Vejo imagens tremidas. Rio-me do que desconheço. Troço do que me é estranho. Torço o nariz ao que não estou habituada. Creio que todos vivem como eu. Acho que se não vivem, pelo menos deveriam... Comparo do alto do meu pedestal feito de batata cozida as misérias do outros povos, não enxergando que o meu povo padece das mesmas misérias. Acredito que sou o que nunca alcancei. Piscando o olho acredito ver com nitidez o que se apresenta desfocado. Habituo-me aos velhos hábitos, colo-me a dogmas. Dogmas são como gomas; grudam no pensamento evitando que o cérebro seja irrigado. Deambulo por velhos caminhos achando que são novos. Deambulo sem me deixar surpreender. Nivelo por baixo. Reproduzo o que critico sem me dar conta de nivelar por baixo. De que vale um pedestal de batata cozida se não partilho as minhas questões, as minhas dúvidas, as minhas fragilidades, as minhas certezas que nada é certo? Que a morte é eminente. Que os dogmas são verdades mortas fingindo-se vivas. Que os velhos hábitos estão gastos e mortos fingindo-se vivos e eficazes. Que a eficácia só acontece quando nos entregamos humildemente. Que a humildade não é uma fraqueza e sim uma força da natureza. Que a natureza é para lá daquilo a que nos habituámos a chamar de natureza. Que voltar às raízes é disponibilizar-me a crescer, deixando que os galhos cresçam, as folhas surjam, as flores espreitem, os frutos amadureçam, as folhas sequem, caiam desnudando os galhos e que estes durem anos e décadas e séculos e nós abraçados às suas raízes sabermos o quanto é bom crescer não nivelando por baixo.
A Piu
Br, 27 de
Setembro de 2012
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