segunda-feira, 26 de novembro de 2012

ESTE MEU ROSNAR


Meu querido diário, lá no meu bairro os garotos correm atrás dos lagartos para os comer. Bilhaqueeee Penso e sinto . Mas bilhaque porquê?, pergunto-me. Porque sou uma urbanoÍde enojada com manias de neo rural ou porque gosto realmente de lagartos e lagartixas a saracotearem no quintal? Não me causam fornicoques. E as chitalhada das moscas nem vê-las. Mosca, esse bicho chato. Quantos aos mosquitos/ pernilongos já não dá para dizer o mesmo. De noite é aquele zumzibar e aquele ferroar que desconfio que a ópera do meu roncar advém de tal bicharada.
Meu querido diário,  ontem vi o coelho que visita o meu quintal numa correria objetiva, sobrevivente. E porquê? Um gato quase que o pegava. P pior, meu querido diário, é que o filho da gata do gato, aliás da gata!, andou durante a noite nas imediações.  E porquê? Porque está com o cio. Tentou entrar pela janela da cozinha e quebrou um copo de vidro com o rosnar da fera bera. Do meu rosnar! Também rosno quando não sou pontual. Aaaarggghhhhh Esse terrível hábito de querer ser pontual e não falhar aos afazeres. Confesso que tenho me despistado um pouco com os meus afazeres. Consultas de dentista, assinaturas em cadernetas escolares. Mas prometo a mim mesma focar-me e não rosnar tanto comigo.
Meu querido diário,  ontem a Martita que vive na Dinamarca fez uma visita. Ela esteve em Israel. Eu já não sei o que pensar dessa maluqueira que dura há décadas. Só sei que matam pessoas inocente  em nome da religião, da territorialidade, da identidade e do diabo a quatro. Que mundo louco este que temos acesso à informação (mas que informação?) e não podemos interceder quase nada.
Será que quando não conseguimos vencê-los juntamos-nos a eles? Mas a eles quem? Aos que não cumprem os acordos de paz, aos que não cumprem com a sua palavra e já agora aos que não são pontuais. Mas será que é assim tão importante ser pontual? Eu cá acho que sim. Pelo menos as pessoas com quem eu tenho trabalhado que levam isso como exigência  fizeram-me crescer batuladas.
Meu querido diário,  ontem vi uma moça do outro lado da rua. A sua linguagem corporal dizia-me que não deveria ser brasileira. Um jeito subtilmente nervoso, agitado. Quando repreendeu o cão que urinava uma esquina percebi que era portuguesa de Portugal. Será que este jeito “neurótico” de ser português vem no “nosso” ADN?
Meu querido diário,  ontem tentei deslocar-me somente da minha bicicleta em segunda mão. Ploftt um pneu! Constatei que “só” nos países onde o consumo é sublinhante (os ditos países desenvolvidos) é que o pessoal consegue comprar em segunda mão artigos praticamente novos e baratos. Pudera! É o consome ou nem chega a consumir e a deitar fora.
Meu querido diário,  ontem deixei a mala do carro aberta com a mala do show da Marta lá dentro.  Ninguém abriu. Ninguém roubou. Meu querido diário, destas avarias com chaves esquecidas em portas já são muitas. Será que tenho uma sorte de ouro ou influencia  eu não viver em condomínio fechado em casa isoladas? A Marta chamou-me palhaça. Eu acrescentei :”Palhaça portuguesa. Aliás! Palhaça portuguesa com costela alentejana.!” Meu querido diário, gosto de ser palhaça, de ser portuguesa e de ter costela alentejana. Porém, a neurose coletiva que se vive em terras lusas fazem-me rosnar e perguntar-me: ”O que ainda me faz estar ligada a um país que as pessoas boicotam a sua vida, que preferem colocar barreiras nos seus sonhos vivendo uma vida de frustração num mundo do “inho” e do “ando”? Do coitadinho, do pobrezinho, do pequenino, do obrigadinho, do medinho, do cola com cuspinho, do vai-se andando no carrinho do Armando: Umas vezes a pé, outras caminhando”.
Meu querido diário, acho que não é nada boa ideia de juntar-me a eles se não conseguir vencer. Mas antes demais tenho de vencer este meu rosnar.

A piU
BR, NOV.2012

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