Os estudos pós coloniais analisam as marcas deixadas tanto nos países colonizados como colonizadores. Marcas esses no campo da politica, sua organização, na arte, na literatura e na filosofia. Esses campos são acessíveis a todos sem (pseudo) erudições, quando a democracia é plena contemplando tod@s os cidadãos no exercício dos seus direitos e deveres onde a igualdade de oportunidades é horizontal e a meritocracia não cabe.
Para quem me lê pela primeira vez eu sou de Lisboa, Portugal e nasci seis meses antes da revolução dos cravos, aquela que pôs fim a 48 anos de fascismo, 12 anos de guerra com países africanos e 500 de colonialismo. Sou da primeira geração pós colonial, Naturalmente que não posso fasquiar as mentalidades e suas práticas à luz dos meus princípios, referências e vínculos interpessoais. Se o fizer, corro o risco de deslocar o queixo e cair para trás interruptamente. Embora não dá para evitar aquela surpresa estonteante de saber que existem conterrâneos que ao chegar em países que foram colónias muito recentemente ainda acharem que são os patrões, os manda chuva, os chapeuzinhos de caqui que vão ensinar aos desgovernados e preguiçosos o que é trabalhar... Ainda existem pessoas que cresceram depois de 1974 com essa mentalidade !!!! Outras que não se vão armar aos cucos para outros continentes mantem-se no seu país fazendo dos monumentos históricos rotas turísticas de narrativa saudosista.... E alguns oriundos dos territórios ex colonizados ainda acham lindo e tiram muitas fotografias, enquanto comem um doce com o nome dum Infante ou duma Rainha Santa e bebem um vinho com um rótulo cheio da caravelas. No entanto, fica uma coisa um tanto bizarra que transita entre o deslumbre e o desdém pelos portugueses, promovidos pela forma como a História é dada na escola onde a história indígena e africana contada pelos descendentes desses povos é omitida.
Enquanto na Alemanha a memória do Holocausto está bastante presente, embora não se fale tanto de outras vitimas além dos judeus, em Portugal esse processo de honestidade em refletir e rever todos os pensamentos, sentimentos e práticas em relação a povos que foram subjugados e escravizado ainda não se deu realmente. Porém, existem pessoas que já estão nesse processo anti colonial e anti imperialista, mesmo antes da descolonização. Ouvirmos e conhecermos todos os lados que não são nem nunca foram homogéneos é no mínimo honesto para se sair do engodo da ignorância e preconceito. Sim, a Europa é eurocêntrica - até é uma redundância dizer isso- muitos adoram o exotismo e outros, muitos outros também, prestam-se a serem realmente humanistas. E são-no de verdade. Sabem que a oligarquia do seu povo colonizou e agora estão a fazer o processo ao contrário de reescrever a História e não esquecer que o seu povo não é só feito de carrascos, mas também de resistentes, solidários e re existentes. Sabem quem são e não veem com o papo furado de inverter papeis, de colonizadores para colonizados, como alguns, por exemplo no Brasil adoram fazer para não se responsabilizarem pelo seu lugar de privilégio num dos países mais desiguais do mundo.
No entanto, com as novas tecnologias e acesso à informação, que possamos olhar uns e umas para os outres como se dum irmão se tratasse, mesmo quando faz cagada inúmeras vezes nós estamos lá para olhar olho no olho, abraçar e também colocar limites e auto observarmos-|nos para não reproduzir o que está enraizado no inconsciente coletivo ( racismo, machismo, sexismo, classismo, juizos de valor precipitados etc etc). Não me refiro aquela irmandade forçada do "ai é só amor!'. Não, nem sempre é só amor mas não podemos abrir mão da amorosidade e do destemor de amor a partir do coração e não de ideias utilitaristas para beneficio individualista.
Vitória a quem se presta a (se) escutar, (se) auto observar e a se rever
A Piu
Campinas SP 01. 03.2021
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