Escrevo um titulo comprido para um fim de semana prolongado cheio de emoções contraditórias e em sintonia. P...enso no que quero escrever enquanto cozinho. Penso nas minhas leituras fugazes dos livros que foram deixados na minha casa enquanto a minha amiga, que faz o mestrado sobre a ditadura militar, se presta a ir para campo.
Penso no que quero escrever sem ser demasiado extensa. (?!) Descubro passado uns minutos que frito as batatas com vinagre. Além de não costumar fritar batatas, não costumo ter vinagre em casa. Penso numa passagem de um dos livros editados pela universidade onde me encontro. Passagem essa que tem a ver com o movimento feminista brasileiro dUrante o Maio de 68, numa França onde as faxineiras são para uma elite, logo as feministas francesas lavam os seus pratos e fritam, talvez, batatas com vinagre enquanto pensam nos seus pensamentos que desejam partilhar.Desta vez não me alongo sobre esse assunto. Adiante.
Gosto sinceramente do Brasil. Queria entitular este texto de:
"O Brasil é paraíso a mais para ser realmente paraíso. Há sempre alguém que quer o paraíso só para si".
O Brasil, de maneira geral, tem um clima realmente gostoso. Um previlégio. Se sorrirmos as coisas de alguma forma facilitam-se. Muitas vezes não sorriu por fora, mas sorriu por dentro. Muitas vezes não tenho vontade nenhuma de sorrir. Talvez perca com isso. Não sei. Mas a minha verdade sei que não a perco e isso faz-me sorrir.
Mesmo tendo vontade de chorar vou para o Carnaval. No segundo dia de folia recebo a derradeira noticia que eu tanto temia e esperava há anos: a minha grande mãe partiu. Vou para o bloco. Assim que escuto os batuques sai um "Aaaaaahhhhh" do fundo de mim. O Brasil sem batuques, sem africanidade não seria a mesma coisa. Não seria. Logo a seguir as lágrimas caem não lembro se olho para cima ou para baixo e falo dentro de mim: "Estas batucadas são em homenagem a ti, minha querida grande mãe. Sei que não me vais levar a mal da vida continuar. Assim sei. Quero te muito bem e toda e qualquer música que me faz vibrar será para te enviar boa energia, querida grande mãe!"
No dia seguinte voltamos para o bloco. Gosto de Barão. As meninas estão cansadas e voltamos mais cedo para casa. Mais tarde a policia militar atua sobre os foliões com bastonadas e gás lacrimogénio. Diz-se que o pessoal do funki, os funkeiros não tem autorização para se juntarem à festa, muito menos com a sua música. Pessoalmente não aprecio a sua música, porém festa é festa. Autorização para festa é mais uma burocracia, mecanismo de control com resquicios ditatoriais.
Desta não me vou estender demasiado, porém não posso deixar passar a oportunidade de dizer: quando vem com a conversa que a burocracia brasileira é herança dos portugueses... Xina maaaan! Bora lá combinar! Das duas uma ou estamos a brincar à cabra cega ou ao esconde esconde, que na minha santa (?) terrinha denomina-se por escondidas. Bora lá olhar para o século XX e confirmar que foi pautado pela ditadura "uma no cravo outra na ferradura" do Getúlio Vargas", mais a silenciada verdade da mais recente ditadura militar.E convenhamos! O portuga colono já saiu daqui há 200 anos! Não vem que não tem! Aaaaaahhhh! Queres ver que tenho que ajustar contas com os romanos que imperaram as terras lusas há uns bons séculos atrás ou até mesmo com os mouros, mais os espanhois assim como com os franceses napoleónicos que invadiram o Portugalito?!? Vááááá! Vamos nos concentrar!
Enfim, não me vou alongar mais. Deixo aqui um trecho do Mia Couto para rematar esta fala, na sequência da ação da PM no Barão folião a uma população que ao que consta ainda se insurgiu contra os funkeiros, os pobres, os bagunçeiros, aqueles que são fruto da maior violência. Violência essa que é sentirem na pele a desigualdade social no seu dia a dia (mas atenção! estas minhas palavras para muitos podem soar panfletárias. Curioso pensar de que lugar nos encontramos quando pensamos e agimos de determinada forma). Lá vai trecho do Mia:
Há um jovem sociólogo moçambicano, chamado Patrício Langa que escreveu o seguinte:"Ninguém é mais ou menos moçambicano por tocar aquilo que toca.Todos nos podemos moçambicanar no que fazemos, todos podemos moçambicanar o que fazemos. A música não é uma excepção. Não suportaria viver num país em que se escutasse apenas a música de José Mucavale, por mais moçambicana, moral, politicamente correcta que fosse, por mais educada e etnomusical que fosse. Tenho verdadeira fobia da pretensão do que se apresenta como "genuíno" ou como "autêntico". Foi essa pretensão que criou os nazismos, foi essa pretensão que Mobutus com suas ideias de autenticidade africana. Não queremos mais produtores de identidades assassinas" (Mia Couto "E se Obama fosse africano e outras interinvenções", Caminho, Lisboa: 2009)
Pipiripipiu
Ana Piu
Brasil, 5.3.2014
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