segunda-feira, 18 de julho de 2022

VIVER DE AR TE

 





Eu arto-me, tu artes-te, ele arte-se, nós artamo-nos, vós artai-vos, eles artam-se.
'Vocesses' acreditam que demorei DEZ ANOS para encaixar duas peçinhas de puzzle, quebra cabeça? É verdade! É a mais pura verdade! Depois veio aquela dialética pessoana: " Primeiro estranhas depois entranhas."
No meu caso, não sei como é no vosso, entranhar, naturalizar narrativas oficiais não é lá bem o caminho que opto por trilhar. Esse caminho normalmente é feito somente a partir de um ou dois pontos de vista muito idênticos para servir um mesmo propósito, o de sempre: manter o poder hegemónico que no caso é o neo liberal, cuja lógica é a do lucro com poucos ou nenhuns vinculos empregaticios para a grande maioria e onde os seus direitos não são lá muito contemplados. Onde há narrativa oficial não há solidariedae. Ou há? Se um artista profissional , por exemplo, não enxerga o outro artista como profissional e ainda tenta competir para salvaguardar o seu lugarzinho ao sol, o seu prestigio consolidado em algum privilégio que muitos não teem.... Eh pá! Vou ali já volto.
Há dez anos ACHAVA EU, ACHAVA, repito que pelo menos as pessoas brasileiras que defendiam os direitos dos trabalhadores estavam a par minimamente do que se passava em Portugal no que diz respeito à precariedade no trabalho e aos impostos e descontos que são feitos para a segurança social e no caso dos artistas, como eu, assim como outras profissões que passam nota fiscal/ recibo verde como prestadores de serviços não temos direito a quase nada: aposentadoria esquece, subsidio de desemprego esquece, licença de maternidade com vencimento vai dar uma volta. São esses "detalhes" que aquel@ artista brasileir@ que até está bem posicionado no mercado de trabalho e vai para a rua em passeata tocar pandeiro e tambor contra o golpe diz a uma mulher trabalhadora, mãe solo, artista porque eu não volto para Portugal pois lá posso viver das ajudas do Estado (?!?). Primeiro, mandar alguém de volta para a sua terra além de deselegante e insensivel é a perda duma oportunidade de se silenciar pois a sua opinião não foi solicitada. Segundo, já que não se solidariza nem ajuda guarde a sua opinião para o churrasco de amigos enquanto escutam podcast acerca das conjecturas internacionais, pois estas estão intimimamente ligadas ao seu próprio país. Terceiro o que me motiva a estar no Brasil muito provavelmente não combina com a motivação dequem quer morar em Portugal. Não é melhor nem pior é diferente. Mas há uma diferença marcante eu admiro a diversidade neste grande território e os povos que neste habitam. Não sei se isso se passa com os brasileiros que vão para Portugal, já que muitos sentem na pele que não são bem vindos. Não ser berm vindo é lixado. Eu também já vivi isso aqui em alguns momentos, embora haja quem se ache que é muito acolhedor. No entanto agradeço do fundo do coração a quem me acolheu e tem acolhido.
Em seis ou sete anos as cidades portugueses tornaram-se parques temáticos onde é o turismo a fonte de rendimento, o Estado Português abre as portas e as pernas para os milionários, sejam brasileiros ou não, para investirem em imóveis a troco de beneficios fiscais e cidadadania portuguesa Quanto aos prestadores de serviços na área do turismo a exploração é assombrosa, enquanto milhares de portugueses qualificados que emigraram nos últimos 15 anos não voltam nem pensam em voltar, porque já sabem o que a casa gasta. Do meu lado não faço questão nenhuma de visitar, por enquanto, o meu Portugal com manadas e manadas de turistas de lá para cá, de ricaços a comprarem tudo onde outrora era para todos enquanto esboço aquele sorriso cinico diante do deslumbre dos visitantes e migrantes do fenómeno de gentrificação. As cidades portuguesas são bonitas? São. Ficaram de cara lavada? Sim. Só é pena que se tornaram uma imitação delas próprias para atrair consumidores. investidores e prestadores de serviço descartáveis. Tem coisas boas? Claro! Há que aproveitá-las, mas com consciência do nosso lugar e do lugar dos outros sem suposições e ideias distorcidas.
Espero que aqui no Brasil nas próximas eleições o Coiso caia, mas também espero, se é que é pedir muito, que quando se fala "ninguém larga a mão de ninguém" há que se estar ciente que primeiro precisamos de dar as mãos. Se não é Carnaval, é brincar à solidariedade, é fazer de conta que caminhamos em direção à união. Pelo menos é assim que eu vejo e sinto.
A Piu
Brasil, 18/07/2022

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