Naquele Natal já não ia cuspir para cima da gaita de
beiços, nem articular fragmentos de versos dum menino Jesus que fora lá pelos
seus 7 anos, num Alentejo laico cristão. Nem dizer:”Linda menina! Já sabes pôr
a mesa! Uma senhora! Tás uma senhora! Mas o que eu cá gostava mesmo que um dos
meus netos fosse para a marinha!” Vá-se lá saber porquê de tal desejo! A sua
netinha provavelmente não estaria contemplada nesse sonho. De todas as formas
naquela tarde a sua jovem neta ao se sentar no chão junto à sua cama sentiu a
sua mão a navegar num liquido morno. Aaaaaarrrghhh O que é isto! Chiça!
Aaaaaahhh E agora o penico quebrou!! Ca nojoooooo! E aquele corpo inerte do lado
direito paradinho, mas a cabeçinha viva. Vivinha da silva. Bom, a limpar que
vêm aí visitas!!
- Sô Mário! SÔ MÁRIO! TÁ ME OUVIR?!! Sabe quem sou eu?
Sabe? Quem sou eu? Quem sou eu? EU?
“Olha-me esta!”, pensou a jovem neta. E o sô Mário
continuou calado, mas aquilo passou dos limites. O raça da sobrinha não parava
de repetir:”Eu? Quem sou?” Uma arara. Parece uma arara desgovernada.
Da boca meio torcida do sô Mário sai a resposta: ”Olha!...
Se não sabes quem tu és, sou eu que vou saber!?”
A jovem neta saiu dali com uma lição de humor alentejano
para o resto da vida. Talvez depois disso já não tenha havido mais nenhum Natal
com o sô Mário a dizer:”Próximo Natal já cá não tou!’ Mas a jovem neta acha que
os dois sabiam que alminhas benevolentes que se abeiram de camas de frágeis
corpos merecem rabias destas. Se não merecem, pelo menos estão a pedi-las.
A piU
BR, 6 de Agosto de 2012
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