:' Quem não tem colírio usa óculos escuros/ Minha vó já me dizia pra eu sair sem me molhar/ Quem não tem colírio usa óculos escuros/ Mas a chuva é minha amiga e eu não vou me resfriar/ Quem não tem colírio usa óculos escuros/ A serpente tá na terra e o programa está no ar (...) Solta a serpente/ Hare Krishna, Hare Krishna '
- Raul Seixas -
Colírio é um remedinho da medicina convencional ocidental para aliviar irritações e outras maleitas no globo ocular, lubrificando-o.
Avó é a mãe do pai ou da mãe ou uma mãe adotiva que muitas vezes, antes de sairmos de casa diz assim: " Agasalha-te bem e juizinho!!! "
Já a serpente em muitos significados. Pode ser vista como a energia da criação que vem do chackra base. Quando bloqueada por motivos vários, normalmente sociais, culturais logo psicológicas, o ser vivente deambula pelo mundo como uma imitação de si mesmo, vibrando na culpa, vergonha e medo. Vibrações marafadas. Solta a serpente!!!
Hare Krishna é uma religião hinduísta que rompe com o sistema de castas indianas. Normalmente encontramos essas pessoas vestidas com longas túnicas laranja, sem cabelo, entoando mantras que almejam o auto conhecimento e a realização pessoal. Em algumas cidades eles servem comida, muito boa para quem gosta, gratuitamente.
Raul Seixas era um rockeiro brasileiro que transita entre a porra louquice e o transcendental. Não é propriamente um defensor das causas da condição feminina, ela até tinha umas saídas um pouco equivocadas em relação à liberdade e ao relacionamento a manter com as mulheres, mas ao que consta não era má pessoa. Uma boa pessoa, mas mais ou menos. Como todos nós. Ser boa pessoa é uma prática. Ninguém nasce boa pessoa, mas pode ir praticando ao longo da vida e colocar umas lentes, tanto redondas, como retilíneas ou simplesmente lubrificar os globos oculares para não se apegar uma só narrativa e sim olhar e escutar de vários prismas.
Quando, por exemplo, batemos na mesma tecla de colocar um fim às relações abusivas precisamos de olhar para dentro, não partir de pressupostos e preconceitos e sim afinar o entendimento da responsabilidade de todas as partes. Saber o que nos pertence e o que não nos pertence.
Se por exemplo, o sonho duma mulher é casar-se com um homem rico que a sustente, de preferência dum país dito de primeiro mundo para que este saia da sua condição de pobreza ou porque essa é uma fantasia que tem do que é ter status não dá para julgar, fazer juízos de valor. Por vezes, a mulher pode chegar à conclusão que arrumou uma grande cilada para ela e que realmente não é isso que a faz feliz. Outras vezes acomoda-se a essa situação por conveniência. Ninguém tem o direito de julgar as escolhas alheias, mesmo quando não são emancipatórias. Nós não estamos dentro da cabeça e do coração das outras pessoas. E cuidar da nossa vida já é um grande empreendimento. Quanto muito dar o toque, se a pessoa estiver a fim. Escrevo isto, com o maior carinho que nutro pelas mulheres, sejam estas de que nacionalidade forem. Sabermos sim que podemos ser vitimas de situações que não escolhemos, como das que escolhemos e sair da vitimização para o empoderamento da autonomia: sabermos quem somos e para onde escolhemos caminhar, mesmo quando o caminho não é a direito. E quem anda à chuva molha-se, mas depois secamos-nos para mantermos a sudinha saltintante e alegre. Como deve ser. A isso chama-se: viver.
A Piu
Campinas SP 17/03/2021
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