domingo, 2 de janeiro de 2022

ENTRE MANGAS E GATOS VAMOS AOS FACTOS


" A Lima de então - final de anos quarenta- ainda era uma cidade pequena, segura, calma e mentirosa, Vivíamos em compartimentos estanques. Os ricos e bem de vida em Orrantia e San Isidro; a classe média alta em Miraflores e a média mesmo em Magdalena, San Miguel, Barranco; os pobres, em La Victoria, Lince, Bajo el Puente, El Povenir. Nós, rapazes das classes privilegiadas, quase não víamos os pobres e nem sequer dávamos conta da sua existência: eles estavam ali, em seus bairros, ligares perigosos e distantes onde, ao que tudo indicava, havia crimes. Um rapaz do meu meio, caso nunca saísse de Lima,podia passar a vida inteira com a ilusão de viver em um país de língua hispânica, com brancos e mestoiços, ignorando totalmente os milhões de índios - um terço da população - que falam quéchua e têm modos de vida completamente diferentes.

Tive a sorte de romper um pouco essa barreira. Hoje isso me parece uma sorte. (...) Era uma das poucas instituições do Peru em que conviviam ricos, pobres e intermediários; brancos, cholos, índios, negros e chinos ( mestiços de negros com índios), limenhos e interioranos. A clasura e a disciplina militar foram insuportáveis para mim, assim como  o clima de brutalidade e de disputas com base na força. Mas acredito que naqueles dois anos aprendi a conhecer a sociedade peruana, seus  constrates, tensões, preconceitos, abusos e resentimentos que um rapaz miraflorense não chegava nem a imaginar que existisse.

LLOSA, Mario Vargas " Sabres e utopias, visões da América Latina", Objetiva. RJ: 2009 - Prémio Nobel da Literatura- 


Pois é, aqui estou eu com este livro do polémico Vargas Llosa, que uns admiram e outros ostracizam. Seja como for é um democrata, quer concordemos ou não no facto da sua visão se ter tornado liberal. Cedo entendeu que o autoritarismo do Fidel Castro não era para ele. Coerente, não? Ainda não o li todo, mas esta citação acima tão sincera e honesta   já me faz ficar apesar de me terem falado sempre do Márito como um direitão, logo maldito. Enfim, polaridades que impressinnatemente ainda estão aí. Mas para eu contrapor e dizer que não concordo com o que ele propoe primeiro preciso de escutar e lê-lo com atenção. Essa de termos opiniões formadas sobre tudo dentro de narrativas oficiais e preconceitos instituidos também já poderia dissolver-se na seriedade de nos informarmos em vez de agir em manada, rebanho. 

Aqui estamos nós em 2022! Chegámos! Até aqui conseguimos chegar, mas cuidar de nós mesmes mais que um direito é um dever para com o coletivo, para com a saúde pública. Em alguns lugares parece que isso não tem sido evidente, nomeadamente nos países do norte da Europa como a Alemanha, Suécia e afins. Devem-se achar a última bolacha do pacote ou então por acharem que o sistema de saúde vai dar conta de toda a populaçõa que por capricho defendem a sua liberdade de expresssão e posicionamento politico, achando que não se devem vacinar, tampoucop usar máscara e ainda insultar quem a usa. Relatos em primeira mão vindos de duas cidadas alemãs: Koln e Berlim teem me deixado estarrecida por um lado e mais que aliviada e estupefacta com o  poder da minha intuição de não ter ido para Berlim há 10 anos e ter vindo para cá, para o Brasil. O que me faz estar aqui é uma série de textos, do tipo honrando as minhas raízes acrescido a honrar encontros de escuta sensível e generosa com outras raízes. Vamos a isso então, porque com certeza ou muito provavelmente, para não ditar certeza,  o que me fez vir para o Brasil não  se funde nas razões de quem tem uma ideia da Europa e de Portugal e aí vai muitas vezes sem nutrir admiração, carinho, respeito, solidariedade e conhecimento histórico que não o oficial pelos seres humanos que já lá estão. Pelo meu povo, mesmo assim. Com as suas chaturas, doçuras, azeduras, poesias e azias. Talvez a solidariedade não esteja na moda nem se tenha cultivado muito nas últimas décadas pautadas no sucesso individualista, no cada um por si, nas alianças por conveniência e status. Olhem, é aí que a coisa me pega. É esse o ponto, desde a mais tenra idade.

