quinta-feira, 19 de março de 2020

A DIFERENÇA ENTRE SOLIDÃO E SOLITUDE

Angela Silvatti - Giló
Na página ' Quebrando o tabu' a Dra Anahy faz em breves minutos  algumas considerações sobre a diferença entre solidão e solitude. Ela inicia a sua fala afirmando que o  machismo está no sangue de todo o mundo. Principalmente quando se diz que a mulher merece estar com alguém melhor. Então, ela enfatiza que NÓS, MULHERES, TEMOS CAPACIDADE PARA FICARMOS SOZINHAS!. Depois continua alertando que o homem abusador vende a imagem do protetor, dizendo por exemplo:" Filha, eu te dou tudo! Não precisa de trabalhar!"  Finalizando a sua fala Anahy diz: " Nós não precisamos de proteção e sim respeito. A mulher tem o direito de ser o que ela quer. Ser independente. Quanto mais independente e autónoma mais a possibilidade de encontrar alguém bacana. Se a mulher não não consegue viver sozinha não vai conseguir viver com ninguém. Quando sabemos  viver sozinhas nós não pomos a nossa vida na mão de ninguém."


Bom... Não sei se é uma embirração linguística, mas chamar uma mulher conhecida ou desconhecida de "filha" já me dá aquela tremedeira que vai dos ombros, passando pelo queixo, ziguezagueando a coluna até ao cortex. Eu sou filha da minha mãe e do meu pai e também penso que não é nada de mais ser tratada pelo pai e pela mãe sem aquele paternalismo como se nunca passássemos dos 5 anos e quatro meses e dois dias e meio de idade.  O termo" filha" já soa a uma desconsideração da outra pessoa. Esse termo e outro que eu já escutei dum ex parceiro de trabalho referindo-se ao meu desempenho profissional que mesmo assim já tem mais de duas décadas: " Ela é esforçada."  Demorei algum tempo a entender... Esforçada quer dizer que ainda não atingimos o status quo, se é que alguma vez vamos atingir? Esforçada significa que todos os nossos anos de trabalho, de estudo, de experiência profissional são ignorados quando por algum motivo migramos para um outro lugar e parecemos que estamos a começar totalmente do zero por isso somos esforçadas e quem nos apelida assim está nos a fazer o favor de nos acolher mas lembrando sempre que estamos abaixo na pirâmide de gênero e de reconhecimento social?

Fiquemos atentas a quem se auto denomina protetor. Normalmente essa postura está dentro da lógica do medo. Cria-se o medo para depois subjugar-se. O protetor acaba por ser a fonte em si de perigo. Devemos nos sim proteger-nos desse tipo de relações. Sejam afetivas, de amor e/ou amizade, sejam profissionais.

Uma coisa é sentirmos-nos cuidadas e nesse cuidado haver reciprocidade sem um olhar utilitarista. Eu cuido de mim, da outra pessoa, da nossa relação. Outra coisa é confundir proteção com controlo e subjugação. A outra pessoa está lá, assim como nós, de uma forma solidária, ombro a ombro. Alguém que não entende isso, ou seja não entende o que e companheirismo vê o oUtro ser como uma propriedade, um brinquedinho para satisfazer os seus desejos mais básicos. Nós queremos isso para nós? Sermos bonequinhas e bonequinhos uns dos outros ou almejamos ser gente que ama, que ri e chora junto, que não faz da outra pessoa um paliativo para as suas carências e perversidades. Sermos gente de verdade é auto conhecermos-nos, e fazer de tudo para nos colocarmos à disposição duma relação na nossa melhor versão. É fácil? Ninguém disse que era fácil. Dá trabalho, mas evita ciladas, furadas.

Como tal, o que a Anahy chama a atenção é para sermos inteiras para nos relacionarmos com inteireza, plenitude. Essa da laranja metade é falácia! Nós somos uma laranja inteira e a outra pessoa é uma laranja inteira que quando estamos a fim de caminhar juntas em sintonia ajustamos-nos- Quanto tempo uma metade dum laranja rola? Ah pois, pois é!

A Piu
Campinas SP 19/03/2020

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