sexta-feira, 28 de março de 2014

TI ANTRO (27 de Março, dia mundial do Teatro)


Volto sempre aquelas velhas e cruciais questões:"O que me faz fazer isto!"; "O que me faz continuar?!"
Olho para a estes 40 anos e penso: "Todas as escolhas que até agora fiz não me arrependo, independentemente se nem sempre tem aquele happy end à Walt Disney."

Esta foto data de 1992. Pois é, como a Mercedes Sosa canta:"El tiempo passa". Porém o tempo não tem de ser algo como um peso pesado, enfadonho e medonho. "Nós estamos por aí sem medos! Nós sem medos estamos por aí!" como canta a Elis Regina.

Muitas caminhadas aconteceram. Os tais dos encontros e desencontros. Em algumas situações, por amar tanto a arte do ator tinha sede de rigor e entrega e quando tal não acontecia aliado ao abuso de poderes vãos ( lá estou eu com o meu mau feitio) fui catalogada de conflituosa. Depois, quando párava, pensava, analisava, auto refletia perguntava-me:"Enervar-me com o menos mal e o tanto faz é ser conflituoso? Então quero ser conflituosa!" Mas no fundo, no fundo todos nós queremos se aceites. Quem não já se trata de um caso palógico (?), clinico (?). Não? Pergunto.

Aos 16 anos começo a fazer teatro na escola com um professor de filosofia que... foi um dos grandes responsáveis no meu modo de olhar a arte do ator. Ele desafiou com a questão:" Quando escolhem fazer algo porque escolhem?"

Para mim sempre fez sentido ir onde o povo está, como o Milton Nascimento canta. Ir onde o panorama cutural e artistico era inóspito inexistente. Em 1995, no Alentejo profundo, as pessoas tinham a memória dos saltimbancos nos anos 40, 50. Depois disso nada. Fiz e faço teatro de rua, teatro na rua pago pelos municipios e outras entidades institucionais para que o público tivesse acesso sem pagar. Hoje pergunto-me se isso é uma boa politica. Muitas vezes pensei que sim. Hoje questiono, visto que muitas vezes a mentalidade é:" Se é gratuito é ruim. Aquilo também eu sei fazer!" Em suma, não se valoriza. E o quanto é dificil, por vezes, o público vir... MaS também o quanto é gratificante ter pessoas de baixo de chuva marcando o lugar, limpando piso molhado para atuarmos em cima de andas/pernas de pau. Isso passou-se num festival de teatro de rua na Alemanha, no mesmo ano em que atuamos em Montemor o novo, no Alentejo para um par de idosos que estavam no banco do jardim, à torreira do calor de 40 graus nas três da tarde alentejana de um Verão paradão. Enfim... para a frente é que é caminho!

Já investi muito na formação, no trabalho. Muitas vezes a contar moedas. Outras numa boa. Outras tantas a viajar por lugares lindos com pessoas lindas e a ser tratada como uma donzela. Não me queixo. Faz todo o sentido de viajar com o trabalho que acreditamos e democratizá-lo. Sei que sou inconveniente e até mal cheirosa para alguns ao sublinhar que abomino abusos de poder e elites, porque os abusos de poder e as elites não permitem democratizar o sonho de viver, a arte de resignificar, de criar outras e novas possibilidades enquanto atores sociais.#

# com essa do abuso de poder e das elites... fico à perna! Qualquer dia encontram-me o calcanhar de Aquiles e falam:"Aahhhh afinal! Afinal! Também não és perfeita! Tives-te agora um comportamento elitista e abusas-te do teu poder!"
Pois é... Ninguém é perfeito e ainda bem! Mas há que estar atento!

Ana Piu
Brasil, 27.3.2014

imagem: 1992: Escola de formação de Actores do Centro Cultural de Évora, Portugal. Trabalhando teatro físico com textos de Racine, orientado pelo Allain Légros com Victor Correia e Ana Piu.