Este ano promete! Não? Bom, ainda temos que tomar cuidados vários por que esta gripe ainda não se tornou uma gripezinha contornável. Algumas pessoas próximas e queridas conseguiram livrar-se dela, mas é um susto. Em relação ao Brasil há eleições no final do ano. Depois da tempestade e da boçalidade extrema vem a bonanza. Assim espero. Muitos que votaram no Coisadas hoje moram em Portugal. Nesse aspecto  ainda bem que não tenho ido a Portugal, encarar esse pessoal acho que me deixaria um tanto indisposta, assim como os que não votaram nele mas acham que o Brasil já deu, Portugal é muito mais seguro apesar de terem de dar lições de moral, supostamente de esquerda, aos portugueses,  mesmo não tendo referêncai quase nenhuma das dinâmicas socio culturais, politica se economicas de Portugal acham que somos todos uns europeus priviligiados, racistas e tudo o que é do piorio.. Enfim.... Não são todos assi,m, mas são mais do que seria o desejável. Mesmo assim prefiro cada vez mais estar com brasileir@s no Brasil que nem a possibilidade teem de escolher  em ir embora e que continuam mobilizados para dar o seu melhor sem o deslumbrameto eurocentrico que deseja estar, mas também despreza, porque aprendeu que todos os europeus são fantásticos e também arrogantes e que os portugueses são lerdos mas até é maravilhoso viver em Portugal. Não entendo muito bem a lógica. Até entendo, mas não entendo. 

Este ano faz 200 anos que o Brasil tornou-se independente de Portugal. A mosca mudou, mas a m...rda continuou a mesma, em muitos casos piorou no que toca ao genocidio dos indigenas, já com os afro descendentes deixaram oficialmente de serem escravos umas décadas mais tarde mas até hoje são mortos na periferia dentro das suas casas pelas forças policiais. Mas a pessoa que vive no seu condominio fechado, coitada, sente-se muito mais insegura, a mesma que por fazer parte dessa perpetuação de desigualdade social fomenta a insegurança. É tão óbvio que nem precisaria de vir uma portuguesinha dizer estas coisas. Estas e outras como: NÓS PORTUGUESES NÃO TEMOS DÍVIDA NENHUMA HISTÓRICA COM BRANCOS DESCENDENTES DE PORTUGUESES E OUTROS EUROPEUS MUITOS VINDOS PARA CÁ COM A INDEPENDENCIA DAS COLÓNIAS AFRICANAS. DEPOS DE 1975. NÃO VENHAMA ATIRAR AREIA PARA OS OLHOS, PÁ. SÃO PRIVILIGIADOS E AINDA QUEREM DAR UMA DE SANTINHOS, PÁ. TEMOS SIM , ENQUANTO POVO PORTUGUÊS E EUROPEU, UMA DÍVIDA HISTÓRICA PARA COM OS POVOS INDIGENAS E AFRICANOS. CADA UM QUE SE REVEJA NO SEU COMPORTAMENTO. AO INVÉS DE ESCOLHER A SONSICE E A HIPOCRISIA. COMBINADO? Gratinados pelo entendimento vindo da informação e da expansão da consciência.

BOM ANO DE 2022 COM  MAIS JUSTIÇA E TERNURA NO OLHAR E NO CORAÇÃO! E CHACOALHAR-NOS UNS AOS OUTRES É UM ACTO DE AMOR, pelo menos aqui para a menina cacto. 

Assim seja, assim é!

A Piu

Br, 02/01/2022





 

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