quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A MEDALHINHA QUE HÁ EM MIM

As meninas Vivian com moinhos de vento, Paula Rego

Ontem às 22.38 do horário de Brasilia recebia do meu querido pai uma latita para colocar lápis, pinceis, pen drives e afins. "Só recebes a latita se souberes quem é a pintura da tampa da lata!" "Paula Rego, páááá! Nem dás luta!" Dentro da latita vem daqueles kits viagem de avião. Uma daquelas máscaras para os olhos dormirem e uma toalhinha. Bom acho que vou usar essa tapadeira de olhos durante o dia para ver se apuro um pouco os outros sentidos. A toalhinha será para limpar as esfoladelas e suores prováveis de supostos acidentes.

Às 22.38 já eram 2.38 na minha terra natal. Pois é, não me esqueço das minhas raízes dando um chute bem forte nos patriotismos caducos que só separam pessoas.

Tenho uma medalhinha que comprei a um artesão em Buenos Aires. O nosso mundo é feito de medalhinhas. Não é mesmo? A cada instante somos medalhados, tresmalhados, condecorados, descorados, classificados, descalcificados.  A minha medalhinha não é mais nem menos que um garfo com três dentes e sem cabo, com dois olhinhos e um sorriso simpático. Um olho de cada cor. Um cor de sol e outro cor de folha de árvore reluzente sobre esse sol. Trago a medalhinha portenha num fio a que chamo colar. É a minha cara, a medalhinha. Não se trata de uma colher e sim de um garfo. Uma cara com cabelo em pé, um olho de cada cor e um sorriso.  Um garfo que espeta para acolher que olha  ou que tenta olhar de diferentes perspectivas, que sorri e que tudo faz por sorrir. Muitas vezes o sorriso não se expressa no rosto mas é expressamente necessário olhar a vida com um sorriso. Nem sempre acontece! Mas faz-se por isso. Não se pode ser tudo nem ter tudo. E o que é ter tudo? Será que quem tem tudo não dá o devido valor a cada conquista, a cada gesto? Por vezes andamos distraidos. Pois é."Quem tem mãe tem tudo, quem não tem mãe não tem nada.", diz o porvérbio. Bom, eu não tenho tudo então. A minha mãe já foi há um bom tempo atrás, tinha eu 11 anos. Nesta altura do texto já uns peitos se apertam e umas lagrimitas acenam. Porém nunca quiz que tivessem pena de mim. Por vezes omitia tal informação emocional. Defesas. Sinto a falta dela. Claro que sinto! Mas tenho um pai! Veio-nos visitar e ajudar-me um pouco. É bom. Também queria que a minha mãe que me deu à luz estivesse aqui, mas nem sempre é possivel ter tudo o que desejamos.

Será que entrei na ternura dos quarenta?! Que pirosada!!!! Que bregada!!!! Ternura dos quarenta! tzzzzzzzA ternura é sempre que nós queremos. Aiiiii outra pirosadaaaaaa!!! brrrrrrrr Daqui a pouco estou a falar da crise dos quarenta. Nãããã! Cansei de crises. Crises existenciais, crises de valores, crises financeiras. A bem dizer ando aqui numa viragem existencial. Balanços. Não fora eu do signo balança/ libra. De vez em quando a coisa balança, peso daqui, peso de acolá, mas sempre procurando o equilibrio. De vez em quando sinto-me como um moinho de vento. Ar. Ar. Mas não somos vento? Sentimento? Energia e movimento? A ver se a minha medalhinha feita de garfo com dois olhinhos e um sorriso trará sorte, harmonia, tranquilidade. Sorte? Pois é! Sorte! Será que a sorte existe ou somos nós que a atraimos?

Medalhinha, medalhinha do meu coração se eu vacilar muito nesta vida dá-me um abanão.


pipiripipiu
Br, 26.09.2013

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