quinta-feira, 28 de julho de 2022

A LÍNGUA TERRA DA ANITA


 As primeiras noticias que me chegaram da Inglaterra foi lá por volta do final dos anos 70 inicio de 80. Em  criança eu chamava de Lingua Terra imaginando uma enorme lingua tipo Rolling Stones a lamber a terra. Coisas de criança que a Anita não esquece e até mantém o espírito, embora dispense infantilizações de terceiros. Quem gosta de ser infantilizado? Cri cri cri. Não esquecer a nossa ludicidade e espontaneidade é uma coisa que faz manter a chama da alegria de brincar até com coisas sérias de forma consciente, outra coisa é infantilizarmo-nos ou nos infantilizarem que é o mesmo que nos diminuirem duma forma fofusca, que é a simbiose entre fofura e ofusca,

Em criança os meus pais assistiam à série cómica " The Goodies", uma variante dos Monthy Phythons. Por vezes eles riam,mas como eu não entendia a piada tampouco sabia inglês nem ler legendas tentava na mesma rir para não ficar de fora, além e gostar de rir junto porque o riso é contagioso. Quando a comicidade era física aí ria com gosto.

Depois lá por 1981/82 deliciava-me com a série do adolescente " Adrian Mole aos 13 anos e 1/2.", aquele que media o pénis,que na sua terra significa centavo ( talvez trocadilho não tenha graça para vós outros, mas agora parei para rir...).

Esta foto, que inicialmente era um slide convertido para pen ( outra vez?) drive foi tirada em 1981 em Londres por um parente que de vez em quando ia em trabalho à capital da Língua Terra, em pleno governo da Dama de Ferro, a Margarida do Tacho. Em casa ouvia com entusiasmo as histórias londrinas, que pessoas falavam em praça pública na via pública e no Hyde Park sobre assuntos politicos e sociais e as pessoas paravam para escutar e interceder. Eu sempre imaginava que viver em Londres deveria ser muito emocionante. Até na rua as pessoas caminhavam a comer sem parar! Que incrível! Já não falando do Museu de História Natural com enormes dinossauros a sério, mas só esqueleto reconstituido! Isso para mim era o máximo dos máximos. Sonhava também em andar nos autocarros/ ônibus  vermelhos de dois andares, embora também circulasem uns desses em Lisboa. Só que verdes ou laranjas.

A primeira vez que fui a Londres eu tinha 23 anos. Atravessei o canal da mancha de comboio/trem. Senti uma claustofobia ligeira com ideia de estar debaixo do rio, mas lá fui eu e voltei. Ía visitar uma escola conceituada de teatro físico, palhaçaria e bufonaria do Phillipe Gaulier. Antes de encontrar o Phillipe parei para beber um café perto do rio Tamisa. " Please, I would like a coffee!", peço com o meu sotaque. O empregado ou dono do café perguntou de onde eu era. " Ah! Portuguesa! Eu também sou português! Você veio cá para trabalhar?", " Não, para estudar com uma bolsa se a conseguir.", respondi. " Se quiseres podes conhecer a comunidade portuguesa onde vivo e rápido consegues um trabalho em hoteis a fazer camas e a limpar quartos." Agradeci a dica, não lhe respondi abertamente que eu não encarnei para ser criadinha como a minha avó foi, por não ter opção, e que é também por ela, pela minha mãe e todas as mulheres que vieram antes de mim que vou trabalhar naquilo que gosto, faz sentido para mim e que traga beneficios ao coletivo.

Escrever também é um oficio como muitas escritoras anglo saxónicas que vieram das ex colónias britânicas em África para Londres para serem escritores. Delas falarei posteriormente como mulheres inspiradoras que me abriram horizontes e desconstruiram a perfeição de Londres, porque afinal não existem lugares perfeitos e sim lugares em que nos sentimos bem ou não. Há quem ache que morar no Brasil é besteira... Eu não sinto assim, todos os dias sem excepção aprendo e inspiro-me com esta rica diversidade que é a cultura brasileira, embora alguns brasileiros não valorizem porque estão de olhos postos nos EUA ou na Europa. Nada contra, mas o yankicentrismo ou eurocentrismo é uma apenas uma perspectiva que eu considero estreita. Isto para mim, claro!

A Piu

Brasil, 28/07/2022

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