quinta-feira, 13 de março de 2014

SEM TITULO

Os dias nem são fáceis nem difíceis. Uns dias mais fáceis, outros mais difíceis. Muitas vezes dificultamos a vida uns aos outros porque achamos que assim é que deve ser. Fugimos da simplicidade como se ela não fosse profunda, como se a simplicidade não fosse aquele traço que abarca complexidades, paletas de mil fatores para que o mundo não se encerre no nosso ponto de vista, não se encerre no nosso circuito de vivências, nas nossas ideias preconcebidas até mesmo de que não somos preconceituosos. Quantas vezes o nosso preconceito é alegar que não somos preconceituosos?

Porém, quando os nossos alicerces, aquilo que achávamos como quase certo começa a ruir tentamos sorrir e fingir que não se passa nada. Sofisticadamente encontramos nomes, conceitos, conjecturas tais para pensar o que outros, até mesmo alguns de nós em algumas circunstâncias, sofrem na pele.

Ontem, José Eduardo Soares deu uma aula de Antropologia  inaugural. É interessante escutar pessoas que expõem ideias com clareza e despojamento, que não precisam de afirmar que são, porque já são. É bom, até diria delicioso, escutar uma pessoa erudita que sorri e tem humor. Tantas vezes isso é raro que quando acontece é como uma lufada de ar fresco. Não será o humor é uma capacidade que não se ensina, mas que se aprende e exercita-se que revela inteligência emocional? Uma coisa, entre muitas, que foi marcante na sua fala e que é para levar bem guardado no cérebro, no coração e em  todo e qual parte do corpo alma que reproduza e manifeste inteligência foi a seguinte: "Quando alguém aponta uma arma está estendendo uma mão. Estender uma mão é um pedido de socorro, de empatia, um pedido de reconhecimento pela sua existência. Tirando aqueles que a usam tecnicamente." Interessante, não? Quando alguém não é inserido, reconhecido, logo violentado muitas vezes procura mecanismo desajeitados para chamar a atenção. Dá que pensar quanto a nós, atores sociais, como nos colocamos. Será que muitas vezes não agredimos, mesmo que involuntariamente? Será que quando alguém nos tenta agredir a nossa resposta pode ser mais empática? Manter a calma é um desafio, reagir é uma prática. Enfim... Ser e estar aprende-se com a vida vivida.

Nessa aula cujo o titulo era :" Escravo, xamã, parangolé e rolezinho: escrever o social depois de Junho na primeira pessoa" falou-se também da luta dos garis. Pois... Quem limpa o "nosso' lixo se esse pessoal pára?

No debate final falou-se com algum tom de preocupação que jornais internacionais europeus cobriam a noticia dos garis (homens do lixo em greve no Rio de Janeiro) que no Brasil a escravatura ainda vigora! Claro que vigora! Qual é a dúvida? Os gringos não dormem, por vezes sonham com o trópicos, mas a escravatura, a segregação, a homofobia, o machismo está à vista de todos. Ou não? Ou quem se desloca de helicóptero não olha pela janela enquanto lê a Time e o Le Monde Diplomatique? E quando chega a casa bebe um suco de laranja servido por alguém e toma um banho no seu jacuzzi de sorriso cansado, porque amanhã é mais um dia de reuniões e escritório? Ou andamos tão preocupados com a nossa vida o nosso futuro individual que esquecemos voluntaria ou involuntariamente de olhar para o que nos rodeia e interagir?

O professor José Eduardo dos Santos ainda afirmou a uma dada altura que muitas vezes as pessoas que não são acadêmicas sabem mais do que se passa na vida social. Sim. Não? Talvez? Qual é a dúvida?


Ana Piu
Brasil, 13.3.2014






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