sexta-feira, 14 de março de 2014

As outras violências

Neste encontro iremos falar da Não-Violência no contexto do progresso social. Eu acho extremamente interessante que se abordem temas em Moçambique, sobretudo se  fizermos de maneira inovadora e com abertura para encontrar soluções. Existe nos nossos países- eu falo de nosso continente- uma tendência para substituir o pensamento crítico pela facilidade de apontar culpas e crucificar culpados. O mundo surge como uma coisa simplificada em que os culpados são os outros e as vítimas somos sempre nós. Esta facilidade é muita tentadora, mas é uma mentira. (...)

Todo o  o nosso discurso continua centrado na culpabilização do passado colonial e da dominação estrangeira. A culpa é sempre do Outro. Esse outro pode ser uma outra raça, uma outra etnia, uma outra religião. Nós estamos sempre isentos de procurar dentro de nós as causas profundas dos nossos problemas. (...)

Existe, enfim, a violência terrível que é o vivermos com medo. Existe essa outra violência maior que é considerarmos a violência como um facto normal. (...)

Esquecer os deveres básicos da solidariedade é uma violência, uma cobardia escondida em nome do bom-senso. (...)

Esquecemos que todos os povos do mundo são pacíficos, à partida. Os povos não são um produto genético, imutável. São produto da História. E a História pode facilmente converter os desejos de paz em violência pessoal e social. (...)

Porque temos ideias preconceituosas sobre nós mesmos, ficamos surpreendidos e não sabemos como reagir perante as repentinas irrupções de violência. E ficamos satisfeitos por encontrar culpados. (...) Nós falamos  da reacção violenta de cidadãos pobres contra um sistema que produz pobreza. (...0 E nós temos de curar a doença e não apenas os sintomas. (...)

Ser rico é produzir emprego. Ser rico é produzir riqueza. (...)

Grande parte dos problemas resulta de ficarmos calados quando podemos pensar e falar.
Marthin Luther King dizia: " Mais grave que o ruído causado pelos homens maus é o silêncio cúmplice dos homens bons que aceitam a resignação do silêncio."

Couto, Mia "E se Obama fosse africano e outras interinvenções" Caminho, Lisboa: 2009


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