terça-feira, 10 de novembro de 2015

CARTA ABERTA À LEE

O que resta fazer quando o conservadorismo é mais que demais
A cutucação das piratas do Tietê
Querida Rita, querida Lee

eu cresci a ouvir a sua música lá nos idos finais dos anos 70 e ao longo dos anos 80 do outro lado do mar, na terra de origem da Carmen Miranda. " A gente faz amor por telepatia (...) nada melhor que não fazer nada só p'ra deitar e rolar com você!"; "Baila comigo! Como se baila na tribo!" Muito bom!

Sim, eu era uma criança, mas era o que passava na rádio. Imagine Rita! Enquanto por terras brasileiras se vivia ainda a tal da dita, da dura, nós por lá descobríamos ares de liberdade após 48 anos de fascismo e 500 de imperialismo com música e literatura brasileira. Incrível! Inspirador!

Nessa época eu desconhecia que o Brasil andava de botas duras. Era criança. No meu imaginário o Brasil era um imenso Sitio do Pica Pau Amarelo.

Tenho de te falar em tom de provocação, que nesse aspecto você é inspiradora: Vou pedir uma indemnização/ indenização* ao governo brasileiro pela propaganda enganosa! Andei convencida anos e anos que o Brasil era muito à frente e não era careta, conservador!

Ah Lee! Ah Rita! A minha ingenuidade! Veja só! Onde a desigualdade é tão marcante como é que não pode ser careta?! A desigualdade é careta porque carece de educação, de reflexão, de paz, de justiça. A desigualdade é uma violência, mas há os que privilegiados são que se sentem muito ofendidos por dizermos tal coisa. Ainda para mais uma estrangeira! Ainda para mais uma portuguesa! Vejam só! Ainda para mais uma mulher! Ainda para mais uma atriz! Uma palhaça! Uma... uma... atrevida que se atreve em estudar antropologia, entre a nata da nata. Pois.... será que ser mãe duma menina brasileira altera em alguma coisa?



 * detalhe diplomático no acordo ortográfico


Ana Piu
Brasil, 10.11.2015



Da paz


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