45 ANOS DEPOIS DA INDEPENDÊNCIA - série 'Era mais foice'

Kalaf Epalanga

45 ANOS DEPOIS DA INDEPENDÊNCIA - série 'Era mais foice'

" O trabalho nas obras era duro, era mal pago, e na primeira oportunidade que tive, por não suportar mais a humilhação infligida por um mestre de obras analfabeto e racista, troquei-o pela cozinha dum restaurante num centro comercial. Carregar baldes de cimento para cima de um andaime e fritar frango teriyaki por menos de quatro euros à hora deu-me uma perspectiva real sobre a Europa. A forma como os imigrantes africanos foram acolhidos e integrados nessa sociedade faz ainda com que me questione sobre até ponto Portugal se reconciliou com o seu passado colonial."

Epalanga, Kalaf " Também os brancos sabem dançar, romance musical", Todavia SP: 2017.

O dia já vai longo e ainda vai continuar, mas prometo escrever um texto sobre aquela clássica pergunta que me fazem: " Porque é que está aqui? Porque vive no Brasil? " Escreverei com certeza acerca da minha grande admiração e carinho por este imenso território com uma diversidade de gentes que me inspiram. Entretanto dedico o trecho acima a todos os amigos e ex companheiro africanos que conheci em Lisboa: Bruno, Cláudio, Chamine e Naiabingue. Como também dedico ( com alguma ironia bufónica a alguns brasileiros deslumbrados, não todos claro!, por um Portugal atual que não sei de onde tiraram que "é bom demais!". Com isto não quero dizer que seja ruim, porém o que Kalaf escreve desconstroi algumas ideias, principalmente pede respeito aos brancos sejam estes portugueses em especifico, europeus no geral e brasileiros brancos que não sabem o que é subir a um andaime mesmo com estudos superiores e/ou com outras valências mais qualificadas do que serem desrespeitados e explorados.
Mas até ao próximo texto quis meuzolhos já estão quadrados de tanto ficar na frente do teclado a lutar pelo sustento e autonomia financeira.

Beijinhooooooos :) <3

A Piu
Campinas SP 04/03/2020