quinta-feira, 5 de setembro de 2013

CARTA


Meu querido Portugal à beira mar pranteado,

como vai a saudinha? Bem sei que é Verão , os dias são grandes e maravilhosos para dar um mergulho na praia. Hoje deve estar cheia a praia. Com crise ou sem crise umas cervejolas não faltam, não é? Eu sei! Escrevo pranteado e não plantado pois lá nos alentejos profundos prantear é ficar. Logo faço o jogo de palavras entre pranto (choro) e prantear-me (ficar). Ouvi dizer, muito por alto, que vais proibir os piropos. À pressa procuro no dicionário de antônimos e sinônimos (pelo acento circunflexo já percebeste que é brasileiro! ) o sinónimo de piropo. Não encontro e vou a elogio. Essa palavra tão bela que muda relações e até pode mudar um bocadinho do mundo! Então queres proibir o piropo? Tá certo. E já agora, as portuguesinhas trigueirinhas voltarão a usar cinto de castidade quando os seus amados e amantes emigrarem nesse país que está a fechar, não sei bem se é para balanço da casa ou falência definitiva? Não te escapas desta Portugalito! Ouvi dizer que pensas fechar TAMBÉM a Cinemateca Portuguesa, que além de preços democráticos é um marco importantissimo na divulgação de cinema? Falo de cinema retrospectivo, de realizadores. Não do cinema pipoca de shopping. Agora entendo porque queres proibir o piropo, o elogio. Porque cada vez há menos a elogiar-te. ÉS OU NÃO ÉS? que questão, ããã? Queres entristecer ainda mais o teu povo, não é? Porque assim podes fazer de ti um imenso resort cheio de campos de golf onde os nativos se sentem nada. Nem um piropo, elogio são dignos de tecerem uns aos outros. Não falo de porcalhices do tipo:"Oh boa! Fazia-te a folha! Grandas mamas!" Não, isso pode explicar aos teus viris nativos que mete nojo às delicadas trigueirinhas. Mas podes dizer que um elogio, uma admiração sentida, um valorizar o outro é super, mas super fixe e transformador. Por exemplo:" Gosto tanto de ti, admiro-te tanto que não me importava de derreter-me num abraço teu." É bom dizer isto a alguém, não achas Portugalito? Um dia, quando tomares juízo nessa tua cabeçinha maluca também desejo dizer-te o mesmo. Por agora, espero que te voltes a concentrar. Eu tenho calma. Sem pressas. Mas aviso já que há limites para a paciência. Achas que deva esperar? Olha eu estou aqui e vou ficar por aqui. Mas gostava de te saber mais saudável. Faz-me sorrir e até rir com gosto de te saber bem. Cansei de prantear por ti. Sa ra va?

A piU
BR, 31.08.2013
IMAGEM: João Abel Manta


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