade,
quando se pratica de verdade, no dia a dia,
é também um exercício de humildade
que ensina você a se reconhecer nos outros
e a reconhecer a grandeza escondida nas coisas pequeninas.
O que implica denunciar a falsa grandeza nas coisas ‘grandiosas’. "
- Eduardo Galeano-
Tenho uma leve impressão que a vida é mais do que um ou vários Carnavais, embora esta manifestação socio cultural seja necessária para criar aquele estado de liminiaridade onde as estrutura sociais são postas de pernas para o ar, as classes sociais por momentos suspendem e brincar de ser o outro que também somos nós possibilita-nos sair do racional, do instituido como politicamente correto.
Estou a aproveitar estes meses que antecedem a histeria da campanha eleitoral no Brasil, onde por vezes parece que transita entre o Caranaval e a torcida de futebol para me expressar. Desculpem-me a franqueza, mas já passo a explicá-la. Essa da torcida de futebol pode ser comum não só aqui no Brasil, mas aqui é uma loucura. Famílias inteirinhas podem virar hooligans umas das outras. É que não é uma nem duas famílias. Várias! Que fenómeno! Há quatro anos atrás eu só me perguntava se essas pessoas entre si algumas vez tinham se conhecido e conversado. A tia velhinha doce e queridinha revelou-se uma apoiante dum genocida, aquele irmão descolado confirmou o seu reacionarismo, a sobrinha que pinta o cabelo de azul e que agora ao entrar na universidade, depois de ter estuda só por apostila, descobriu que existe uma sujeito ou mais sujeitos barbudos e choca a família gritando que o amor da vida dela é o Che Guevera. Enfim.
Ontem ocorreu-me que alguns, agora que se aproximam as eleições, começam a vestir aqueles casacos verde ou marrom tipo Che, deixam o cabelo e a barba crescer e começam a falar nas mesas de bar sobre comunismo.... Parece até brincadeira, provocação de criança... Mas depois fico na dúvida se não é um carnaval levado a sério. Pega-se numas frases de efeito, numas posturas físicas e exemplos de ações sociais que assugurem minimamente a dignidade d@s cidadãos e fala-se que é comunismo sem muita base de conhecimento. Desculpem a sinceridade, mas exercer o exercicio de cidadania não é só colocar uma cruzinha e auto etiquetar-se disto ou aquilo. É SER-SE SOLIDÁRI@ EFETIVAMENTE. Esse é o grande desafio, tantas vezes esquecido nesta lógica neo liberal de cada um por si, do salve-se quem puder, das parcerias sejam profissionais ou amorosas na lógica " o que EU vou beneficiatr com isso" ao invés de " no que é que eu POSSO beneficiar o outro, o coletivo para junt@s desfrutarmos dessa rede de apoio".
O neo liberalismo é um sistema cínico que nos dá a ilusão de liberdade e livre arbítrio, não significa que não tenhamos poder de manobra. Teremos de olhar para essa lógica e ir desfazendo nós. Um dos principais nós é o patriarcado que vem muito antes do capitalismo. Agora vou escrever uma frase de efeito: " Se queres ver o mundo mudar começa por respeitar as mulheres, e não lhes roubares protagonismo, lugar de cidadania sejam estas amarelas, verdes, marrons, brancas, vermelhas nascidas nas Caraíbas, no ABC Paulista, em Andaluzia, no Alentejo, da floresta ou da cidade, filhas de Zé Ninguém ou Zé Alguém. Se queres ser revolucionário não queiras colecionar mulheres. Foca-te em ti e em alguém que faça sentido e sê solidário. Isso já é bastante revolucionário." Acho que agora fui um tanto ou quanto demasiado didática, pedagógica demais, mais às vezes é preciso porque a solidarierdade mesmo assim é mais que uma conversa de rede social ou de bar.
Esta sou eu num Carnaval vestida com roupas tipicas do meu país, do pescoço para baixo roupa típica da ilha da Madeira, terra do futebolista Cristiano Ronaldo, e um lenço talvez minhoto. Mascarando-me de portuguesa típica mas mais ou menos. Ihihih. Caminho com a bela bota ortopédica, que felizmente me desenvencilhei depois, com a minha sombra ao lado. Poderia legendar a foto: ' A terra é de quem trabalha", mas prefiro " A terra é de quem se trabalha".
E assim vai a vida sem medo de vivê-la, um passo a seguir ao outro na esperança de encontros leves, profundos e duradouros dispensando aqueles "ebas ebas" éfemeros que tanto acontecem no Carnaval, para tudo voltar à mesmice de sempre onde a cultura do medo existe como mecanismo de control e servir sempre ou quase sempre os mesmos.
A Piu
Brasil, 03/07/2022
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