As mulheres quando enraizadas adoram elfos e seres que fazem da vida uma melodia. Que se movem a música. |
A Adelvane Neia pediu-me um depoimento sobre a minha experiência nas duas edições anteriores de "Qual a sua graça palhaça?". Fiquei uns dias a reorganizar sentimentos e reflexões. Algumas vezes escrevo espontânea e automaticamente, outras penso e quando chego na parte da escrita a coisa também vai numa escrita fluida sem grandes racionalizações. Espero transmitir isso.
Comecemos então por aí. O trabalho que a Adelvane desenvolve de comicidade feminina centra-se no sentir, no sensorial e no corpóreo. Sentir com o corpo, a respiração, dançar as ações.
Trabalhar a comicidade e a poética feminina é uma especificidade da linguagem do palhaço. Não significa que nos fechemos em pequenos nichos ditos feministas e diabolizadores da figura masculina. No meu ponto de vista é exatamente o contrário! Repensar-me como mulher com outras mulheres, para depois num momento seguinte atrair, convidar os homens. E aí repensarmos juntos a feminilidade, a masculinidade, a hibridez que há em todos nós. Sermos seres mais sensíveis e atentos, honrando a relação que mantemos uns com os outros, sem nunca esquecer de nos rimos de nós mesmos e através da poesia do ridículo sonharmos e construirmos um mundo emocionalmente mais sustentável. Mais solidário, com mais Amor, com mais verdade interior.
Sim, para mim é importante trabalhar umas vezes só com mulheres e outras tantas com homens que estão dispostas a criar uma relação de igualdade, de cooperação.
Como mulher, mãe. cidadã, palhaça aos 42 anos, na estrada das teatradas desde 1990, é importante repensar o meu corpo, a minha feminilidade, homenagear as minhas ancestrais que é a minha mãe, a minha avó e as outras todas que vieram antes de nós.
Em sala de trabalho tenho tido essa oportunidade com a Adelvane. Estou-lhe muito grata por isso, pois há quase quatro anos, vinda de Lisboa/ Portugal, faço o que posso criar raízes e laços em Barão Geraldo para voar para mundo e ter uma base física e emocional para voltar. Saber que não estou só e que podemos caminhar juntas.
GRATIDÃO, Adelvane, pelo nosso encontro que se tem vindo a construir ao longo destes três anos!
Ana Piu
Brasil, 23.11.2015
Mulher palhaça. Aprender a direcionar o seu próprio voo. imagem: Ruth Law ( em 1912 com a idade de 21 anos em Orville Wright) , primeira mulher a pilotar |
Mulher palhaça. Voltar às raízes. Desnudar-se. Rir-se de si mesma para novas folhas e frutos crescerem. |
Mulher palhaça. Voltar ao lar, a si mesma, para se re habitar. |
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