quarta-feira, 3 de março de 2021

NOVAS FORMAS DE NOS ENCONTRARMOS DE CORPO E ALMA - 2

 


Sim, eu sou europeia. É uma facto e contra factos não há argumentos. Isso não me faz mais nem melhor, menos ou pior daqueles que não são... Não é uma vergonha nem uma virtude. É um facto e um fato. Facto porque eu falo com "c", como na minha terra natal e fato que é sinónimo de paletó. Falo sinónimo e não sinônimo. Ambos estão correctos e corretos. Já fui actriz e hoje apresento-me com atriz, porque de facto não falo actriz. Já subtil falo, logo não escrevo sutil. Isso não me faz mais nem menos que os demais não europeus ou descentes das Europas. Sim, das Europas. A Europa é um continente vastíssimo. A ocidental  é tipo uma terra rala a adornar mares e oceano. Mas a Europa do Leste!!!! Xina man" Só a Rússia! Mon dieu!!! A Europa não cabe em Paris, embora muitos e muitas artistas, intelectuais e tais e tais tenham feito de Paris no final do século  XIX, inicio do XX um verdadeiro lugar pulsante de criação. Um fascínio internacional por Paris alastrou-se pelos quatro cantos do mundo para deleite do projeto colonialista francês, que inclui e promove outras cultiras mas a sua lingua e o seu selo devem ser venerados. Tem o seu lado positivo, mas não deixa de ser um projeto colonizador. Isso ainda é outro texto. As peças do dramaturgo russo Tchecov mostram esse deslumbr ao limite provinciano pela cidade das luzes. 

Já o Brecht, dramaturgo e poeta alemão, chega para rebentar. 
Brecht acerta contas com a literatura  estabelecida, diz o narrador do documentário de Joachim Lang sobre a vida de Brecht. Este é provocativo e até mesmo assertivo: " Masturbar-se, tudo bem. Trepar com parisienses, tudo bem. Mas estas pessoas masturbam-se com parisienses?!?!.... " Esta citação no Brasil ainda hoje assenta que nem um fato, ai um paletó. Ihihih

Como actriz e atriz, naturalmente (?)  estudei todos esses autores europeus visto ter nascido, crescido e estudado na tal dessa Europa, de Portugal à Dinamarca, passando pela Holanda e a tal da Paris da França. Também não me faz mais nem melhor que alguém que está no México, na Índia, Porto Rico. Também sou do  tempo que se  estudou com muitas bolsas de estudo da tal da União Europeia que se uniu por interesses económicos neo liberais e que teve os seus efeitos colaterais mas também teve coisas fenomenais como por exemplo.... estudar com  bolsas de estudo. Bolsa de estudo deveria ser algo acessível a todos os cidadãos e não é desprestígio, como já ouvi por estas bandas... Enfim... Depois daquele fatídico final de 2018 já pouco ou nada surpreende e o melhor é não levar tão a sério as liberdades de expressão e suas opiniões com base em muita desinformação e insensibilidade cidadã. Por isso é que o movimento negro e indígena no Brasil tem que lembrar e relembrar que cota não é esmola. 

Eu gosto, admiro, inspiro-me muito na produção artística e literária europeia, como naquela que se produz no Brasil, e outros países deste imenso continente. Também adoro as escritoras da imensa África e o que se faz no Japão no último século é incrível. Nem por isso me faz eurocêntrica ou apropriadora de outras culturas e conhecimentos. 

Bem sei que o processo histórico nos últimos 500 anos em outros continentes colonizados teve como pauta o euro centrismo, não contemplando outros olhares, vozes e práticas. Mas como já estamos em pleno século XXI acredito que as narrativas rançosas de deslumbre e desdém pela Europa se evaporem para que diálogos e práticas emocionalmente mais sustentáveis aconteçam. 

 Esta  imagem é do movimento alemão Bauhaus, que emergiu nos anos vinte de século passado e que foi extinto com a ascensão do III Reich, nazismo. Mas a criatividade, os encontros criativos, divertidos, leves e profundos sempre renascem das cinzas. Só os autoritarismos e seus defensores é que não curtem rir e se divertir, assim como criar e dar espaço a outras criatividades que não as suas. Mesmo em tempos sombrios, sendo perseguido e ficando sobre escuta pelos vários países onde viveu e se exilou,  consta que Brecht era um sujeito divertido e brincalhão, rindo-se das opiniões oficializadas. Um sujeito do seu tempo que acreditava no coletivo sem nunca perder esse olhar afinado de não esquecer que é um individuo com vida própria, logo com sentido critico. 

A Piu Campinas SP 03/03/2021



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