domingo, 14 de março de 2021

REINAR COM A CRIANÇA QUE FOMOS NÃO TE DÁ O DIREITO DE NOS INFANTILIZAR


A mulher, menina, moça, mulher, anciã, jovem, donzela anciã, mulher menina desceu uma, duas, três mil vezes a rua. Quase que nem precisava de pedalar. O vento morno bate no rosto. Coloca um sutiã para se conectar com os pleiades e outros seres estrelares. Talvez a reconheçam como uma das suas naquele sutiã tamanho G que guarda duas maçãs. As maçãs da abundância, onde há nutrição para todes, onde o pecado já nem mora ao lado porque foi-se como as mentes moralistas e logo emporcalhadas com cor de mofo evaporam-se, transmutando-se alquímicamente em riso e brincadeira inocente e sabedoria.
Agora os campos marrom porque secos não eram mais mediterrânicos, onde ruinas dum império romano passara e essa mulher, menina, moça, mulher, ancião, jovem, donzela anciã, mulher menina imaginava histórias seculares e até milenares de cavaleiros e batalhas onde o rio da Boiça dividia e aproximava inimigos.
Agora os campos são tropicais, abrilhantados por folhas de bananeira. Entre o extenso campo de futebol muito mas muito maior que aquele existia na praceta onde brincava na infância, e que depois foi ocupado por uma pesada casa sem verde à volta.
Junto do campo de dimensões tropicais, ao qual no bairro se chama de campinho (?1) há uma ruina de tijolo. E a donzela mulher roda, roda e roda como fazia em criança com a sensação de levantar voo com a sua saia.
Atrás duma árvore oferece uma das duas maçãs. Sim, viver, compartilhar, criarmos vínculos profundos de inocência, sabedoria, conhecimento, brincadeira e compromisso com a alegria que vem de dentro não é pecado nem nunca foi. Por isso, as mulheres vão, voltam, morrem e renascem das cinzas de phénix para relembrar que algumas parem filhos e que cuidarão destes e os sustentarão ( respeita as mães! As trabalhadoras e as donas de casa e também domesticadas ou selvagens!!!), parem obras, sejam estas de artísticas ou humanitárias, cientificas.
Por isso, caro homem que por ora chamarei de Chico Paco - que era uma música do grupo espanhol infantil La Pandilha dos idos 70's que contava a história dum ladrão de galinhas - respeita as minas, as manas, os manos, as monas e as monas lisas que afinal não são assim tão lisas e lineares e sim tridimensionais e dinâmicas e vivem do seu trabalho como você, Chico Paco. Se o senhor Chico Paco vive de rendimentos, excelente para você. Proponho que partilhe com os seus próximos ou com boas causas de cidadania. Que os privilégios de uns sirvam para serem compartilhados para ver se saímos do engodo da desigualdade social.
Já os seres estrelares são um acaso ainda a conectar melhor, é uma questão da afinar as antenas e detectar luz mesmo na noite mais escura.
A mulher, menina, moça, mulher, anciã, jovem, donzela anciã, mulher menina é uma contadora de histórias que procura na simplicidade, deixando a sofisticação tecnológica e conceptual para quem melhor sabe fazer porque é uma escolha válida à qual se dedicaram.
A menina mulher, anciã, donzela anciã é uma mulher que ingenuamente já caiu numa ou outra cilada de histórias para boi dormir, pois muitas vezes, se não sempre, projetamos as nossas boas ou más intenções, amorosidades e inseguranças. E estamos aqui para nos avisar umas aos outres como firmarmos no queé essencial com os sentidos bem abertos, embora algumas vezes possamos nos enganar etambém falhar. Somos humanes. Chicos Pacos deste mundo e arredores: cada um e cada uma tem os seus perrengues para cuidar, as suas frustações, dores, perdas e lutos. Logo, não fazer das minas, manas e manos o aterro do lixo emocional altamente tóxico é no mínimo decente e ético. Normalmente um abusador, mesmo que psicológico sem nunca ter tocado um dedo, em algum momento faz-se de coitadinho e inverte os papeis e em muitos casos nem se digna a assumir os seus assédios morais consecutivos tampouco pede perdão.... No final das contas o pedir perdão é de menos. Fica a pergunta no ar: E a consciência? Dorme tranquila todas as noites ou sofre de insónia, procurando argumentações racionalistas onde o coração é esquecido?
A Piu
Campinas SP 14/03/2021

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