Nas suas calças de bombazine cor de tijolo,
ela senta-se no banco de trás do Fiat amarelo. Curvas e mais curvas. Pelos
caminhos de Portugal eu vi tanta coisa linda vi um mundo sem igual. Aaaarghhh
que mania essa de achar que o nosso país é o mais bonito do planeta! Pois a
mocinha até aos 18 anos reduzia-se a ir a Espanha. Ganda festa mascar aqueles
caramilhos de se agarrarem aos dentes e sentar-se em cima da munheca acabadinha
de comprar quando se passava a alfândega!
A mocinha já vai enjoada. Não sabe se é das
curvas. Se do cheiro da napa dos estofos onde o sol bate, se da condução tipo
carrinho de choque do trava arranca. Um monte de garotada lá atrás. Quatro! Não
há cá cinto, não há cá nada. As normas europeias ainda vão longe!
Param numa santa terrinha para visitar um
santa capelinha. A mocinha depara-se com um Jesus com os olhos revirados e todo
ensanguentado, pendido numa cruz. A mocinha sai cá para fora e adeus queijinho
da serra e presunto e pão e tudo.
Chegam a uma aldeola. Há bailarico. Os homens
emigraram. Velhos e crianças é oque resta. As mulheres, mesmo que jovens,
endureceram com o trabalho no campo e a falta dos seus homens. Naquele dia há
bailarico na terra. Alguns homens de outras aldeias vêm para o baile. As
mulheres, cuja a vida as desencantou, naquele dia aperaltam-se. Dia de baile,
dia de caça: ou matas ou morres. As mulheres farão tudo para ostentarem a sua
caça, mas de modo subtil. Se não já sabem! Corridas à pedrada da aldeia!
Nas suas calças de bombazine, aliás de
tirilene a mocinha volta para casa e pensa:”Caramba tantos mundos dentro dum
mundo só! E mesmo aqui ao lado!”
(pintura de Paula Rego)
A piU
Br, 1 de Setembro de 2012
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