Owen, Lara " Seu sangue é ouro, despertando para a sabedoria da menstruação", Editora Lótus 22, Viamão- RS: 2019.
Mesmo cultuando o machismo, em comparação com os demais países latino - americanos, o Brasil é também " um dos mais liberais para as mulheres". (...)
No entanto, diante dos esterótipos que produzem uma imagem distorcida da realidade, os orgãos governamentais têm multiplicado os esforços para evitar a divulgação do turismo sexual. Tentativas nesse sentido proibiram, por exemplo, a circulação de um guia turístico, outrora vendido pela internet, dirigido a estrangeiros interessados em visitar o país (...) as braileiras eram definidas como máquinas de sexo (...) classificadas em quatro grupos:
- Britney Spears: seriam as " filhinhas de papai que se vestem como a cantora". São maravilhosas, mas não deixam ninguém cantá-las. Pode esquecê-las a menos que seja apresentado a uma".
- Popozuda: é definida como "máquina de sexo bunduda. Bom para você investir seu tempo porque o motel é sempre uma possibilidade com essas maravilhas".
- Hippie/ raver: são classificadas como " garotas divertidas, fáceis de se aproximar, fáceis de conversar, difíceis de beijar, fáceis de ir para a balada".
- Balzac: seria a mulher que "quer se divertir, dançar, beber e beijar".
Sérgio do Carmo, Paulo " Prazeres e Pecados do Sexo na história do Brasil". Edições Sesc São Paulo: 2019.
Para todas nós mulheres que nos propomos a resgatar o nosso sagrado feminino tem sido um imenso desafio, pois este tem sido minimizado, perseguido, pisoteado há milhares e de anos. Há milhares e milhares de anos que trazemos na nossa memória celular guerras, batalhas, invasões, conquistas promovidas por uma lógica patriarcal, onde muitas vezes não temos acesso a caminhos de conexão interior para que possamos trazer para a consciência e nos reprogramarmos, desligando o piloto automático. Piloto esse que nos faz mover de esterótipo em esterótipo sem realmente nos questionarmos a fundo.
O espetáculo de palhaçaria feminina " Ar Dulce Ar" sobre relações abusivas e violência contra a mulher foi criado em cima das nossas experiências pessoais como mulheres, companheiras dos pais das nossas filhas, mães ameaçadas algumas vezes de morte diante dos delírios dos sujeitos. Como fazer comicidade sobre algo que nos entristece porque nos amedronta? Desafio, não? Precisamos antes de tudo de ter coragem para nos curarmos desse fantasma e depois coloca-lo em cena.
O feminicido, a misoginia existe no mundo inteiro, mas infelizmente no Brasil o índice é dos mais altos ao nível planetário. Infelizmente, esses pais no qual nos inspiramos e já piramos muitas vezes são brasileiros. Infelizmente, como estrangeira mesmo falando a mesma língua, as poucas experiências menos agradáveis ou realmente trash que tive foi com sujeitos da dita nacionalidade, ao ponto de ficar bastante apreensiva quanto à conduta dos demais sujeitos da dita nacionalidade. Gato escaladado da água tem um certo medinho...Devo dizer que esta forma de alguns brasileiros e brasileiras de enxergar a vida, o prazer, a libido, o corpo da mulher vem lá do tempo das caravelas, dos meus, dos seus, dos nossos antepassados portugueses. Como portuguesa sinto que tenho o dever, a obrigação ética de afirmar publicamente inúmeras vezes: " SINTO MUITO! FAÇAMOS A DIFERENÇA NOS PEQUENOS DETALHES DO DIA A DIA!".
E você, cara e caro leitor, que está aí desse lado lendo pacientemente este texto, que hoje talvez não tenha uma tirada jocosa porque nem sempre é para ser jocosa diante dum assunto tão sério, bora fazer diferente? Bora permitirmos-nos emanciparmos e ajudar no que pudermos a outros se emancipar avisando-nos constantemente, auto vigiando os nossos pilotos automáticos que confundem desejo e prazer com "putaria". E "putaria" é enxergarmos as mulheres, os homens e os outros tantos sexos como máquinas de sexo, almofadas que amaciam o nosso ego e as nossas carências. E nós somos muito mais bonitos e sensuais que isso! A questão não é negar que somos machistas, seja qual for o gênero, e sim desprogramar esse piloto automático para que os encontros sejam mais plenos. Cada uma e cada um fará diferença ao sair desse jogo que leva mais de 500 anos, 5, 6, 7,8.9 mil anos de patriarcado onde a mulher é usada e abusada, tal como a terra e outros seres vivos. Que a terra seja regada com sangue menstrual para fortalecer a sabedoria e a intuição e não com sangue de ignorância e boçalidade. Ajudemos-nos mutuamente nesse regresso à nossa essência, à nossa criança interior que ri e brinca inocentemente. Que o nosso prazer tenha algo de poético, artístico, transcendente.
Homens queridos, existem muitas mulheres que vos amam mesmo de verdade e desejam do fundo do coração que caminhem ao lado delas nesse resgate do que há de mais sagrado que é a Vida, onde o encontro de almas e corpos é imensamente belo e brincalhão. Orgulhemos-nos sim da humildade em trilhar um novo caminho, porque o resto que já está aí faz parte dum projeto mercantil, capitalista, neo liberal que faz de nós seres vivos produtos descartáveis, logo desprezíveis num oba oba dissonante de alegria duvidosa.
Abraços emancipatórios e até ao próximo texto!
A Piu
Campinas SP 29/01/2020
Curta a página " AR DULCE AR" e se puder, quiser, se se tocar apoie este projeto de palhaçaria feminina sobre relações abusivas. https://www.facebook.com/AR-DULCE-AR-162965127817209/
Que o nosso prazer tenha algo de poético, artístico, transcendente. |
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