Aquele ano de 2012 foi muito mas muito doido. Como se tivesse entrado num túnel ora luminoso cheio de esperança, ora escuro e húmido com uma série de partida e chegadas, chegadas e partidas. E baldes de água fria, Sim, o meio académico é em muitos casos hostil, um antro de vaidades onde para uns se valorizareprecisam de humilhar os outros. Algo doentio que precisa de ser falado para mudar.
Em Fevereiro desse ano chegava ao Brasil. Pleno Carnaval e no auge da narrativa que o Brasil era um país emergente, economicamente falando, ao passo que o sul da Europa definhava e continuava a definhar e aqui parecia que ninguém sabia de nada. Só algo muito superficial e recorrente entre várias camadas sociais, tipo: " É... lá tá feio. Mas o dinheiro fez-se para gastar e bora gastar". Sempre houve uma alegria oba oba que até hoje eu tento entender. Vou continuar a ler Darcy Ribeiro e Eduardo Galeano, mas em doses homeopáticas para não ficar demasiado para baixo.
Naquele dia 21 de outubro de 2012 eu fiquei muito, mas muito para baixo mesmo. Eram 18.30 do horário de Brasilia quando recebi a noticia do falecimento do Zé, o sujeito que se encontra ao meu lado com a guitarra em mãos. Naquele preciso momento percebi o quanto eu nutria um profundo carinho e amizade por esse ser humano que era o Zé. Chorei vários dias. Uma semana talvez ou mais ou quando me lembrava dele. Como eu enxergo o Zé, palhaço Côcô e também Dr. Cinho do Céu nas visitas hospitalares é o de um sujeito que foi ao fundo do poço, fez as escolhas mais erradas porque nocivas para ele e ergueu-se, com a ajuda da arte da palhaçaria, segundo ele. Não era um sujeito fácil, como ninguém é, mas foi dando o seu melhor e levando alegria ao seu público, criando boas amizades e deixando boas recordações, apesar dum passado sombrio. Para mim esse exemplo de força de fazer diferente é imensamente belo porque humano. Fiquei sem chão com a sua partida, assim como fiquei sem chão com a partida de mais duas colegas desta equipe: a Bia, mentora do projeto de visita de palhaç@s ao hospital, e a Maria que escolheu pôr termo à sua vida. Com a Maria a terra desabou sobre mim... Era o ano de 2015. Durante anos, até hoje pergunto-me qual o sentido que faz levarmos alegria aos outros se não cuidamos de nós mesmos e daqueles com quem nos relacionamos.
Como diz o Claramunt, professor nosso de palhaço hospitalar: "Melhor palhaço, melhor pessoa." Acredito que esse lema adequa-se a qualquer um de nós independentemente do oficio, da profissão.
Criar vinculos afetivos com base na sinceridade e honestidade dispensando suposições e desconsiderações dá saúde e faz crescer por dentro.
A Piu
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