terça-feira, 31 de março de 2020

A RESPONSABILIDADE DE ESTAR DE BEM COM A VIDA É UM ATO POLÍTICO

Vamos partir do principio de quando se escolhe trazer um filho ou uma filha ao mundo @ mesm@ é desejad@. Seria uma redundância se assim fosse. Porém, na hora da verdade, do vamos ver, das noites mal dormidas, das economias apertadas, da rotina alterada, dos projetos ou alterados, adiados e mesmo cancelados porque agora existe um serzinho que depende de nós a coisa pia de outra maneira. Ninguém nasce ensinado. Ninguém nasce já educado ou a saber educar. Ao assumir isso também acolhemos que não somos perfeitos e isso é perfeito! Não ser perfeito não é o mesmo que ser negligente e ao limite não saber se retirar a tempo, pois não está dando conta do recado e torna-se traumatizante ter que lidar com um progenitor, seja mãe ou pai ou outro adulto que supostamente deveria cuidar, que não tem preparo para o empreendimento e começa a infernizar a vida de quem cuida e por consequência da criança que acabou de chegar ao mundo. Nem sei se esse adulto despreparado tem a noção real dos danos morais que isso causa a curto, médio e longo prazo.

Bem sabemos que existem muitos casos de abandono, principalmente por parte do pais. Não significa que não existam mães que não abandonem, mas o número é menor e não é naturalizado como com os pais. Existem mil e um motivos para as pessoas abandonarem. Talvez elas estejam a repetir um padrão de abandono que elas próprias vivenciaram na sua infância ou afinal a sua maturidade para assumir responsabilidades ainda estava um pouco para o verde. Penso que é muito mais honesto assumir a incapacidade e retirar-se do que atrapalhar e ao limite infernizar, projetando os seus medos, raivinhas e outras negatividades em quem cuida e na criança. 

Por vezes essa situação não acontece nem uma, nem duas, nem três vezes. Existem pessoas que espalham filhos pelo mundo, não se responsabilizam e ainda são capazes de surgir da penumbra, da neblina volvidos mãos cheias de anos na intenção de intimidar, distorcendo factos, de se vitimizarem e por aí vai. E isto com vários núcleos familiares que a pessoa criou. Deve ser muito cansativo viver assim e criar vínculos que não são vínculos e sim um estorvo. Que a se pessoa encontre a si mesma, que se abrace, que se cuide, que se ame. Nunca é tarde. 

Como rir disto? Como criar um espetáculo de palhaçaria feminina sobre esta temática vivida na primeira pessoa do singular e do plural? Uma das nossas premissas com a criação deste espetáculo é criar uma narrativa com a leveza que a linguagem de palhaçaria sugere, sem banalizar nem desmerecer o drama vivido por muitas mulheres, crianças e jovens. E avisarmos nos a tod@s que a arte de viver é a arte de nos auto conhecermos e não fazer das outras pessoas o nosso depósito de lixo emocional. A cura está dentro de nós.Uma questão de averiguar as múltiplas formas de se transcender para não se exceder, abusar de quem um dia confiou e nos amou ao ponto de escolher ter um filho ou uma filha. Estar de bem com a vida é saber quem se é e não colocar os outr@s para baixo só porque sim. Enquanto isso, rir do que nos oprime é libertador. Já rir sublinhando a opressão, a violência, a ignorância, o preconceito é um riso pesado. E ser leve é muito bom! Dá saúde e faz crescer!

A Piu
Campinas SP 31/03/2020

Curta a página " AR DULCE AR" e se puder, quiser, se se tocar apoie este projeto de palhaçaria feminina sobre relações abusivas. https://www.facebook.com/AR-DULCE-AR-162965127817209/

imagem: Sabrina Gevaerd

sexta-feira, 27 de março de 2020

E AÍ GAROTADA? COMO VAI A VIDA?

Passei a minha infância e juventude a escutar da minha avó: " A saúde é o bem mais precioso que nós temos! Saudinha é o que é preciso!" Ora, eu garota gozona pela imaturidade da experiência de vida anterior ao meu ser experiente que já viu muita gente enferma e partir nos entre tantos, sempre caçoava, sem perder o respeito à minha querida avó que partiu numa sexta de Carnaval de 2014 para um outro plano.
" O que é preciso é saúde!", dizia eu quando encontrava uma grande amiga até hoje. Os amigos de verdade são para a vida inteira, mesmo que as nossas vidas sigam rumos muito diferentes. É ou não é? E fico feliz que ela se esteja a cuidar com o seu filho lá do outro lado do oceano. Quando queremos bem é para a vida inteirinha, as palavras e os sentimentos não se expressam nem se jogam fora como latas dum refrigerante de composição duvidosa.
Todos nós temos de partir daqui deste plano e dar lugar a outros. Assim é a lei da vida. Uns ficam mais tempo, como ela que partiu aos 92 anos de idade e outros que partem mais cedo, como a minha mãe por exemplo que partiu aos 37 anos de idade por questões de saúde. E assim é a vida. Aprender a aprender a amar e a deixar ir, deixando no coração um espaço amplo de homenagem a quem nos quer bem e a quem queremos bem. E principalmente fazer de tudo para passarmos por aqui reverenciando a nossa existência, no individual e no coletivo.
Reverenciar significa confiar que a grande cura se dá pelo amor, a si mesmo e ao próximo. Não somos obrigados a conviver com quem nos desconsidera, nos maltrata,que encara a vida com cinismo ao ponto da empatia para consigo mesmo ser nula ou quase nula quanto mais para com a dos outros! Vou dar um exemplo bem concreto, para nos atentarmos se algumas vezes não reproduzimos boçalidades semelhantes no nosso micro sistema: alguém que representa uma nação, que viaja com uma comitiva para o exterior e ao voltar alguns estão infetados pelo corona vírus e esse representante da nação que muitos o elegeram por variadíssimos motivos alega publicamente que esta pandemia mundial é uma gripezinha fruto duma histeria coletiva que afeta a economia e que os negócios não podem parar e que se lixem as famílias dependentes da força do seu trabalho... Que ser é este? O que ele diz de nós? Que posicionamento ele pede que as pessoas tomem? Um representante da nação que convida todos ao corredor da morte só pode ser um teste para todos nós acerca do valor da vida e quem se elege. Vamos dar 30 segundos de reflexão quanto às estupidezes que cometemos e repetimos de sorriso no rosto sem assumir que são estupidezes ou mesmo sabendo que são não pedimos desculpa ou tentamos oprimir por outros meios, que é boicotar o amor e até a sua felicidade e a felicidade alheia. Quem ama fica feliz pela outra pessoa sem disputa. Essa é a grande diferença entre os que amam e os que acham ou gostariam de amar mas sem abrir mão do seu orgulho.


