Meu querido diário, lá no meu bairro os garotos correm atrás
dos lagartos para os comer. Bilhaqueeee Penso e sinto . Mas bilhaque porquê?,
pergunto-me. Porque sou uma urbanoÍde enojada com manias de neo rural ou porque
gosto realmente de lagartos e lagartixas a saracotearem no quintal? Não me
causam fornicoques. E as chitalhada das moscas nem vê-las. Mosca, esse bicho
chato. Quantos aos mosquitos/ pernilongos já não dá para dizer o mesmo. De
noite é aquele zumzibar e aquele ferroar que desconfio que a ópera do meu roncar
advém de tal bicharada.
Meu querido diário, ontem
vi o coelho que visita o meu quintal numa correria objetiva, sobrevivente. E
porquê? Um gato quase que o pegava. P pior, meu querido diário, é que o filho
da gata do gato, aliás da gata!, andou durante a noite nas imediações. E porquê? Porque está com o cio. Tentou entrar
pela janela da cozinha e quebrou um copo de vidro com o rosnar da fera bera. Do
meu rosnar! Também rosno quando não sou pontual. Aaaarggghhhhh Esse terrível hábito
de querer ser pontual e não falhar aos afazeres. Confesso que tenho me
despistado um pouco com os meus afazeres. Consultas de dentista, assinaturas em
cadernetas escolares. Mas prometo a mim mesma focar-me e não rosnar tanto
comigo.
Meu querido diário, ontem
a Martita que vive na Dinamarca fez uma visita. Ela esteve em Israel. Eu já não
sei o que pensar dessa maluqueira que dura há décadas. Só sei que matam pessoas
inocente em nome da religião, da territorialidade,
da identidade e do diabo a quatro. Que mundo louco este que temos acesso à
informação (mas que informação?) e não podemos interceder quase nada.
Será que quando não conseguimos vencê-los juntamos-nos a
eles? Mas a eles quem? Aos que não cumprem os acordos de paz, aos que não cumprem
com a sua palavra e já agora aos que não são pontuais. Mas será que é assim tão
importante ser pontual? Eu cá acho que sim. Pelo menos as pessoas com quem eu
tenho trabalhado que levam isso como exigência fizeram-me crescer batuladas.
Meu querido diário, ontem
vi uma moça do outro lado da rua. A sua linguagem corporal dizia-me que não
deveria ser brasileira. Um jeito subtilmente nervoso, agitado. Quando
repreendeu o cão que urinava uma esquina percebi que era portuguesa de
Portugal. Será que este jeito “neurótico” de ser português vem no “nosso” ADN?
Meu querido diário, ontem
tentei deslocar-me somente da minha bicicleta em segunda mão. Ploftt um pneu!
Constatei que “só” nos países onde o consumo é sublinhante (os ditos países
desenvolvidos) é que o pessoal consegue comprar em segunda mão artigos praticamente
novos e baratos. Pudera! É o consome ou nem chega a consumir e a deitar fora.
Meu querido diário, ontem deixei a mala do carro aberta com a mala
do show da Marta lá dentro. Ninguém
abriu. Ninguém roubou. Meu querido diário, destas avarias com chaves esquecidas
em portas já são muitas. Será que tenho uma sorte de ouro ou influencia eu não viver em condomínio fechado em casa isoladas?
A Marta chamou-me palhaça. Eu acrescentei :”Palhaça portuguesa. Aliás! Palhaça
portuguesa com costela alentejana.!” Meu querido diário, gosto de ser palhaça,
de ser portuguesa e de ter costela alentejana. Porém, a neurose coletiva que se
vive em terras lusas fazem-me rosnar e perguntar-me: ”O que ainda me faz estar
ligada a um país que as pessoas boicotam a sua vida, que preferem colocar
barreiras nos seus sonhos vivendo uma vida de frustração num mundo do “inho” e
do “ando”? Do coitadinho, do pobrezinho, do pequenino, do obrigadinho, do
medinho, do cola com cuspinho, do vai-se andando no carrinho do Armando: Umas
vezes a pé, outras caminhando”.
Meu querido diário, acho que não é nada boa ideia de
juntar-me a eles se não conseguir vencer. Mas antes demais tenho de vencer este
meu rosnar.
A piU
BR, NOV.2012
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