quinta-feira, 21 de julho de 2022

FUNDA MENTAL


Se não fosse trágico seria mais cómico. Esta frase saiu-me há pouco tempo. Talvez haja quem a já tenha dito. Claro! Porque haveria de ter a pretensão de querer dar uma de geniaaaaleee? Eu não nasci duma lamparina para ser génia e sim da barriga da minha mãe, como a maioria de nós. - Ao que consta já andam por aí robôs réplicas humanas , mas isso é outra história. A partir do momento que sabemos que somos todos igauis e todos diferentes acredito que o salto do gato pode ser dum virtuosismo humano ao alcance de tod@s.

Certa vez perguntaram ao José Saramago como podem os homens sem Deus serem bons, ao que o Zé do Nobel comuna até ao fim respondeu: " Como podem homens sem Deus serem tão maus?" Aqui temos uma pergunta cristã com uma resposta cristã. Essa de bons para um lado e maus para outro é cristão. O bem e o mal, o certo e o errado separados. Isso não é cristão? Não será redutor falar assim de Deus? Existem tantas formas das pessoas se conectarem com o divino, tantas cosmovisões que ultrapassam as instituições religiosas. Não serão as pessoas livres de acreditarem no que querem se isso faz sentido para elas, para a sua vida, trazendo beneficios a quem as rodeia? O mesmo acontece a quem não acredita numa energia superior, que não é necessariamente um senhor austero com barba e cabelo comprido grisalho. Essa imagem de Deus é duma cultura judaico cristã. E o mundo é tão grande, pá!

Eu tenho amigos ateus, agnósticos, espiritualizados, crentes, de religiões de matriz afro, etc etc. Somos amigas porque nos respeitamos. Para mim é quase inviável ser amiga dum fanático ( seja religioso ou politico). Um fundamentalista normalmente não escuta e tenta enfiar as suas verdades aos outros goela abaixo. Também não dou mais cinco a pessoas que escarnecem da fé dos outros. Isso é desrespeito. Uma coisa é rirmos do que nos oprime outra coisa é oprimir com o nosso riso. Olha outra frase de efeito geeeeniiiaaaaleee! ;)

Como já tinha escritoantes,  aqui sou eu nos primórdios das teatrices. Recordo que teatrices não é o mesmo que teatrinhos. " Ai! Como vão os teus teatrinhos?" perguntou certa vez uma dançarina conhecida minha. Fiquei tão sem graça que nem respondi de volta: " E as tuas dancinhas?" Mas no hospital como palhaça (profissional) alguém que fazia publicidade médica falou:" Ah! Um dia quando tiver tempo eu vou fazer o que você faz, vou ser palhaça." Aí como estava em estado de abertura de improvisação respondi: 'Boa! Eu também quando tiver tempo vou fazer o que você faz!"

Aqui estou eu numa sessão de fotos para o meu book. Quem se lembraria de não se maquiar e calçar umas botas de trabalho alentejanas? Só a Piu! Nã! Eu sei que existem mais da minha laia. Talvez não sejamos é o perfil exato para as novelas. Mas também não é a praia que eu alguma vez tenha sonhado mergulhar. Teatro sim! Cinema sim! Novela há quem defenda melhor aqueles roteiros e aquela linguagem. Aqui eu já tinha apresentado com os meus colegas de curso de atores em Lisboa " Os Possessos" do Dostoievski. Até para França fomos apresentar. Aqui a suburbana de Lisboa com costela alentejana saiu pela primeira vez da Peninsula Ibérica aos 18 anos. Ficamos parados umas horas nas estradas de França por conta duma greve de camioneiros ( em Portugal diz-se camionistas, mas vai que ainda alguém lê comunistas...). Ficamos chateados de estarmos parados horas ao calor de Verão mas deu para perceber a força duma mobilização. 

Adorei interpretar a Maria Lebjadkin, a doidinha do enredo, como adorei conhecer o escritor russo da época do Czar que foi preso e levado para a Sibéria. Inicialmente ele era socialista e depois do exilio de trabalhos forçados converteu-se ao cristianismo ortodoxo. Tanto o Fernando Pessoa como o Dostoievski  não considero referência obrigatória para pensar e agir no contexto socio politico atual. Se me falarem em Brecht aí sim! Esse alemão do século XX que teve à perna o Nazismo continua atual, mesm que haja uma coisa aqui e ali datada. Porém, por estar nesse grande continente americano, penso que é muito mais interessante  conhecer pessoas daqui ou de África que pensam, escrevem , manifestam-se artisticamente e que se mobilizam socialmente. Sair um pouco das mesmas referências europeias é decolonizar o pensamento e a ação. Não é que estas referências não sejam importantes, mas o mundo é muito maior do que o homem branco dos séculos passados. Isto para mim, naturalmente, sem fundamentalismos, sem tentar convencer ninguém de nada de nada de nadinha. Isso é funda mental!

A Piu

Br, 21/07/2022

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