quinta-feira, 7 de julho de 2022

SEMPRE HÃO-DE NASCER MARGARIDAS NO JARDIN


Poderia dizer que a Margarida Tengarrinha, hoje com 94 anos super estilosos e lúcidos. é uma ancestral minha. Não sei se ela concordará como comunista, muito provavelmente ateia. Sendo que a ancestralidade é a herança do espirito que passa para outro ser vivente. Considero-a minha ancestral pela sua resistência e ativismo anti fascista. Artista, visual, escritora, professora e revolucionária passou à clandestinidade em 1955 com o seu marido e pai das suas filhas, José Dias Coelho. É ela e o marido trabalham na parte gráfica do jornal comunista " Avante" e na falsificação de documentos para os clandestinos do partido. A 19 de Dezembro de 1961, José Dias Coelho é preso e assassinado à queima roupa pela PIDE (Policia Internacional de Defesa do Estado). Margarida nunca foi presa e abre fuga para Moscovo e depois para Bucareste. Em Moscovo trabalha com o Secretário Geral do PCP, colaborando na redação do seu livro de 300 páginas Rumo à Vitória – As tarefas do Partido na Revolução Democrática e Nacional. Concluída esta tarefa parte para Bucareste na Roménia, onde é editora da Rádio Portugal Livre,transmitida clandestinamente em Portugal.
Em 1968 Margarida volta a Portugal, regressando à clandestinidade. Em 1972 organiza uma manifestação no Porto contra a Guerra Colonial, da qual se estima que terão participado 40.000 pessoas. Aqui temos um dado que eu desconhecia e passo a retificar no meu trabalho de final de curso em Muñecoterapia em que escrevo que o anti colonialismo não era pauta obrigatória dos partidos de oposição, no caso do partido comunista. Mas essa preocupação de pôr fim À guerra em África é posterior. Segundo o músico de intervenção José Mário Branco, que foi desertor da guerra, nos anos 60 o partido comunista defendia que os soldados comunistas fossem para a guerra para fazerem propaganda politica. Um paradoxo que o próprio Zé Mária aponta. Ele não queria matar ninguém nem ser moto. Naturalmente óbvio.
Escutar uma entrevista com Margarida agora aos 94 anos é delicioso. A sua lucidez e a sua memória de factos é de tirar o chapéu. Um dia ou dois após a revolução em 74 ela fala para pescadores, estivadores e operários num coreto no norte de Portugal. Depois de muito se enaltecer, o Movimento das Forças Armadas que deu o golpe militar mais a liberdade e os cravos de Abril ela toma a palavra. E essa senhora com os seus 44 anos dirige-se aos trabalhadores parabenizando as suas mobilizações e greves em 1972, durante vários dias, uma delas de 72 dias onde muitos foram presos mas mesmo assim conquistaram alguns direitos. Lembra assim que a resistência não foi só dos partidos ou dos capitães de Abril, foi também dos trabalhadores que se organizaram com todas as adversidades dum regime fascista.
O entrevistador pergunta se em 74 havia a eminência de se instalar uma ditadura comunista. ela responde que infelizmente não. AÍ EU DISCORDO. EU QUERO VIVER EM DEMOCRACIA. FASCISMO E DITADURA NUNCA MAIS. Ela e os seus camaradas que são de um outro tempo terão as suas razões e os seus dogmas. Mas há uma pulga atrás da minha orelha e que não há maneira de sair: a Margarida, o Cunhal e tantos outros concordavam com as atrocidades do stalinismo ou por serem estrangeiros só lhes era mostrado o que convinha? Mas depois da queda do muro de Berlim a informação vazou. Já não havia propaganda que escapasse a esse regime assassino. Agora gerações mais novas, que não passaram por toda essas lutas e não abrem mão um dedinho que seja dos seus dogmas com toda a História e informação que está aí é que é estranho. É como defender o Sendero Luminoso no Peru, que em nome da revolução popular mal tratou, torturou, estorpou e matou camponeses e indigenas. Sinto muito, e por ser de esquerda não assino em baixo e denuncio. Não dá para aceitar o inaceitável.
Pensei em fazer uma banquinha perto da ciclovia da universidade aqui próxima e vender barbas postiças com umas boinas pretas com cabelo postiço, como aquelas do Bob Marley que se vendem com rastas de lã, mais uns pedaços de muro grafitados que dou uma marretada para ficarem em pedaços e vender como sendo os restos do muro de Berlim. Mas como tenho dúvidas se a piada iria ser entendida e bem aceite ou se eu não me iria meter numa grande cilada com os alunos e professores com quem me cruzo há anos e nem " Bom dia! nem Boa tarde" porque o olhar periférico fica restringido aos seus afazeres. É melhor deixar quieto! É melhor rir aqui dentro desta contextualização conjectural.
Porém, contudo, todavia: AVANTE EM TIRAR COISO DO TRONO!
Ê boilá!
A Piu
Br, 07/07/2022

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