quarta-feira, 1 de maio de 2013

UMA LINHA FINA, MUITO FINA



Corremos atrás da vida. Corremos à frente da morte. Corremos lado a lado entre a vida e morte. Corremos para nos encontrarmos. Corremos para nos fugir, assim, de nós mesmos. Fugimos para não nos depararmos diante de nós mesmos. Fugimos de nós mesmos porque a plenitude assusta. Assusta sermos quem somos. Então corremos. Corremos para nos ocuparmos, nos desviarmos do nosso silêncio, da nossa imobilidade. Convencidos que nos encontrámos, dissertamos sobre conhecimentos elevados, convencidos que a que simplicidade é menor. Quando descobrimos, quando nos revelamos diante de nós mesmos, que a simplicidade é um mundo imenso então o que nos resta é viver; deixando que a poeira tome o seu caminho. Que pouse. Que volte a se levantar. Que rodopie nas correntes de ar de portas entreabertas, de janelas de vidros quebrados. Depois essa linha ténue que divide a vida da morte é tomada com cuidado na ponta dos dedos. Um dia, os dedos ficarão cansados, de movimentos quebrados, mas essa linha continuará lá se os dedos segurarem suavemente essa linha. Depois a linha tomará o seu próprio rumo e os dedos deixar-se-ão levar, permitindo que a linha que liga uns dedos de um alguém a outros alguéns não quebre nunca. Essa linha é composta de memórias, de carinhos, de mal entendidos, de reconciliações, de empatia. Essa linha não se quebrará enquanto a memória da empatia permanecer. Simplesmente.

A piu
Br, 1 de Maio de 2013







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