O sagrado e o sensual/sexual vivem muito
próximos um do outro na psique, pois eles despertam nossa atenção por meio de
uma sensação de assombro, não por alguma racionalização, mas pela vivência de
alguma experiência física do corpo, algo que instantaneamente ou para sempre
nos muda, nos sacode, nos leva ao ápice, abranda nossas rugas,-nos dá um passo
de dança, um assobio, uma verdadeira explosão de vida. No sagrado, no obsceno,
no sexual, há sempre uma risada selvagem à espera, um curto período de riso silencioso,
a gargalhada de velha obscena, o chiado que é um riso, a risada que é selvagem
e animalesca ou o trinado que é como uma volata. O riso é um lado oculto da
sexualidade feminina: ele é físico, essencial, arrebatado, revitalizante e,
portanto, excitante. É um tipo de sexualidade que não tem objetivo, como a
excitação genital. É uma sexualidade da alegria, só pelo momento, um verdadeiro
amor sensual que voa solto e que vive, morre e volta a viver da sua própria
energia. Ele é sagrado por ser tão medicinal. É sensual por despertar o corpo e
as emoções. Ele é sexual por ser excitante e gerar ondas de prazer. Ele não é
unidimensional, pois o riso é algo que compartilhamos com nosso próprio self
bem como com muitos outros. É a sexualidade mais selvagem da mulher.
PINKOLA ESTES, CLARISSA. MULHERES
QUE CORREM COM OS LOBOS
Mitos e histórias
do arquétipo da mulher selvagem. ROCCO
Rio de Janeiro
1999.
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