De volta, depois dos 30 segundos:
Aí também temos de nos atentar a quem invoca constantemente a desgraça, que em tudo vê provocação maliciosa e desdenha da simples alegria de viver com inocência. Aqui não se trata de escolhas partidárias, embora quem se assume abertamente de direita ou com valores de direita eu sempre fico um tanto ou quanto... observadora? Apreensiva? Há aquele exercício de manter um diálogo democrático, mas a afinidade é um frágil fio que se deve manter firme pelo respeito a distintas visões do mundo. Não é que não haja um perfil de esquerda que é só fachada, mas com esses mesmo assim consigo lidar melhor pois apelo para os seus grandes valores, de justiça, fraternidade e igualdade, que também são os meus mas acreditando que o despotismo é nefasto e que o totalitarismo é para lá do nefasto. É sinistro. Assim como o esquerdo machismo que temos que nos avisar constantemente uns aos outros, já que o querer bem é uma das pautas principais. Considero eu, pelo menos. Já não falando do seguidismo, essa imensa necessidade de seguir seja lá o que for, mesmo que de nobres causas se tratem. Normalmente o seguidismo é uma necessidade de suprir uma carência ou substituir, uma figura paterna e/ou materna. É um afirmar de: "Pensem por mim. Digam-me o que eu preciso de pensar e o que é para eu fazer." Ok, existem pessoas, penso que é a maioria, que prefere não ter o trabalho da auto gestão. Porque a auto gestão dá trabalho. E auto gestão não significa empresário em nome individual, que é o que se chama aos trabalhadores precários. Auto gestão não significa defender um anarquismo capitalista. Na verdade nem tenho propriedade para falar sobre anarquismo capitalista porque nem estou interessada em aprofundar o que à partida já não me seduz. O capitalismo não me seduz e tudo o que isso acarreta: competição insana - quem é competente não precisa de competir porque todos temos lugar quando nos olhamos e nos valorizamos.
Por agora é isso, porque na verdade quero escrever um outro texto para a página Ar Dulce Ar sobre este dia mundial do teatro e nacional do Circo. Enquanto isso deixo esta imagem absurda, por isso risível. Dum trágico cómico sem precedentes.
Beijus e abraçus!
A Piu
Campinas SP 72/03/2020







A imagem pode conter: uma ou mais pessoas

domingo, 22 de março de 2020

DE QUE FALAMOS QUANDO FALAMOS DE EMANCIPAÇÃO?

" Se queremos feminismos que defendem os corpos emancipados, mas esses feminismos não falam de territórios emancipados, então a luta do feminismo não se sustenta. Eu não posso ser feminista se falo da defesa do meu corpo, da sexualidade, mas não defendo a terra. O feminismo precisa de defender a terra. Afinal, onde vão viver os corpos emancipados?"
- Lorena Cabnal- em Mandala Lunar 2020
Por vivermos um momento ao nível mundial de recolhimento, onde o contato físico é restringindo por prevenção dum vírus que se alastra muito rapidamente - corona vírus para aqueles que um dia lerão este textos, quem sabe, passados muitos anos - este texto que agora compartilho, presenteio sem daí vir nenhuma fonte de rendimento, pelo menos até à data não tem acontecido. Quem sabe um dia entrarei no mercado das editoras e serei remunerada por este trabalho que é me informar, pensar, escrever e publicar. Sim, é um trabalho. Não precisamos de publicar, mas informarmos-nos por várias fontes, LER, pensar com o maior sentido crítico possível, REFLETIR, não reproduzir lugares comuns já é um grande avanço para tod@s nós. O mais difícil é mudar de hábitos. Hábitos de pensamento, de comportamento, de consumo, de como nos olhamos a nós e aos outros, de como tratamos o nosso planeta terra e se reverenciamos ou não a natureza. Isso é o mais difícil! Podemos entender uma série de coisas racionalmente, mas se não nos atingem no coração as nossas ações serão as mesmas, muitas vezes equivocadas. Acredito também que muitas das nossas ações, palavras, sentimentos e pensamentos equivocados não tenham uma intenção maligna, de má fé. Porém, se não prestarmos atenção facilmente podemos agir por má fé. Por medo, insegurança, falta de entendimento do desconhecido, do novo, do inusitado.
Ao ler a escritora negra brasileira Sueli Carneiro* ela chama a atenção para algo que talvez tod@s já saibamos, mas que nem sempre temos consciência. Por isso ela chama a atenção: a mulher negra, além de estar em desvantagem por questões de género, ela está em desvantagem em relação à mulher branca nas oportunidades no mercado de trabalho e sua remuneração justa. A mulher negra ao longo dos séculos de escravatura até hoje é vista como o fruto exótico cosmetível.
Talvez todas ainda sejamos vistas como cosmetiveis por muitos homens. Então fica o convite aos queridos homens de reprogramarem a mente e as ações. Porque muitas de nós gosta de ser cortejada, desejada, perceber que algo lhe é dedicado diretamente sem as indiretas que criam dúvida se é mesmo para ela ou para um séquito que coloca o galã num pedestal entre o inacessível e aquele que pega na primeira que cair. Ihihih Sei lá se é sempre assim. Espero que não. Enfim,gostamos disso tudo: do desejo, da sedução e por isso também é importante sermos escutadas e respeitadas.
O texto do Frei do Beto *, leva-me a confirmar que os nossos corpos ainda não estão emancipados, muito menos as nossas mentes a partir do momento que estamos subjugados às leis do mercado em que tudo vira produto descartável. Enquanto não nos desenvencilharmos da lógica da aparência, da satisfação imediata com base na vaidade e no ego de expor os nossos corpos duma forma... diria... vulgar, pois é isso que o mercado pede; não podemos nos desejar por inteiro, temos que ter muita atenção com quem partilhamos o nosso erotismo, seja por imagens, textos e afins, para que ao limite não sejamos perseguidas por alguém que tem a tara de procurar os nossos nudes para vazá-los. E como não encontra leva algum tempo a desistir. Como tal, existirem homens que não entram mais nesse jogo, mesmo que tenham sido educados a isso é um grande avanço. Ser feminista não é rechaçar os homens, no meu ponto de vista. Ser feminista é dar-nos a oportunidade de revermos-nos, seja em questão de género, de raça, de etnia, de recorte social. Ser feminista é dar uma chance a respeitar a mãe terra e agradecer por aqui estarmos sem sobressaltos apocalípticos.
Continuo a acreditar que todas e todos somos muito mais do que carne de açougue/ talho. Acredito que ao invés de nos exibirmos ou pedir para que os outros se exibam sem poesia e sim com a banalidade de imagens e posições passiveis de uma qualquer publicidade de cerveja nunca poderemos realmente nos emancipar. Porque a emancipação está no respeito pela nossa liberdade e d@s demais, boicotando assim a lógica de mercado. Quem quiser entender e se rever nesta quarentena que ainda não sabemos quanto tempo vai durar EU TEREI VERDADEIRAMENTE UM ENORME PRAZER DE OLHAR NOS OLHOS, ABRAÇAR, TOCAR. SENTIR O CHEIRO E NÃO TEMER AS GOTICULAS DE SALIVA.
UM GRANDE ABRAÇO APERTADO COM O CORAÇÃO TOCANDO NO OUTRO CORAÇÃO
A Piu
Campinas SP 22/03/2020
* Carneiro, Sueli " Escritos de uma vida" Belo Horizonte ( MG) Letramento : 2018.
* Não apenas escravos tiveram seus corpos sujeitados. Também mulheres. Faz menos de um século que elas iniciaram o processo de apropriação do próprio corpo. A dominação sofrida pelo corpo feminino era endógena e exógena. Endógena porque a mulher não tinha nenhum controle sobre o seu organismo, encarado como mera máquina reprodutiva e, com freqüência, demonizado. Exógena pelas tantas discriminações sofridas, da proibição de votar à castração do clitóris, da obrigação de encobrir o rosto em países muçulmanos à exibição pública de sua nudez como isca publicitária nos paises capitalistas de tradição cristã.
No momento em que o corpo humano alcançava sua emancipação, a indústria cultural introduziu a sujeição da mente. A multimídia é como um polvo cujos tentáculos nos prendem por todos os lados. Tente pensar diferente da monocultura que nos é imposta via programas de entretenimento! Se a sua filha de 20 anos disser que permanece virgem, isso soará como ridículo anacronismo; se aparecer no Big Brother transando via satélite para o onanismo visual de milhões de telespectadores, isso faz parte do show.



