sexta-feira, 13 de março de 2020

RICOFOBIA

Bem sabemos que o Brasil é dos países mais desigualitários do planeta. É um facto. Para mim, desde a primeira vez que pisei neste território em 1996 até à atualidade ainda é um quebra cabeças entender em que classe social eu me insiro neste contexto brasileiro. Aí sim sinto-me uma perfeita estrangeira. E também admito aqui publicamente que tenho "sérias" dificuldades em entender os privilegiados,  deste país, principalmente os que defendem justiça e igualdade e/ou praticam  um trabalho de iluminação interior, mas muitas vezes na prática eu tenho dificuldade em enxergar o que todas essas ideias e entendimentos que partem do auto conhecimento dialogam efetivamente com o bem estar do coletivo. Em termos de ação. Sim, eu fui entendendo aos poucos que eu tinha, talvez ainda tenha, um certo preconceito com seres humanos com um poder aquisitivo acima dos demais. Admito que para mim o caminho empático não é evidente sobre aqueles que podem mas não compartilham ou acham que a fome, o desemprego, as necessidades básicas são construções mentais que as pessoas devem superar. E isto dito com argumentos espirituais. Daí eu faço exercício de agradecer aquela oportunidade de me silenciar para não dar um berro, sim porque dar um berro para alguns é como se fosse um soco. Então é sinceramente bom esta prática de escutar relaxadamente e  não ser responsiva. Ufa! Que desafio! Por vezes levanto-me e saio, porque ainda não tenho estrutura interna para segurar a onda.

Porém, entre ontem e hoje já escutei aqui e ali um mesmo discurso que não é nem preciso abrir o jornal, seguir o noticiário para entender que é um discurso vendido e comprado. " Corona virus é doença de rico." Chiça! Pode ser até um certo ponto, mas eu conheço muita gente que viaja em trabalho, em estudo ou porque surge oportunidades para fazê-lo sem ser necessariamente rico. Essa afirmação o que significa? Onde quer chegar passando a linha das mesquinhez? Sim, nem toda a gente no Brasil tem a oportunidade de viajar para fora do país, mas o que é que isso interessa agora para o momento do pânico instalado? Eu conheço pessoas que trabalham em companhias aéreas na Europa. Nunca lhes contei o dinheiro para saber se são ricas. Se forem ÓTIMO lembrem-se que aqui da artista de variedades e apoiem o seu trabalho que é viajar pelo mundo e nem por isso é rica e tenta levar a sua a arte a todas as camadas sociais, muitas vezes oferecendo-o. Por outro lado sei que por exemplo um profesor universitário no Brasil é rico e em Portugal não o é. Também não é nenhum pobrezinnho, mas não é rico e previligiado como no Brasil. O mesmo se passa com a classe artistica entre os dois países, por exemplo. Nem dá para comparar. São realidades distintas.

Enfim, esta conversa do corona vírus virou uma histeria que não deve ser descuidada, mas parece aquelas neuroses coletivas com apontamentos de adrenalina opinativa superficial. E eu que sei? Mas estou a fim de conhecer mais ricos generosos e cabeça que tenham consciência do coletivo. Essa dos ricos pagarem a crise também tem muito que se lhe diga. A crise é criada pelos ricos, para os favorecer. Mas ainda acredito em ricos benfeitores . Gostaria de conhece-los para fazermos uma parceria para chegar aqueles que precisam que o capital seja distribuído, dando a oportunidade de dignificar as pessoas sem assistencialismo. Talvez a maior febre é seguir lugares comuns,alimentar aversões ao invés de procurar modos de dar o nosso melhor em vez de julgar e escarnecer do que conhecemos ou achamos que conhecemos por alto. Enfim, espero que este pânico mundial passe logo e seja uma oportunidade de nos recolhermos para meditar sobre o sentido da vida.


A Piu
Campinas SP 13/03/2020
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O mesmo transporte, mas com pequenas diferenças.


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O amor não se compra nem se paga,mas se ele der sem segundas intenções nós depois distribuímos, aplicamos em trabalhos em prole do coletivo.

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