sábado, 2 de outubro de 2021

QUAL É A GRAÇA?- o lado b do Canadá

 


Olhem, antes de tudo e do mais eu não compactuo com mentirinhas envernizadas. Aqui do meu blog e das restantes redes sociais eu escrevo para o mundo, para quem me conhece pessoalmente e para quem nunca me viu nem mais gorda nem mais magra. Mas para quem me conhece pessoalmente e me enxerga saberá que eu não sou menina mulher de bajular, nem faço questão nenhuma de ser bajulada. Sou da pré história dos seguidores e nunca tive muito jeito para colecionar pessoas que dizem amém para tudo o que eu sou, digo, faço, escrevo. Toca Raú: " Prefiro ser essa metamorfose ambulante." 

Eu já estive diante de grandes sumidades internacionais do meio teatral, tendo a oportunidade de estudar com estes com bolsas de estudo. Aqui vão dois, só para dar o exemplo: Jacques Lecoq e Eugenio Barba. Admiro as suas propostas de trabalho, respeito mas nunca os chamei de mestres. Não é rebeldia, é simplesmente porque eu não venho da cultura de chamar mestres aos meus professores, que são muitos e vários. Logo, são todos mestres e não é nenhum. Aqui no Brasil é outra história. As pessoas chamam quem as iniciou de mestres e também, em alguns casos se auto intitulam de mestres ou ficam ali numa disputa de poder entre outros mestres e seus pupilos. Essa não é a minha história e simplesmente observo sem entrar em cena desse roteiro que não me diz respeito.

Há uns meses atrás numa dessas lives da vida num evento de palhaçaria feminina uma sumidade feminina do Canadá respondeu a uma das palhaças brasileiras que a questão de género não era tema, tampouco preocupação na dramaturgia da palhaçaria no seu país. Ela é uma pessoa muito respeitada qui no Brasil. Acredito que desenvolva um trabalho incrivel. Nunca tive oportunidade de participar dum processo artistico com ela. Não sei se ela já esteve no SESC para que a participação seja democrática. Sei que as suas oficinas teem um custo que não é para todes. Ok. Não vou entrar por aí. Vou entrar sim pela situação desta ter dado essa resposta num encontro que reune muitas mulherese palhaças não só do Brasil inteiro como de várias partes do mundo. Sinceramente senti que a resposta foi arrogante, pois esta respondia que o Canadá não sofria desse problema como o Brasil, que ser palhaça e  palhaço era igual, as questãos dramaturgicas eram as mesmas. Na hora os meus botões acionaram do outro do zoom: " Será? ". No dia seguinte coloquei essa questão numa das reuniões desse encontro, salvaguardando que não era nada pessoal contra a senhora canadense branca que nem a conheço pessoalmente. Eu conheço a Dinamarca, mas não conheço o Canadá. Ambos os países parecem identicos na impecabilidade duma sociedade igualitária, sendo que o território em que o Canadá se encontra é colonizado. Fui procurar saber mais informações sobre o dito modelo de sociedade e encontrei esta matéria, entre muitas outras sobre o genocidio das mulheres indígenas do Canadá até aos dias de hoje. Respondeu em parte ao meu "será?", como também confirmou que bajular sumidades e não questinar é ser conivente com a omissão, com os lugares de previlégio e que cai mal, segundo algumas cordialidades, questionar. Assim sendo, no caso, a cordialidade só atrapalha e reforça a  hipocrisia de estarmos todas unidas com muito amor e sororidade. 

Para mim a arte da palhaçaria é para abanar as estruturas e não reproduzir mais do mesmo que são as hierarquias vãs, as bajulações, os status quos que só umas tantas sumidades beneficiam invisibilizando aqueles que há muito são invisiveis e silenciados.

A Piu

Campinas SP 02/10/2021

fonte: https://ofri.com.br/o-genocidio-contra-mulheres-indigenas-no-canada/

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