Sabrina Gevaerd

sexta-feira, 20 de março de 2020

FELIZ DIA DOS CONTADORES DE HISTÓRIAS

Os cientistas dizem que somos feitos de átomos, mas um passarinho me diz que somos feitos de histórias.
- Eduardo Galeano-
" Dia 20 de Março comemoramos o dia dessa profissão tão importante para o desenvolvimento da criatividade. A data passou a ser comemorada em 1991 na Suécia, com o objetivo de reunir os Contadores de todo o mundo e fazer um dia cheio de histórias e surpresas."
In: https://www.smartkids.com.br/d…/dia-do-contador-de-historias





Fotos: " A Viagem de Maria da Luz"- por Ana Piu/ Teatro Balbuínas Rio de Janeiro 2019 no Animapraça @Josélia Frasão

AMOR EM TEMPOS DE PANDEMIA


No momento em que escolhemos amar, começamos a nos mover contra a dominação, contra a opressão. No momento em que escolhemos amar, começamos a nos mover em direção à liberdade, a agir de formas que libertem a nós e aos outros."
bell hooks 


Vivemos um momento que podemos e devemos tomar como uma oportunidade de parar e olhar para dentro. Quando escrevo " vivemos" naturalmente cada uma e cada um estará vivendo as suas circunstâncias de vida. Falar para alguém que nem saneamento básico tem para lavar as suas mãos e não sair de casa, se é que tem casa, é no mínimo não ter noção de que mesmo que estejamos neste grande barco planetário nem todas as pessoas tem as mesmas oportunidades. Ler, escrever, ter um lugar de fala, ter acesso a teatro, a cinema são ainda inacessíveis para alguns. Infelizmente. Ontem vi um vídeo de um senhor negro trabalhador dentro do metro, talvez em São Paulo, com muita gente dizendo que ele e muitos não se poderiam recolher e que fecharam quase tudo, e que teatro e cinema é para rico. É mais que compreensível a sua fala e ele ter a oportunidade de usar o seu celular e falar para o mundo a sua dor e daqueles que estão na sua situação, condição. Também sabemos que uma grande parte da população indígena tem sido dizimada há séculos pela gripe "comum", aquela que nós tratamos em casa ficando debaixo dos lençóis a transpirar com todos os cuidados que ela requer. E depois adeuzinho até à próxima gripe na virada de estação. Porém, o que estamos a viver mundialmente é uma chamada de atenção para abrirmos a consciência e mudarmos de frequência vibratória. Não sei se é um último aviso à Humanidade que chegou neste ponto em que o capitalismo selvagem tem demonstrado que é emocionalmente insustentável, que o neo liberalismo e privatização dos serviços públicos não é de todo viável, que é urgente repensar o consumo desenfreado, o o egoísmo associado a esse consumismo e também ao carreirismo de não olhar a meios para atingir o fim. Que é mais que tempo de erradicar o racismo, a xenofobia,o sexismo, a homofobia, a misoginia, o classismo.

É tempo de olharmos para dentro para expandir a consciência. Silenciarmos-nos para enxergar com mais clareza e solidariedade. Vibrar no pânico, no medo e deixarmos-nos arrastar por ideias apocalípticas promovidas pelo excesso de informação não nos liberta e a liberação de negatividade é possível. Ah e rever as nossas falas, pensamentos e sentimentos que reproduzimos de forma a nos oprimir e oprimir os outros, olhando-nos com preconceito. Não nos deixarmos arrastar pelas mentiras que nos são convenientes e assim compactuar com a calúnia e a difamação, mesmo que nos consideremos os mais esquerda da esquerda. Termos consciência de classe é muito importante. Termos consciência de onde vem a nossa fonte de rendimento e como, para assim também estarmos cientes que existem seres humanos que tem mais privilégios que nós e outros não. E que uns parecem estar na mesma situação que nós, devido a estereótipos, mas não é bem assim. Enquanto não vivermos em sociedades igualitárias, se é que algum dia isso será possível, pelo menos essa consciência terá de estar presente só assim a expansão da consciência ao nível espiritual que é vibrar amor, compaixão e também perdão será efetiva.

Acabei o livro da bell hooks " Ensinar a transgredir A educação como prática da liberdade" trazido duma biblioteca pública do sesc que todos ( ou quase todos) podem ter acesso. Procuro aquela passagem em que ela escreve que no meio universitário quem não segue o modelo hegemónico do pensamento ocidental do homem branco da elite é considerado baderneiro. Não encontro agora a citação diante de tantos lembretes que fiz no livro, mas esse termo ainda soa aqui dentro, pois a primeira vez que o conheci foi no Brasil nesse mesmo contexto acadêmico. Fui chamada de baderneira. Como desconhecia o termo associei a taberna, que na minha terra é o equivalente a boteco. Ir para a taberna ou tasco é o mesmo que ir para o boteco. Não é que eu dispense um boteco, mas de facto nunca me ocorreu fazer do conhecimento uma revolução de boteco, como se diz na minha terra revolução de café, que é só para causar confusão, bagunçada mas deixar tudo igual.

Enfim, nós somos a cura de nós mesmos e quanto mais vibrarmos no amor, quanto mais ancorad@s estivermos em nós mesm@s mais imunes estaremos às pandemias e a poder ajudar os outros, caso necessitem e queiram.

VITÓRIA AO AMOR! SÓ AMOR CURA POR INTEIRO!
Ah! Muita gratidão a escritoras negras como a bell hooks que desnaturalizam as narrativas vigentes e impostas. Que alento no coração! Agora siga para a escritora negra brasileira Sueli Carneiro.

