sexta-feira, 13 de setembro de 2013

SEXTA FEIRA 13 ou ONTEM UMA VACA PRETA ATRAVESSOU-SE NA FRENTE DO CARRO

Vou fingir que sou forte, que aguento tudo
Vou fingir que sei fingir e que é muita bom fingir que se finge
Vou fingir que nada me incomoda, que nada me causa transtorno
Vou fingir que nunca tive nem tenho medo
Vou fingir que nunca boicotei os meus mais intimos desejos
Vou fingir que está tudo bem, está tudo sempre bem
Que não trabalhei até ao final da gravidez, que fui para casa dois meses sem licença de vencimento
E que não faz mal
Vou fingir que nunca fui explorada
Vou fingir que não estou cansada de ser precária
Vou fingir que nunca paguei a conta de ser mulher e de fazer as minhas escolhas
Vou fingir que somos todos sempre em qualquer cuircunstância solidários
Vou fingir-me distraida
Vou fingir que não sei que incomodo ninguém por falar, por meter o dedo na ferida
Vou fingir que a vaidade é uma virtude
Vou fingir que me borrifo para a erudição, para me rir de seguida daqueles que só usam a erudição para ostentação e não para partilhar e transformar este louco mundo
Vou fingir que adoro leviandade
Vou fingir que a nossa infantilice é super engraçada (alguma é. Outra....)
Que adoro que nos tratemos uns aos outros como caixinhas de izopor para jogar fora no segundo seguinte
Vou fingir que as garagalhadas socias estridentes são verdadeiras, genuinas
Vou fingir que esta sociedade de consumo e de suposto conforto é ÓTIMA
Vou fingir que não somos uns meninos mimados, bebés chorões sem eira nem beira
Vou fingir que não vale a pena estarmos juntos
Vou fingir que me valho sózinha
Vou fingir que os humanistas são realmente humanistas
Vou fingir que os grandes discursos bastam
Vou fingir que aquela paixão camuflada por algo ou alguém é suficiente
Vou fingir que não faz mal nos desprezarmos
Vou até fingir que trairmos a confiança uns dos outros é que é o correto
Vou fingir ser amarga, porque sei muito intimimaente que quero manter a minha doçura
Vou me fingir mal humorada para que no instante seguinte solteuma ruidosa gargalhada
Vou fingir que não me perdoo nem perdoo, porque assim no seguinte instante poderei surpreender com um abraço caloroso
Vou fingir que os abraços calorosos não são precisos
Vou fingir que a precariedade não rouba tranquilidade para se cuidar e amar de quem se quer bem

A piU
Barão Gerê, 13.09.2013



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