Em 1979 foi proclamado nas Nações Unidas o ano Internacional da Criança. Nesse ano eu ingressava na escola para aprender a ler e a escrever. Um direito que cobria, supostamente, todas as meninas e meninos da minha idade. No país onde nasci e cresci a liberdade de expressão tornou-se um direito conquistado 6 meses depois de eu ter chegado ao mundo. Durante a infância e a adolescência achei, repito ACHEI, que todas as pessoas no mundo tinham o direito à liberdade de expressão com base no conhecimento e não no achismo. Porém, fui entendendo que não era bem assim e que eu própria tinha os meus achismos e com toda a certeza ainda tenho. Achar que o que é evidente para mim é evidente para os demais. Isso é um achismo. Em criança não me ocorria que em Portugal, o meu país natal, ainda havia trabalho infantil e quando ia a inspecção geral do trabalho os patrões das fábricas escondiam as crianças. Mas depois isso passou a ser noticia nacional. Também achava e acho que o que está diante dos olhos das pessoas é tão evidente que não deveria haver espaço para o individualismo agregado à má intenção, maquiada de: " Ai eu não sabia! Eu não percebi!", assim como quando alguém fala algo nós escutarmos ao invés de reagirmos com a nossa criança ferida, o nosso ego, o nosso orgulho magoado.
O que aquele sujeito lia, entendia, compreendia quando vasculhava a intimidade de uma mulher que nem pessoalmente conhecia e se achava no direito de hackear as contas internauticas da mesma? Será que ele realmente lia, Já que vasculhava? Ou a sua obcessão era encontrrar algo hilário, pornográfico como a sua própria intenção? Como este se relacionaria com as pessoas, homens e mulheres, com quem convivIa no presencial? Ao mesmo tempo que dava uma de impostor anos a fio mesmo quando a careca da sua cabeleira farta tinha sido descoberta o sujeito era um tanto ingénuo. Teria consciência que existiriam uns impostores ainda mais da pesada do que ele, num país como o Brasil onde existem mais privilégios que oportunidades, e que caso insistisse poderia levar um susto? Como um teórico filosófico antropofrágico que come saladas e hamburgueres de soja talvez achasse que uma mulher era para comer mesmo e que passar a perna a todes, nomeadamente aos irmãos, e ainda passar por fofinho seria e será um privilégio de sabichão.
Ainda permanecia a esperança de termos a oportunidade de nos olharmos nos olhos uns dos outros, com a vantagem da máscara destacar o olhar. e rirmos juntos como um mantra " Eu perdoo-te, tu perdoas-me por qualquer indisposição e mal entendido, assim como abuso de confiança. Eu liberto-me. Eu liberto-te. Tu libertas-te. Tu libertas-me."
A paisagem na foto é beirã, da região das Beiras em Portugal. Não tem nada de glamour para mim. Aliás, deve ter acontecido algo lá muito muito atrás em gerações passadas ou em vidas passadas, para quem acreditar com fundamento nisso, que me faz faltar o ar e uma imensa melancolia instalar-se em mim. Eu identifico-me com o sul, Alentejo, assim como com a grande Lisboa e igualmente não enxergo esssa identificação nem com glamour tampouco com vergonha das minhas raízes. Como diz José Saramago, prémio nobel da literatura, são as pessoas do povo porque é de lá que eu vim que me representam.
A memória daquela mocinha brasileira que foi estudar para uma cidade que eu estudei há trinta naos atrás volta a assaltar-me, de vez em quando acordo sobressaltada com essa memória duma mulher que por impulso e achismo desconsidera outra mulher sem a conhecer pessoalmente pela sua nacionalidade, cor e lugar onde mora atualmente. Tampouco conhece a história de vida da familia e de outros portugueses que lutaram e lutam pela sua diginidade com o seu trabalho sem explorar ninguém e na pior das hipóteses são explorados. Desconsiderando que muitos sofreram consequências fatais por serem anti fascistas, mesmo quando lhe é inforamado letra por letra. Ela representa uma mentalidade de alguns seres viventes de origens mescladas que não honram a ancestralidade europeia do povão embora queiram muito conhecer e estra na " Europa", sabendo lá o que isso dignifica para quem desconhece o dia a dia dos trabalhadores portuguesers.
Ter a oportunidade de estudar não deveria ser um privilégio e sim uma oportunidade de nos transcerndermos.Assim seja, assim é.
Paro. Olho para a minha paisagem interior e repito: " " Eu perdoo-te, tu perdoas-me por qualquer indisposição e mal entendido, assim como abuso de confiança. Eu liberto-me. Eu liberto-te. Tu libertas-te. Tu libertas-me." Rir e brincar junto dá saúde e faz crescer, combinando que tu não pisas nos meus calos nem eu nos teus. Gratiluz, Gratigrati. Gratinados.
A Piu
Br, 24/10/2021
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