A Piu
Campinas SP 20/03/2020



quinta-feira, 19 de março de 2020

A DIFERENÇA ENTRE SOLIDÃO E SOLITUDE

Angela Silvatti - Giló
Na página ' Quebrando o tabu' a Dra Anahy faz em breves minutos  algumas considerações sobre a diferença entre solidão e solitude. Ela inicia a sua fala afirmando que o  machismo está no sangue de todo o mundo. Principalmente quando se diz que a mulher merece estar com alguém melhor. Então, ela enfatiza que NÓS, MULHERES, TEMOS CAPACIDADE PARA FICARMOS SOZINHAS!. Depois continua alertando que o homem abusador vende a imagem do protetor, dizendo por exemplo:" Filha, eu te dou tudo! Não precisa de trabalhar!"  Finalizando a sua fala Anahy diz: " Nós não precisamos de proteção e sim respeito. A mulher tem o direito de ser o que ela quer. Ser independente. Quanto mais independente e autónoma mais a possibilidade de encontrar alguém bacana. Se a mulher não não consegue viver sozinha não vai conseguir viver com ninguém. Quando sabemos  viver sozinhas nós não pomos a nossa vida na mão de ninguém."


Bom... Não sei se é uma embirração linguística, mas chamar uma mulher conhecida ou desconhecida de "filha" já me dá aquela tremedeira que vai dos ombros, passando pelo queixo, ziguezagueando a coluna até ao cortex. Eu sou filha da minha mãe e do meu pai e também penso que não é nada de mais ser tratada pelo pai e pela mãe sem aquele paternalismo como se nunca passássemos dos 5 anos e quatro meses e dois dias e meio de idade.  O termo" filha" já soa a uma desconsideração da outra pessoa. Esse termo e outro que eu já escutei dum ex parceiro de trabalho referindo-se ao meu desempenho profissional que mesmo assim já tem mais de duas décadas: " Ela é esforçada."  Demorei algum tempo a entender... Esforçada quer dizer que ainda não atingimos o status quo, se é que alguma vez vamos atingir? Esforçada significa que todos os nossos anos de trabalho, de estudo, de experiência profissional são ignorados quando por algum motivo migramos para um outro lugar e parecemos que estamos a começar totalmente do zero por isso somos esforçadas e quem nos apelida assim está nos a fazer o favor de nos acolher mas lembrando sempre que estamos abaixo na pirâmide de gênero e de reconhecimento social?

Fiquemos atentas a quem se auto denomina protetor. Normalmente essa postura está dentro da lógica do medo. Cria-se o medo para depois subjugar-se. O protetor acaba por ser a fonte em si de perigo. Devemos nos sim proteger-nos desse tipo de relações. Sejam afetivas, de amor e/ou amizade, sejam profissionais.

Uma coisa é sentirmos-nos cuidadas e nesse cuidado haver reciprocidade sem um olhar utilitarista. Eu cuido de mim, da outra pessoa, da nossa relação. Outra coisa é confundir proteção com controlo e subjugação. A outra pessoa está lá, assim como nós, de uma forma solidária, ombro a ombro. Alguém que não entende isso, ou seja não entende o que e companheirismo vê o oUtro ser como uma propriedade, um brinquedinho para satisfazer os seus desejos mais básicos. Nós queremos isso para nós? Sermos bonequinhas e bonequinhos uns dos outros ou almejamos ser gente que ama, que ri e chora junto, que não faz da outra pessoa um paliativo para as suas carências e perversidades. Sermos gente de verdade é auto conhecermos-nos, e fazer de tudo para nos colocarmos à disposição duma relação na nossa melhor versão. É fácil? Ninguém disse que era fácil. Dá trabalho, mas evita ciladas, furadas.

Como tal, o que a Anahy chama a atenção é para sermos inteiras para nos relacionarmos com inteireza, plenitude. Essa da laranja metade é falácia! Nós somos uma laranja inteira e a outra pessoa é uma laranja inteira que quando estamos a fim de caminhar juntas em sintonia ajustamos-nos- Quanto tempo uma metade dum laranja rola? Ah pois, pois é!

A Piu
Campinas SP 19/03/2020

Curta a página " AR DULCE AR" e se puder, quiser, se se tocar apoie este projeto de palhaçaria feminina sobre relações abusivas. https://www.facebook.com/AR-DULCE-AR-162965127817209/

domingo, 15 de março de 2020

QUAL A PARTE QUE NOS COMPETE?


imagem: Ojos em óleo Angela Silvatti - Giló

" Será que podemos dizer que o amor por alguém pode assumir características de um território, um país, e viver longe dele poderá significar o mesmo que viver exilado? "
Epalanga, Kalaf " Também os brancos sabem dançar - um romance musical" Todavia SP: 2017
Vivemos momentos muito auspiciosos. Porquê? Hmmmmm " Lá vem esta com as suas ironias, os seus sarcasmos! Onde ela quer chegar? Onde o dedinho dela quer tocar para alguém gemer: Ai! Ui!
Sim, vivemos momentos muito auspiciosos que nos mostram que a liberdade de expressão, a dignidade por vivermos do nosso trabalho, a nossa saúde, as nossas relações sejam pessoais, profissionais, amorosas, as nossas escolhas nem sempre são evidentes. E agora que o mundo, pelo menos o ocidental, está em nível de suspensão, stand by para dar aquele ar international, é um ótimo momento para pararmos, respirarmos fundo e refletirmos se estamos todos no mesmo barco e se não vale a pena reavaliar os nossos pequenos grandes orgulhos e pararmos de nos auto boicotar e boicotar a felicidade alheia com ruído emocional.
No meu ponto de vista é um ótimo momento para lavarmos as mãos, o rosto, ozolhus, a alma, a consciência e perceber que quando declaramos guerra no nosso dia a dia, muitas vezes uma guerra silenciosa e até um certo ponto subtil, a nós mesmos, aos nossos amigos, irmãos estamos a reproduzir o que acontece principalmente nas guerras civis e ao limite nas guerras entre povos e nações: irmão lutar contra irmão perdendo a oportunidade de dar lugar para o amor sem apego, sem possessividade, sem disputa e sim com a liberdade de seguir o que a vida nos oferece sem medo do amanhã. Porque o amanhã significa o quê? Já sabermos o que significamos para nós mesm@s e um para os outros é uma introspecção que não devemos descurar. E os tempos pedem auto observação, por isso são tempos auspiciosos. A certeza é que hoje estamos aqui. VITÓRIA AO AMOR!
A Piu
Campinas SP 15/03/2020

KALAFRIO

Noruega, imagem tirada da internet
" A Europa é um hotel de luxo medíocre." escreve Eugénio Barba, diretor italiano de 85 anos do Odin Teatret sediado inicialmente na Noruega em 1964 e passado pouco tempo na Dinamarca até à data. Essa frase que li em 1995 ou 96 num dos seus livros, " Canoa de papel" ou " Além das ilhas flutuantes" é com uma pulga atrás da orelha. Estou entendendo, a entender, aos poucos.

