sexta-feira, 4 de março de 2016

CHAMAREMOS UM POETA PARA GOVERNO

- No mundo abandonado onde então erraremos
A paixão será um só objeto e exercício. Não
me chames
De irmã, até que outro mundo venha.
Afastar possibilidades de novo convento. Nos
escombros
Acharemos irmãos. Os que nada perderam
E por nada foram esmagados, pois que não
tinham
Casas. Mas aguardaremo-nos ainda porque os
irmãos
Dirão " Fizésteis os cidadãos
Agora a cidade é nossa"
Três vezes nos trairão
Nossos irmãos: no pão, corpo
E na cidade. Não me armes cavaleiro
Das tuas angústias. Retomaríamos nos escombros
Antigos fantasmas. Recuaremos à raiz
Da nossa angústia, sozinhas, até dizermos
"Nossos filhos são filhos são gente e não
Falos dos nossos machos". Chamaremos
crianças
Às crianças, mulheres às mulheres e homens
Aos homens. Chamaremos um poeta para
governo
Da cidade. Que substitua o demiurgo
De ciclópicos trabalhos
10/3/71
Barreno, Maria Isabel, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa "Novas cartas portuguesas", Circulo do Livro, Sp/ Lisboa 1974

Sem comentários:

Enviar um comentário