Existem muitos muros e véus que nos separam e nos unem. Nem todos os muros e véus são ruins, como nem todas as sombras são tóxicas. Quem não gosta da sombra fresca duma árvore no meio do deserto ou duma longa extensão de terra árida? Muitos de nós outros nunca atravessou um deserto de areia, mas acredito que muitos dos outros nós que somos nós outros já atravessamos desertos interiores e, lá está, como cantava o Zeca Afonso " Há quem viva sem dar por nada e há quem morra sem tal saber". Esta frase pode ter muitos e inúmeros sentidos. Mas pensemos, por ora, nos muros internos que temos e se os queremos derrubar ou mantê-los, por uma questão de existência e também sobrevivência.Muitas vezes passamos uma vida inteirinha sem os reconhecer, logo não os podemos derrubar ou cuidar deles adequadamente.
Existiu o muro de Berlim, a muralha da China. Muros para proteger territórios, ideologias, poderes e outros apegos internos coletivos que se manifestam na matéria, no dia a dia, na convivência. Também existe o muro das lamentações, os muros das nossas casas ( os muros internos já falei que são as crenças limitantes ou o conhecimento dos nossos limites e que limites queremos colocar a nós e aos demais), e os muros que se atravessam entre mim e ti, entre nós e os outros. Muros esses invisíveis, porque não são feitos nem de tijolos nem de cimento. São muros de ideias pré concebidas, de desconfiança, daquela intriguinha tipo: 'Ouvi dizer que esta pessoa fez isto e aquilo... Não a conheço. Nunca falei com ela, mas ouvi dizer....' Ou: 'Será que esta pessoa, este ser humano, dum determinado género, nacionalidade ou região, de esta ou daquela pigmentação, que segue uma ideologia ou ou crença religiosa que eu estranho ou não me identifico é igual à outra pessoa com a quem tive uma experiência menos sortuda, digamos assim? Será que aquela família é toda igual ou aquele povo é todo igual? ) Generalizar é o muro mais alto que nós podemos colocar entre nós, mas algumas vezes os gatos escaldados da água tem medo.
Vou confessar aqui entre nós, e espero queridos homens que acolham pela via do coração: Eu já tive muita, mas muita desconfiança de homens brasileiros, porque a minha experiência nem sempre foi fixe bacana e infelizmente é recorrente com outras mulheres ( brasileiras ou não)... Não significa que não existam homens brasileiros como homens de outras nacionalidades cinco estrelas. Mas não podemos esquecer que este território, continente, foi colonizado pelo meu povo ( português) e não só à custa de invasões, estupros e outras cosas más. Eu sei, querido leitor brasileiro, português, espanhol, holandês, inglês, francês, alemão você está disposto a olhar convictamente para todo esse histórico ancestral, a olhar para os ismos estruturais que nos atravessam e a reconhecer que todes nós precisamos de nos curarmos emocionalmente, De abrir mão das mutilações, sejam estas genitais ou de liberdade de expressão. De abrir mão do síndrome da gostozice que não é a mesma coisa que flertar com leveza, com alegria de brincar e trocar de igual para igual o prazer de estar junto sem abusos de confiança. O síndrome da gostozice é como ir num supermercado cheio de oferta e ficar de cabeça virada quem vai comer hoje e como eu vou colocar à prova o poder de sedução em várias frentes para depois dar uma de santidade comprometida. Qual foi a mulher, e também outros géneros, que nunca viveu um episódio desses? Na verdade o outro ou nós não queremos nada é só testar se somos desejades ou se temos poder de sedução. Para mim isso é desonesto. Como nem toda a aproximação significa flertar...Termos amigos com genitais diferentes dos nossos e orientações sexuais outras é saudável. Pelo menos para mim, sem impor nada a ninguém
Quando nos comprometemos a nos auto observar no silêncio, a prestar atenção nas nossas batidas cardíacas muitos véus se esvoaçam. Vamos nos despedindo das nossas certezas e vamos abrindo mão de olhar para os feitios e defeitos alheios porque há muito trabalho a fazer cá dentro.
Ai! Eu gostaria de ter escrito sobre um amor telepático, talvez uma idealização ou até mesmo (re) encontros de outras vidas ( quem conhece todos os mistérios da vida? Se conhecêssemos deixariam de ser mistérios e talvez não fizesse sentido encarnarmos... Já saberíamos tudo e seria um grande tédio num mar de convicções ) que surge dum alto muro de equívocos e eu pedalo quase até levantar voo. Mas como acredito que nada acontece por acaso, vamos ver no que é que dá. Como esse muro invisível se dilui com uma grande chuva de água despoluída, visto que agora com a diminuição do tráfego motorizado o ar anda um pouco mais leve e o céu mais azul.
A Piu
Campinas SP 30/03/2021
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