Ontem finalizei o livro" Os brancos também sabem dançar" do Kalaf Epalanga. O meio do livro em diante, quando este relata a sua passagem pela Noruega e sua detenção por ter passado com passaporte caducado, é impactante como um ajustar de entendimento da " minha velha " Europa, que um dia eu preparei-me para morar mais a norte, na Escandinávia após umas três visitas a Copenhaga, já que ficava muito mais perto de Lisboa e em conta que visitar o Brasil para saber se seria para cá que as malas apontariam. Confiar na intuição no destino, mesmo que este seja um tanto incerto, é a chave.


De facto eu estava encantada com a Dinamarca. Com aquela organização e aparente paz de espírito. Com aquele cenário de prosperidade de  social democracia onde todos sabem os salários uns dos outros, os carros param para dar passagem aos ciclistas e a poluição sonora é quase nula. Nunca senti xenofobia. Talvez por passar por dinamarquesa se não abrir a boca nem gesticular muito. Mas, quando na última vez levei a filhotada que pode ser filhotada de negro, chinês, indígena, mongol, e!... e!... árabe! Eu senti nos olhares anónimos preconceito. E estarmos atentas aos sinais e escutarmos a intuição é muito importante! Logo decidi que ali não era o nosso lugar. Não valia o esforço de adaptação e de aprender uma língua totalmente diferente num território sem sol o ano inteiro e que ao fim dum tempo aquela organização asséptica dá uma tremedeira, um silêncio entediante que só dá vontade de andar com as mãos no chão e as pernas a roçarem as nuvens!

A Noruega não há de ser tão diferente, assim como a Suécia. Eu tenho algum deslumbramento pela estética Escandinava, mas ontem ao ler algumas passagens do livro do Kalaf senti descargas elétricas pelo corpo e até um certo alívio e descobrir a chave do enigma duma história que eu quase desconhecia embora intuía que toda aquela prosperidade não poderia vir só da força de trabalho e poder de organização de cada país escandinavo, embora eu tentasse acreditar nisso e desejasse que eles compartilhasse  o seu modelo de cidadania com o resto do mundo. Mas algo não batia certo e não sabia porquê. Sendo assim deixo umas citações da Kalaf para refletirmos juntos nesta temporada de quarentena. Reflexão essa que também passa por nos perguntarmos se existe alguma diferença entre o valor da vida de um europeu ou de um africano, asiático, sul americano. Se existe alguma diferença entre o valor do trabalho de uns e outros consoante a sua origem. Enfim, precisamos de estar atentos a este corona vírus, mas o buraco é muito mais em baixo. Daremos assim continuidade a essa questão em outros textos.

" Quando sei que o meu país ( Noruega) está em vigésimo lugar na lista de exportadores de armamento.  (...) nos regemos por um código de conduta moral que diz que a Noruega não permitirá a venda de armas ou de munições para áreas onde existe uma guerra ou a sua ameaça, ou a países que existe uma guerra cívil. Palavras bonitas, mas de facto os nossos maiores clientes, Nato, Estados Unidos, Arábia Saudita, usam equipamento nosso em conflitos a que os nossos políticos dizem opor-se. A Noruega adotou voluntariamente o Código de Conduta da União Europeia sobre as exportações de armas, que exige que os direitos humanos sejam tidos em consideração ( ...) alguém não exigiu o suficiente, e alguém ganhou dinheiro".

" Foi ele que disse, por exemplo, que se não quiséssemos imigrantes, então teríamos que deixar de os fazer. " Se não os queremos, então não lhes vendamos armas, então não deixamos que crianças asiáticas nos cosam ( costurem) as roupas, que os seus polacos nos apanhem os morangos e nem que as mulheres tailadensas limpem a merda que fazemos."

" (...) não consigo de deixar de me perguntar do que nos serve sermos tão prósperos se o mundo à nossa volta está a ruir."


Isto também se adequa para quem vive em condomínios fechados do lado das favelas em qualquer parte do mundo. Ah! E não esquecer que mesmo de quarentena, as pessoas que não podem ir trabalhar deveriam receber na mesma, mesmo que sejam prestações de serviços.

Beijos e abraços e até ao próximo texto!!
A Piu
Campinas SP 15/03/2020




sexta-feira, 13 de março de 2020

MARIELLE PRESENTE

Amanhã faz dois anos que tiraram a vida a Marielle Franco. Por conta da situação atual do corona vírus o ato no centro de  Campinas SP foi cancelado. Nem por isso esquecida a homenagem prestada a esta mulher que representa muito na sociedade brasileira: mulher, negra, vinda da favela, lésbica, defendendo a causa LGBT, politica, socióloga. 

Pretendo escrever um texto sobre a solitude e plenitude das mulheres inspirando-me num quadro da querida artista plástica Angela Giló. Mas hoje, amanhã e sempre homenagear Marielle Franco seja em passeata ou dentro de casa na frente do computador é igualmente importante e prioridade. Agora saltar para aqueles dois livros trazidos da biblioteca pública das escritoras negras Sueli Carneiro " Escritos duma vida" e da bell hooks " Ensinado a transgredir, a educação como prática da libertação". 

MARIELLE PRESENTE!

 A Piu
13/03/2020


RICOFOBIA

Bem sabemos que o Brasil é dos países mais desigualitários do planeta. É um facto. Para mim, desde a primeira vez que pisei neste território em 1996 até à atualidade ainda é um quebra cabeças entender em que classe social eu me insiro neste contexto brasileiro. Aí sim sinto-me uma perfeita estrangeira. E também admito aqui publicamente que tenho "sérias" dificuldades em entender os privilegiados,  deste país, principalmente os que defendem justiça e igualdade e/ou praticam  um trabalho de iluminação interior, mas muitas vezes na prática eu tenho dificuldade em enxergar o que todas essas ideias e entendimentos que partem do auto conhecimento dialogam efetivamente com o bem estar do coletivo. Em termos de ação. Sim, eu fui entendendo aos poucos que eu tinha, talvez ainda tenha, um certo preconceito com seres humanos com um poder aquisitivo acima dos demais. Admito que para mim o caminho empático não é evidente sobre aqueles que podem mas não compartilham ou acham que a fome, o desemprego, as necessidades básicas são construções mentais que as pessoas devem superar. E isto dito com argumentos espirituais. Daí eu faço exercício de agradecer aquela oportunidade de me silenciar para não dar um berro, sim porque dar um berro para alguns é como se fosse um soco. Então é sinceramente bom esta prática de escutar relaxadamente e  não ser responsiva. Ufa! Que desafio! Por vezes levanto-me e saio, porque ainda não tenho estrutura interna para segurar a onda.

