quinta-feira, 28 de julho de 2022

A IMPORTÂNCIA DO OLHAR PARA O LADO E PARA DENTRO

 " Aí vim pra cá porque há mais segurança. A pessoa pode atravessar a rua olhando para o celular que não acontece nada. " Está segunda frase nunca ouvi, embora seja frequente ver isso mesmo no Brasil. Mas não deixa de ser "cômico". A pessoa por se sentir segura causa um acidente no tráfego.

Já a primeira frase é mais que frequente escutar, mesmo de pessoas queridas. Pronto, aí os entrefolhos das entranhas reviram-se. Não será essa frase elitista, segregadora, discriminatória em relação a uma população que vive em condições muitas vezes degradantes por falta de saneamento básico, além de terem o acesso restringido a educação com qualidade, embora hajam muitos bons professores na rede pública mas eles não fazem milagres?
A desigualdade social é uma violência. A segregação é uma violência que gera reações em quem atingido por ser constantemente invisibilizado, silenciado, muitas vezes sem perspectivas de sair duma condição que gira em torno dum círculo vicioso. Por outro lado o porte de armas é transversal às classes sociais. Há uma naturalidade em se dizer que o pai, o tio, o irmão ( o cachorro não, mas existem uns que são treinados para atacar) andam armados com o discurso de legítima defesa.
Não será além de elitista, de gosto duvidoso, falar que vai para Portugal das Europas porque é muito mais segura e ainda se deslumbra com os policiais portugueses que mostram ser muito mais bonzinhos (... 😛 ) que os brasileiros. Eh pá! Aí os entrefolhos das viscerais dobram-se todos tornando-se um origami escanifobetico.
É claro que em Portugal não se assalta a mão armada e não se tira a vida duma pessoa como quem bebe um copo de água. Como o cidadão comum não anda armado, embora há quem ande mas não diz com a naturalidade com que se diz aqui. Todavia, nos entretantos, sustos, furtos, assaltos e mais sustos existem em qualquer parte do mundo. Portugal pode aparentar ser de brandos costumes, mas as aparências iludem. Já a violência policial existe, principalmente com cunho racista. Quando a informação vaza vira um escândalo nacional, mas nem por isso ela cessa. Só é camuflada.
Há um tempos escutei um podcast sobre a violência policial na Cova da Moura ( subúrbio lisboeta com população afro descendente). É revoltante. Ia escrever constrangedor e vergonhoso mas é mais que isso. Revoltante.
Portanto, escutar pessoas que sei que são sensíveis e inteligentes e sabem o que é a criminalização de não brancos e de pessoas com baixa renda dizerem que se sentem mais seguras em Portugal ou na Europa... É uma atitude assimilada, assimila as relações poder inconscientemente subscrevendo o classismo sem se dar conta e até afirmar que é ativista e que o pedagogo brasileiro Paulo Freire é o seu carro chefe. O Freire é inspiradoramente atual, voltar a ele e às nossas raízes é não nos deslumbrarmos com as aparências e ficar do lado dos mais vulneráveis e resilientes. Não esquecer dos outros quando nos bem sucedemos temporariamente ou para sempre. Se é que existe o para sempre, porque a vida também dá as suas voltas e tem as suas ironias.
Resumindo e concluindo: não largar a mão de ninguém ao invés de bater palmas para violências camufladas de ordem social.
A Piu
Br, 26/ 07/ 2022







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