terça-feira, 26 de outubro de 2021

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - I

Hoje vou escrever sobre Portugal e Brasil, esses trânsitos, encontros, desencontros, solidariedades, liberdades, aprisionamentos, equivocos e breves elucidações. Vou dar continuidade ao texto anterior, não sei se conseguirei chegar até à parte da questão do que é privilégio e oportunidade. Mas bora lá!
Aviso já que escrevo em escrita fluida, o que sair é porque a alma precisava de falar. Não aquela alma chorona cheia de ais e uis que se não for batizada não vai para o céu. Embora esta foto é tirada no dia do batizado do meu irmão que está no colo da minha avó alentejana, ao lado do seu marido ( alentejano) pai da minha mãe e tia, e que não encontra impedimento algum de fumar em lugar fechado, na frente duma criança e duma mesa com comida. Outros tempos! Bem ditas varandas, quintais e esplanadas!
Esta foto é de 1972. Acho... Ou 71? Por aí. Eu ainda não tinha nascido, mas estava quase a dar à costa. Não sei se o meu primo João ainda estava em Angola com os seus pais, pois o seu pai fora convocado para ir até lá na sequência da guerra com as colónias, que para os países africanos era a guerra pela independencia. Devo já dizer que o meu tio fazia a parte logistica do batalhão, nunca matou ninguém, ao passo que a minha tia foi alfabetizadora e conta histórias dela de anti racismo, de defender os seus alunos negros por igualdade de trato sendo ameaçada de ser afastada do ensino. E vai saber se não poderia sofrer outras sequelas. Foi avisada para baixar a bola, ponto final parágrafo. Então, com esta informação já vemos que a História compõe-se de pessoas e estas também são seres pensantes com sentimento que fogem à linearidade da narrativa linear e oficial. Então, bora combinar de olhar para as pessoas como seres humanos e não catalogá-las pela nacionalidade e proferir um discurso de preconceito e ao limite de ódio, mesmo aquelas que se misturam com cordialidade dando um mix de falsidade e escárnio. - ufa! É insuportável a falsidade!. Tá bem! Tá bem! Eu responsabilizo-me em meditar... - MAS, XÔ! ESTE CORPO NÃO TE PERTENCE! Não estou a brincar! Existem narrativas e sentimentos que se apoderam de nós. Do nosso corpo e alma. Limpa. Limpa. Bane essa onda, essa má energia.
O mais impressinante nesta foto é que o meu primo João, filho desses pais que no pós 25 de Abril de 74 assumiram-se como comunistas mesmo com as contradições da vida, da existência e do sistema neo liberal. O João É IGUAL AO NOSSO AVÔ MÁRIO!!! Só agora percebi ao aumentar a foto. Vamos honrar então esses nossos avós que recordam as nossas origens de pessoas simples e trabalhadoras.
Ah! Eu queria falar das detenções do "nosso" querido Sérgio Godinho em terras brasileiras, em 1971 e 82, cujo motivo foi ele fazer parte da trupe teatral Living Theatre! Sim, todos eles foram presos por fazerem um teatro considerado subversivo, contestatário. Só que o que constou no processo é que eles eram maconheiros. Um clássico. Foram torturados, jovens kamaradas brasileiros em vias de conhercer a resistência portuguesa e internacional. Antes de enfiar o dedo na cara dos " estrangeiros", principalmente dos portugueses que defenderam e defendem a justiça e iguladade, e levantar bandeiras como se fosse um eterno carnaval sem conteudo. O Carnaval serve também para contestar, para zombar do poder vigente. Não são só mamas e bundas para satisfazer a lógica patriarcal, do lucro, da vantagem e do privilégio. Bora escutar os sujeitos históricos e estudar história de várias fontes. Vamu ki vamu. O google está aí para googlar.
Como as redes sociais estão cheias de informação e ir partilhando pequenos ensaios de escrita em doses curtas não dispersa tanto, na próxima continuarei com a minha experiência com os Living Theatre em 1994 no Alentejo, berço dos meus avós maternos, da minha mãe e a da tia quea acima citei.
Até ao próximo texto! Tudo uma questão de markerting já dizia o mê primo, o sô dotô kamarada João Micas.
Ah! A mim também me batizaram aos 8 meses. Como umas teatreiras portuguesas dizem: " As boas meninas vão para o céu, as outras vão para toda a parte." E ir para toda a parte não significa ser fácil ou subjugarmos-nos às ilusões do instante e sim estarmos conscientes das nossas escolhas. Isso para mim, claro. FILHA DA DEMOCRACIA! FASCISMO NUNCA MAIS!
A Piu
BR, 26/10/2021

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