Porém, entre ontem e hoje já escutei aqui e ali um mesmo discurso que não é nem preciso abrir o jornal, seguir o noticiário para entender que é um discurso vendido e comprado. " Corona virus é doença de rico." Chiça! Pode ser até um certo ponto, mas eu conheço muita gente que viaja em trabalho, em estudo ou porque surge oportunidades para fazê-lo sem ser necessariamente rico. Essa afirmação o que significa? Onde quer chegar passando a linha das mesquinhez? Sim, nem toda a gente no Brasil tem a oportunidade de viajar para fora do país, mas o que é que isso interessa agora para o momento do pânico instalado? Eu conheço pessoas que trabalham em companhias aéreas na Europa. Nunca lhes contei o dinheiro para saber se são ricas. Se forem ÓTIMO lembrem-se que aqui da artista de variedades e apoiem o seu trabalho que é viajar pelo mundo e nem por isso é rica e tenta levar a sua a arte a todas as camadas sociais, muitas vezes oferecendo-o. Por outro lado sei que por exemplo um profesor universitário no Brasil é rico e em Portugal não o é. Também não é nenhum pobrezinnho, mas não é rico e previligiado como no Brasil. O mesmo se passa com a classe artistica entre os dois países, por exemplo. Nem dá para comparar. São realidades distintas.

Enfim, esta conversa do corona vírus virou uma histeria que não deve ser descuidada, mas parece aquelas neuroses coletivas com apontamentos de adrenalina opinativa superficial. E eu que sei? Mas estou a fim de conhecer mais ricos generosos e cabeça que tenham consciência do coletivo. Essa dos ricos pagarem a crise também tem muito que se lhe diga. A crise é criada pelos ricos, para os favorecer. Mas ainda acredito em ricos benfeitores . Gostaria de conhece-los para fazermos uma parceria para chegar aqueles que precisam que o capital seja distribuído, dando a oportunidade de dignificar as pessoas sem assistencialismo. Talvez a maior febre é seguir lugares comuns,alimentar aversões ao invés de procurar modos de dar o nosso melhor em vez de julgar e escarnecer do que conhecemos ou achamos que conhecemos por alto. Enfim, espero que este pânico mundial passe logo e seja uma oportunidade de nos recolhermos para meditar sobre o sentido da vida.


A Piu
Campinas SP 13/03/2020
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O mesmo transporte, mas com pequenas diferenças.


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O amor não se compra nem se paga,mas se ele der sem segundas intenções nós depois distribuímos, aplicamos em trabalhos em prole do coletivo.

quarta-feira, 11 de março de 2020

45 ANOS DEPOIS DA INDEPENDÊNCIA - série 'Era mais foice'


Aquarela de Zélia Maria do Carmos Reis Ferreira
Talvez tenha desistido cedo de mais. Nem tentei assim tanto, não tinha planos de ficar muito tempo em terras lusas. Na minha cabeça ficaria só até Jonas Savimbi e José Eduardo dos Santos voltarem à mesa de negociações e se convencerem de que a paz era mais vantajosa para ambas as partes. Assim que as armas se calassem em Angola, não ficaria nem mais um minuto. A Europa não era para mim. Quem queria viver ali quando se tem país como Angola em paz? Nos primeiros anos, estas eram questões que me inquietavam. Não podia acreditar como nós, africanos, preferimos desperdiçar os nossos melhores anos na Europa, a construir os seus prédios, a limpar-lhes as casas, a fritar-lhes os hambúrgueres. Não seria melhor levar essa força bruta para um lugar que, mesmo que não fosse o nosso, o que nos viu nascer, fosse habitado, pertencesse, a uma maioria de negros como nós: negros. Dos cinquenta e quatro países africanos, pensava, haverá certamente um que nos sirva de abrigo enquanto MPLA e a Unita não se entendem. Um que não viva a constante ameaça de uma guerra cívil, um, por mais pequeno que fosse, que estivesse grato por nos receber e nos desse a oportunidade de contribuirmos para a sua economia. Qualquer um, menos os da Europa. Estes eram os pensamentos que me ocupavam a mente naqueles longos dois primeiros anos em Portugal. Criei uma aversão tão grande ao país que nem desfiz a mala com que desembarquei.
Ali estava eu, sentindo-me refugiado, exilado, emigrado...
Tudo palavras das quais desconhecia o significado, até Savimbi se ter convencido de que houve fraude nas eleições de 1992 e a minha mãe, que viu Angola independente, e que conhecia melhor do que eu o coração dos senhores da guerra, temendo pela minha vida, me enviou para Lisboa na primeira oportunidade que teve. Não a censuro, ela é mãe, no seu lugar é provável que todas as mães angolanas fizessem o mesmo. Não consigo imaginar como devia ser agonizante para uma mãe, no contexto de então, ver o filho homem crescer com a certeza de que um dia teria que ir para a guerra, sem saber se dá lá iria voltar. "
Epalanga, Kalaf " Também os brancos sabem dançar, romance musical", Todavia SP: 2017.
Quarenta e cinco anos de Independência não é nada diante de mais de cinco séculos de colonialismo e de imperialismo que após a independência de Portugal vieram as duas potências mundiais da famosa guerra fria. O MPLA pela URSS e a Unita pelos EUA. Na realidade Angola ainda não é independente. Existem muitos interesses mundiais para que não seja.
Kalaf, um exemplo de alguém que não deseja ardentemente estar na Europa, principalmente em Portugal que ainda não se reconciliou com o seu passado histórico nem mais recente nem mais ancestral. Veja-se a omissão se não total, quase total da passagem dos mouros por esse território, pois estes ainda são um perigo eminente aos olhos dos bons cristãos. Porque os outros sim, além de machistas são fundamentalistas. O Vaticano no meio disso tudo é o quê?
Quanto aos angolanos em especifico, como poderíamos falar dos moçambicanos, guineenses, cabo verdianos, são tomenses, além de Portugal ser racista e não se poupa em dar aquele ar de mau perdedor negligente: " Ah quiseram independência!?Ganharam a guerra? Agora andam à batatada porque não sabem se governar!" Cinismo? Ingenuidade ignorante cínica? Uma guerra que dura 12 anos, já no final do século XX, na terra dos outros depois de tanta exploração, escravatura acham que as grandes potências não se iriam meter para dar um chega para lá num imperialismo provinciano, caduco, beato? Não existem bons imperialismos, pois como o próprio conceito indica para imperar é necessário aniquilar. Mas Portugal não é nada de nada diante da Europa, da ex URSS e dos EUA. 'Tadinho de Portugal já se poderia curar duma vez duma megalomania fantasiosa, irrealista, provinciana.
Por vezes fico na dúvida o que muitos brasileiros conhecem da sua História, da História de Portugal e das suas relações com os países africanos até à atualidade. Por vezes parece que não sabem muito. Pois se soubesse não vinha encher o peito com o dedinho apontado falando que Portugal não tem favela e que o Brasil tem por causa de Portugal. Até onde sei, as favelas surgem no século XX, principalmente com a chegada do Getúlio Vargas e a higienização dos centros urbanos. E o que a esquerda brasileira esclarecida faz diante desse flagelo que é a existência de extensões enormes de favela sem condições básica de salubridade por todo o país? Paga a quem vive na favela e trabalha para eles? Quais as suas motivações quando vai para Portugal? Eu já escutei esta de algumas pessoas: " Vou aproveitar de tudo o que Portugal pode dar gratuitamente pois já que roubaram tanto! " NOSSA! VIXE MÁRIA QUE VIBE! QUE ENERGIA! Os motivos que me fazem estar no Brasil são outros. Vou chamar de pré colombianos. Motivos pré colombianos duma mulher de origem também celta. Gosto e intuo que corresponde à verdade da minha motivação. Mas essa fica para outro texto.
Motivos pré colombianos duma mulher de origem também celta..... Gostei dessa!
An Arca
Campinas SP 11/03/2020

VILMA


VILMA

ÉTICA

Autorização para uso de informações. Termo de compromisso.