Foto: TI ANTRO
(27 de Março, dia mundial do Teatro)

Volto sempre aquelas velhas e cruciais questões:"O que me faz fazer isto!"; "O que me faz continuar?!"
Olho para a estes 40 anos e penso: "Todas as escolhas que até agora fiz não me arrependo, independentemente se nem sempre tem aquele happy end à Walt Disney."

Esta foto data de 1992. Pois é, como a Mercedes Sosa canta:"El tiempo passa". Porém o tempo não tem de ser algo como um peso pesado, enfadonho e medonho. "Nós estamos por aí sem medos! Nós sem medos estamos por aí!" como canta a Elis Regina.

Muitas caminhadas aconteceram. Os tais dos encontros e desencontros. Em algumas situações, por amar tanto a arte do ator tinha sede de rigor e entrega e quando tal não acontecia aliado ao abuso de poderes vãos ( lá estou eu com o meu mau feitio) fui catalogada de conflituosa. Depois, quando párava, pensava, analisava, auto refletia perguntava-me:"Enervar-me com o menos mal e o tanto faz é ser conflituoso? Então quero ser conflituosa!" Mas no fundo, no fundo todos nós queremos se aceites. Quem não já se trata de um caso palógico (?), clinico (?). Não? Pergunto.

Aos 16 anos começo a fazer teatro na escola com um professor de filosofia que... foi um dos grandes responsáveis no meu modo de olhar a arte do ator. Ele desafiou com a questão:" Quando escolhem fazer algo porque escolhem?"

Para mim sempre fez sentido ir onde o povo está, como o Milton Nascimento canta. Ir onde o panorama cutural e artistico era inóspito inexistente. Em 1995, no Alentejo profundo, as pessoas tinham a memória dos saltimbancos nos anos 40, 50. Depois disso nada. Fiz e faço teatro de rua, teatro na rua pago pelos municipios e outras entidades institucionais para que o público tivesse acesso sem pagar. Hoje pergunto-me se isso é uma boa politica. Muitas vezes pensei que sim. Hoje questiono, visto que muitas vezes a mentalidade é:" Se é gratuito é ruim. Aquilo também eu sei fazer!" Em suma, não se valoriza. E o quanto é dificil, por vezes, o público vir... MaS também o quanto é gratificante ter pessoas de baixo de chuva marcando o lugar, limpando piso molhado para atuarmos em cima de andas/pernas de pau. Isso passou-se num festival de teatro de rua na Alemanha, no mesmo ano em que atuamos em Montemor o novo, no Alentejo para um par de idosos que estavam no banco do jardim, à torreira do calor de 40 graus nas três da tarde alentejana de um Verão paradão. Enfim... para a frente é que é caminho! 

Já investi muito na formação, no trabalho. Muitas vezes a contar moedas. Outras numa boa. Outras tantas a viajar por lugares lindos com pessoas lindas e a ser tratada como uma donzela. Não me queixo. Faz todo o sentido de viajar com o trabalho que acreditamos e democratizá-lo. Sei que sou inconveniente e até mal cheirosa para alguns ao sublinhar que abomino abusos de poder e elites, porque os abusos de poder  e as elites não permitem  democratizar o sonho de viver, a arte de resignificar, de criar outras e novas possibilidades enquanto atores sociais.#

# com essa do abuso de poder e das elites... fico à perna! Qualquer dia encontram-me o calcanhar de Aquiles e falam:"Aahhhh afinal! Afinal! Também não és perfeita! Tives-te agora um comportamento elitista e abusas-te do teu poder!" 
Pois é... Ninguém é perfeito e ainda bem! Mas há que estar atento!

Ana Piu
Brasil, 27.3.2014

imagem: 1992: Escola de formação de Actores do Centro Cultural de Évora, Portugal. Trabalhando teatro físico com textos de Racine, orientado pelo Allain Légros com Victor Correia e Ana Piu.
















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