"Partidos dali, houveram vista daquele grande e notável cabo, ao qual
por causa dos perigos e tormentas em o dobrar lhe puseram o nome de
Tormentoso, mas el-rei D. João II lhe chamou cabo da Boa Esperança, por
aquilo que prometia (...)
João de Barros, Décadas da Ásia.
Dias e dias ao largo. Durante e dias e dias navegaram para sul desnorteado. Primeiro a brisa no rosto, depois grossas gotas rasgando esperanças, assombrando desejos grandes ondas se levantavam. Ondas de linguas mortíferas atormentavam o sonho de ir mais além. Balançaram a dança do fim. Bocas imensas de escorbuto escancaravam-se de espanto, de medo. De um medo tão profundo que os fazia ir mais além, da morte. As mãos como troncos de carvalhos agarravam-se à vida. Já nada tinham perder, porém o seu instinto de sobrevivência gritava surdo das bocas escancaradas de escorbuto. Degredados, exilados, aventureiros, muitos indesejados na sua terra natal rumavam para sul tentando encontrar um norte para os seus caminhos. Cada um seguia por motivações várias, mas naquele momento, naquele preciso momento de turbulência cujo a vida quase se dissolve na espuma dos cânticos da sereia se agarraram à boa esperança de resistirem e sobreviverem sãos e salvos. E no final levaram a cabo essa emboscasda. A emboscada de se salvarem. E salvaram-se, mas as promessas tiveram das criar e realizar e isso foi novamente uma tormentanta banhada de esperança que ora se desvanecia ora submergia.
A piU
Br, 15 de Maio de 2013
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