Amor e morte são uma incógnita.

FAMÍLIA:

Duas irmãs: Luisa
Ana – fo jornalista, solteira e foi encontrada no seu apartamento 2/3 dias após a sua morte.
Mãe- Ucrânia
Pai – Itália
Era violento quando bebia. Teve um cancer na boca.
O processo de saúde-doença da boca, visto sob o conceito de bucalidade, possibilita a apreensão polissêmica dos lugares que a boca representa para o sujeito, já que pode ser experimentada ''cheia de seio, no gozo inescrupuloso do corpo do outro'' (BOTAZZO, 2006, p. 8), pela suas potencialidades amorosas e agressivas, bem como de sedução, viscosidade e mesmo podridão. A produção social da boca humana instaura ''o movimento que envolve o sujeito em permanente elaboração na fronteira entre razão e desejo'' (BOTAZZO, 2006, p. 15).


Será que eu sou filha de minha mãe e do meu pai?

A família nunca é uma alegria.  A família tem um monte de recalques.
Não me conformo passar os dias no ler depois das mordomias.
O que é mordomia?
As hitórias serem focadas na sua pessoa.
AVC  – amanhecer sem pisar no chão.

EUCLIDES – MARIDO


Conheceram-se no banco onde Vilma trabalhava. Vilma tinha o segundo colegial.  Ela era a única mulher. Quando se encontravam no banheiro comum ele falava: “ Esta mulher ainda vai ser minha esposa!” Vilma achava-o baixinho.
Empreendedor. Tinha uma fábrica de calçado. Diante do desperdicio d couro colorido criou uns tênis para os negros dos EUA, Harley (?) NOS ANOS 70/80.  SUCESSO. Contratou um profissional para desenhar o que ele queria.


CASAMENTO:

O casamento é para sempre. Um desastre! Os outros casamentos eram piores que o meu.
A  Ana, a irmã mais nova,  nunca se casou, era sapatão.  Ao lado de Ana, Vilma sentia-se gente.

TRAIÇÃO COM O MARIDO  
           
Irmã  Luisa detestada  ( pela família)
– traiu-a com o marido de Vilma como a sua tia traiu a sua mãe com o seu pai.
Foi traída várias vezes com amigas irmã, conhecidas. Sentia-se a pior das mulheres.  O dinheiro, os presentes eram a razão das mulheres aceitarem. Ela sentia-se a pior das mulheres.  Vilma foi assediada pelo sobrinho, filho da irmã. “ A minha foi um desastre”.
A gente não sabe com quem dorme. O meu marido de baixo do pano mexia com macumba. Fez uma mão olhado para as mãos da Vilma através dum sapo. 
Obs: sagrado feminino – resgate do sagrado feminino
10/01/2020 – a mãe de Vilma teve um casamento de merda. O meu pai enganava-a com a minha tia.

RIO DE JANEIRO:

As mulheres se jogavam. Queriam ser as mais gostosas. O Rio é baderneiro, gosta de bagunça.
Foi amante do amante do Martinho da Vila mas nunca transaram.
História de dois ‘ amigos’ que na praia um deles a furtou. Ela fez denúncia e ainda foi dentro, sendo maltratada. Uma advogada que conhecera na praia a auxiliou. uma policial ainda tentou molhar as mãos, mas ela além de não ter dinheiro não aceitou.  Passou dois anos sem poder sair do marido e comparecer uma vez por mês na delegacia para assinar uma folha de presença.

MORTE DO MARIDO

Com câncer de fígado e pâncreas.
“ Oh meu Deus! Porquê eu? Dei a minha alma para o diabo!”. Euclides José – filho de emigrante espanhol paupérrimo.
Euclides às portas da morte queria que Vilma confessasse os pecados dela ao padre
Para Vilma a morte é uma incógnita.
‘ Você chora por um homem que foi filho da puta.
“ Parabéns!” – falou o médico quando Euclides morreu.

HOMENS:

Sentia raiva do marido. 






CONFLITOS EMOCIONAIS DO FÍGADO:


O fígado é um órgão que está relacionado com os conflitos de sobrevivência, sobretudo com a busca do alimento. Neuro-anatomicamente, a função inconsciente da “busca do alimento” é comandada por instâncias localizadas no tronco cerebral (cérebro reptiliano).

Esta função inconsciente cerebral é útil para despertar o instinto de sobrevivência perante a busca do alimento, quer seja REAL e/ou SIMBÓLICA. Como o inconsciente biológico não distingue o real do simbólico, o alimento pode ser considerado tudo o que está associado simbolicamente ao alimento, isto é, dinheiro, bens materiais, terrenos, tudo que permite converter o seu valor algo que permite encher as prateleiras de um frigorífico. O papel da caça e cultivo de alimentos foi relegado para funções especializadas num grupo mais restrito de indivíduos. Atualmente, numa sociedade sedentária, a busca do alimento traduz-se em dinheiro / valor monetário. “Se tenho dinheiro, tenho alimento. Se não tenho dinheiro, corro o risco de passar fome.” A doença de Kwashiorkor ocorre em crianças em estados de desnutrição (sobretudo em países do terceiro mundo), causando uma alteração morfológica no fígado, aumentando o seu volume numa espécie de híper-funcionamento na carência alimentar. Assim sendo, em casos extremos de carência alimentar, o fígado procura intensificar a sua função.

Para o inconsciente coletivo  DINHEIRO = ALIMENTO.

Todas as patologias do fígado encontram-se em relação a 3 conflitos emocionais específicos:

                  

1.       CONFLITO DE CARÊNCIA: medo de morrer à fome; medo da miséria; medo da falta de dinheiro e de valor famíliar = fome + dinheiro +família (muito relacionado com as heranças); Este conflito é comum em famílias que passaram por períodos de fome e carência e que procuram dividir os seus bens.


