sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

RES PEITA


 

Existem muitas. inúmeras, incontáveis e infinitas formas de peitarmos o que já deu, mas ainda se dá. Embora com esperança do mais profundo do nosso ser cá de dentro escondidinho que nem sempre se vê a olho nu, que deixe de se dar e ocorrer.

 O olho nu é assim como quem passa de relance de bicicleta por outro ciclista com a sua máscara anti corona que cantarola: 'Ouvi dizer que você gosta de cilada". Talvez tenha dito salada.... Vai que... Aquele cabelito não é estranho, lembra um sujeito até simpático conhecido de vista da época que saímos à rua para o convívio. Bom, deve ser uma música lá dele para ele. O mundo não gira em torno do nosso umbigo e se por algum motivo aquilo que ouvimos nos faz parar e pensar se também nos pertence já agradecemos namasteticamente - agradecer é libertador e muito estético - termos escutado um cantarolar que nos serve ou não como um agasalho que encolheu na máquina de lavar e agora prende-nos os movimentos. 

Ninguém traz uma bula na testa ou até mesmo no bolso da sua aparente nudez nos íntimos da intimidade. Quem gosta de ciladas? Há gostos para tudo. Para saladas naturais, naturebas, cheias "da" molho  como as do Porco Toneladas que só comia saladas bem temperadas e bem regadas. Sim, essa era uma música que eu escutava na minha infância dum tal José Barata Moura. Na infância nunca conheci a Xuxa mas delirava com o Barata Moura. Um homem barbudo que cantava músicas democráticas para as crianças portuguesas, tinha as suas convicções ideológicas  radicais num país que aprendia os primeiros passos do que é viver em democracia e suposta liberdade de expressão e escolha,  mais tarde virou reitor da universidade de Coimbra, uma das universidades mais antigas da Europa Ocidental com todos os contornos tradicionalistas, logo conservadores, que uma universidade ainda perpetua. Dessa universidade faz ou fazia também parte o sociólogo Boaventura Sousa Santos que fez trabalho de campo no Brasil e participou do Fórum Social em Portalegre. Aqui temos dois exemplos, poderia dar mais, de dois homens portugueses, igualmente académicos ( isso não os faz mais que ninguém mas dá aquele respiro num meio tão rígido e em muitos casos patriarcal, onde o homem branco hetero com oportunidade de ascender no status social está se pouco borrifando para os demais na prática, embora na teoria possa tecer conjecturas, conceitos, dissertações sobre a justiça social e todas as dinâmicas subjacentes latentes adjacentes. Em uma palavra com o seu sinónimo: oportunismo - apropriação do conhecimento para o seu beneficio individual.) Conhecer Portugal e os portugueses é também conhecer as suas lutas anti fascistas. Eu substituiria também por principalmente, mas como democrática nada imponho.... Portugal não é feito só de malvados colonos. Vamos combinar.... É um país canininho, um tanto provinciano, com a mania das grandezas, mas tem gente muito cinco estrelas. Xim? :)

As mulheres, tenham estas filh@s ou não, quando decidem viver num outro país já teceram uma trajetória mesmo que aparentemente estejam a começar do zero. Logo. uma mulher seja esta brasileira. portuguesa ou de outra nacionalidade qualquer pode já ter vivido, visto, estudado, trabalhado em lugares que a pessoa que por achar que está no seu território, com se dum jogo de futebol se tratasse, acha que essa pessoa emigrante, no caso mulher, não é nada ou é muito pouco. Ai o provincianismo que pode residir também em capitais e cidades centralizadas! Uma mulher por ser mulher já é vista por alguns como uma cilada quando ela simplesmente está a viver a sua vida e acarretar com as suas escolhas. Logo uma mulher estrangeira, mãe ou não, que escolhe viver a sua vida sabendo que não é a perfeita e correta o tempo todo mas não vislumbrou ciladas para a sua vida e sim trocas, sejam estas ao nível privado como público, pessoal como profissional, quando se vê numa cilada tanto com alguém que desconhece, que acabou de conhecer ou até mesmo com um ex companheiro pai das suas crias precisa de PEITAR AINDA MAIS A  VIDA com olho vivo e pé ligeiro. Por isso é que eu pedalo desde os meus 8 anos. Cai, levanta, desbrava caminhos, vai ter a lugares desconhecidos e pedala. Porque pedalar relembra-nos o nosso equilíbrio. "Sai uma salada de vida vivida aqui para mim de mim e de quem curte saladas e não ciladas, embora muitas vezes elas venham sem que a gente peça. Daí RE PEITA e torna a pedalar até à próxima salada compartilhada de boinha."


A Piu, uma portuguesa no Brasil

Campinas SP 24/02/2021 texto dedicado ao projeto da Carol Bampa, uma brasileira em Portugal,  @respeita.pt


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