2.       CARÊNCIA DE FÉ (“foi” em francês, “foie” fígado), de amor, reconhecimento familiar, tudo o que se considera um alimento emocional vital. “Medo de não ter o alimento essencial para a minha sobrevivência.”; Este alimento tem uma carga simbólica mais subtil e encontra-se relacionada com princípios humanos vitais.


3.       CONFLITO DE ALIMENTO TÓXICO: quando o corpo digere um alimento tóxico, automaticamente é expelido através do reflexo faríngeo. Mas o que acontece quando o alimento se mantém? O alimento tóxico pode ser todo o tipo de contrariedades indigestas desde uma traição de um familiar, uma perda de uma herança, uma amargura com alguém muito próximo ou algo altamente indigesto e inaceitável na vida. Caso esse “bocado indigesto” se mantenha presente, as instâncias psíquicas inconscientes irão digerir o bocado através do híper-funcionamento gástrico e biliar. Neste sentido, a vesícula biliar encontra-se especialmente ligada a este tipo de conflitos, assinalando conflitos de injustiça e contrariedades familiares indigestas, onde a pessoa se mantém obrigada a aceitar essa mesmas vivências. A expressão “pessoa com maus fígados” associa-se a pessoas vingativas, ”maldosas”, movidas por um desejo de vingança e restituição da justiça.



Câncer: está associado às pessoas ressentidas;
Doenças do fígado: são apresentados por pessoas que guardam raiva e rancor


Mas seu papel mais importante, é sem dúvida, sobre o equilíbrio emocional. É o livre fluir da energia do fígado que vai nos permitir responder vitoriosamente aos desafios da vida, aos estímulos emocionais e afetivos, 24 horas por dia, cada segundo de nossa vida, sem parar.


Os sintomas do Baço e pâncreas dentro das funções sentimentais é causar tristeza, descontentamento, indisposição, perda de vontade de viver. E toda essa tristeza a falta de viver sem motivação, acaba gerando no corpo físico a Diabetes.
A tristeza ou pesar afeta diretamente esses órgãos, produzindo a fadiga, falta de ar, choro ou depressão.

VIOLÊNCIA E HONRA

Com 12 anos viu o pai embriagado bater na sogra.
A sogra de Vilma segurava na Vilma para apanhar do marido.
Um dia comentou que a cunhada estava equivocada por ter levado um beijo e achar que  tinha tido uma relação. A sogra chamou-a ao lado e  desancou-a.
Vilma sentia muita raivado marido.

AMOR

Vilma era muito bonita. Nunca se sentiu amada. Vilma amou um piloto argentino, mas nunca transaram.
Para Vilma os homens são todos iguais.  “ A gente vai caminhando pela vida e vai-se desiludindo”.

A VIÚVA ALEGRE

Quando foi assinar os papeis do funeral foi bem vestida. Vestida de vermelho. Talvez tenha escandalizado os quatrocentões.

O TURCO QUE A ASSEDIAVA:

O negócio desses homens é só querer tomar sol.  Ele tinha um pinto até ao joelho. Falou que matou a mãe.




OUTRAS RELAÇÕES

Por seleção/ eliminar: mau hálito, alegria excessiva com muito samba no pé ( a alegria excessiva esconde a mesma dose de tristeza, ri-se quando não escuta para preencher um vazio ), pão dureza, falar num canto/ fofoca.

SEXO

Rio: os homens fazem as coisas abertamente, com mais liberdade.
São Paulo: as mulheres fazem tudo camuflado.

MEMÓRIAS

Rasgou todas as fotos. “ Momentos felizes? Se eu tive nem me lembro. Quando havia bebedeira havia pancadaria.

Lembro dos 4 anos em diante. No aniversário havia uma mesa só com bolos. Com 6/7 anos o pai ofereceu-lhe um relógio. Catava as moedinhas da mãe para ela e a irmã Luisa irem ao cinema e comerem pipoca doce. 

IRMÃ ANA

A irmã Ana foi educada como um menino. Usava calças. Uma lésbica não assumida.  Uma boa escritora.  A mãe dava algumas patadas por ela ser homossexual. Segundo a Vilma, a Ana foi vitima  do que ela mesma criou. A Ana se traiu a ela mesma. Deu um pontapé na bunda da amante Maria Teresa. Deu-lhe um carro e depois queria reavê-lo. 


VIDAS ANTERIORES

“ A morte não é o fim nem o nascimento é o inicio. “
Eu não sei se vivi outras vidas ou se estou revivendo memórias dos meus antepassados.
Regressão de 200 anos num estado semi consciente. Um palácio com gladiadores/ guardas com uma lança na mão esquerda e na direita uma faca. Homens bonitos guardam duas prisioneiras:  uma rainha e uma princesa, que talvez seja eu. No meu corpo uma placa, um escudo. Eu estava presa porque fiz alguma coisa de errado.  E se for eu é assim que me sinto: aprisionada pelos atos que cometi.

Fogueira: Joana D’Arc entrando de cavalo na fogueira e fala para a Vilma: “ Entra comigo, você é uma guerreira! Você nunca se esqueça que foi uma guerreira!

Vilma diz que que a Joana D’Arc não entrou na fogueira porque foi obrigada e sim porque escolheu.  As palavras da Joana D’Arc  dão lhe força. Essa imagem aparece em momentos de de revolta. Ela sente ressentimento pelo marido.

Pesquisar sobre a vida de Joana D’Arc. Ela escutava vozes.

Quando está medicada, por exemplo, a alma se desloca. Dormindo ou dormitando transita entre o pesadelo e um estado de paz. Na frente do seu rosto uma bola brilhante gira devagar. Procura alguma coisa, a alma se desloca no vácuo.
Ela sente que está numa masmorra gostosa, ao mesmo tempo em que se sente aprisionada.  As prisioneiras foram arrastadas. Este episódio é posterior à Joana D’Arc.

ENTRE A REALIDADE E O SONHO

Apareceu um negão com uma voz rouca diferente: " Você quer casar comigo? " Estava drogado. Zombeteiro: Eu te persigo há muito tempo! O meu gostava de loira!, Vilma respondeu: Você quer casar comigo porque o seu pai gostava de loira?
O negro era operário. Ela não se casaria. Porquê?, perguntei. A minha família é racista. 

O marido aparece de outro mundo com bom humor. 

MORTE

Vilma tem medo de morrer. "  A gente não lembra quando veio no mundo. A gente também não lembra quando morre. Esperar que está semi acabado. A vida  é uma incógnita a morte também. 

DEUS

Deus tem uma luz própria. Luz divina. Estou quase chegando na morte, mas ainda não foi a minha hora. 

21 de fevereiro de 2020



 6 de Março de 2020

Sabe que queimei os miolos para saber quem  eu era. Eu gostaria de saber quem eu sou. (...) Eu poderia me engradecer. Eu me sinto superior a essas pessoas. Aqui ninguém escuta.

Filho com 8 anos apontou um revólver ao pai: Não vai bater mais  na minha mãe!

O marido drogava-se e traficava. Dizia a ela para se afastar dos filhos.