domingo, 16 de janeiro de 2022

AVÔ MÁRIO - HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - XXVIII

 


A 15 de Janeiro de 1913 nascia em Colos do Alentejo, concelho de Odemira, destrito de Beja o meu avô Mário, filho de trabalhadores braçais nesse imenso latifundio. Mário dso Santos frequentou os quatro anos do ensino primário, sabia ler e escrever e era trabalhador braçal, tanto no latifundio como mais tarde pedreiro na grande Lisboa. Casou-se com a minha avó Rosária a 21 de Março de 1946. Migrou para a zona rural da grande Lisboa com a esposa e duas filhas, uma delas minha mãe, em 1949. Faleceu em 1999. No mesmo ano de 1913,nascia Álvaro Cunhal em Coimbra filho de advogado e também advogado vindo a filiar-se no partido comunista português no final dos anos 20, passando rapidamente à clandestinidade, tendo estado preso em total isolamento na prisão de Lisboa, entre 1951 e 1959. Fugiu da mesma em 1960, tendo sido acolhido na ex URSS. 

Ao que consta o meu avô nunca esteve envolvido com politica ou pelo menos não se fala se ele sofreu alguma sequela das inúmeras greves dops camponeses que ocorriam no Alentejo. Se aconteceu ele não falou ou falou para muito poucos. Até 1974 a maioria das pessoas não tinha consciência de classe e se tinham sofriam o medo das garras da dotadura, que perseguia, torturava e matava. AS PESSOAS NÃO PODIAM FALAR, ERAM DENUNCIADAS POR MUITO POUCO. Vivia-se um clima de desconfiança, durante 48 anos. 

Na prisão, o Álvaro Cunhal produziu muitos desenhos e pinturas como esta que é dele. Homem carismático que no meu entender não olhava a meios para atingir os fins em prole do partido. Sinceramente nunca tive o chamado de me juntar às massas do grande comicio de domingo à tarde, no último dia da festa do Avante. Aproveitava para visitar a Bienal de Artes Plásticas ou de ficar na livraria entre livros e cds nos idos anos 80. Comecei a ir todos os anos a essa festa organizada pelo partido comunista desde os 11 anos. Muitao teatro, música, jazz, rock. música popular portuguesa e brasileira ( o chico Buarque atuou nesses palcos), arte, comidas tradicionais dos países da ex URSS. Muita propaganda politica desse bloco que dourava a pilula, isto até 1989. Não consigo digerir como alguém que esteve diante do Staline na Rússia continuasse a defender de unhas e dentes um comunismo stalinista que a História prova todos os crimes cometidos, tão ou mais nefasto que os de Hitler. Uma causa pelos direitos dos trabalhadores e sua dignidade que rapidamente se degenerou.Melhor!  Na raíz já começava assim. Veja-se o que aconteceu ao Lenine e a muitos pensadores, artistas, camponeses que foram aniquilados. Eu não subscrevo. E surpreendo-me como ainda hoje alguém possa defender um regime assim. Das duas uma: ou não quer enxergar, ouvir ou é psicopata. Falando cruamente.

A minha avó sempre dizia que ela tinha sorte, pois o seu marido nunca  lhe bateu. Ao inicio eu não entendia a dimensão dessa fala. Depois fui percebendo que a sua condição era uma excepção, nomeadamente entre as suas irmãs. Uma delas, a tia Clementina.... Não aguentou ser maltratada. Sofreu as consequências. E hoje, dia 16 de Janeiro. Entre o aniversário de 119 anos do meu avô e o aniversário da minha mãe que seria amanhã. nascida em 1947 é para honrar tudo o que aconteceu dentro dessas origens humildes onde as pessoas foram-se erguendo à custa do seu trabalho sem negar de onde vieram e em que condições nasceram, cresceram e ainda tiveram a oportunidade de assistir e viver à queda do do fascismo em 1974. Vou escrevendo assim para que a memória não se apague e eu internamente me organize quando vierem com papos furados que todos os portugueses são do piorio. Uns são COM CERTEZA, principalmete quando defendem a volta do fascismo, são saudosistas com o Império perdido e não se dignam não só a olhar para os cidadãos de povos que foram escravizados com olhos e abraço solidário de seres humanos que dignifica a vida e a celebra com os seus desafios de sobrevivência e existência. Pronto, esta é uma das estratégias que encontrei para não me passar, saltar tampa, quando brasileiros, moçambicanos, angolanos, o que for usarem dum argumento, muitas vezes mentiroso, para insultar pessoas de nacionalidade portuguesa só porque sim,porque foi isso que aprenderam na escola, tanto na época da ditadura como agora. Raros são os que conhecem as lutas de resistência anti fascista  e anti colonilaista portuguesa . Acredito que o Chico, como o Milton, o Ivan Lins, o Zeca Baleiro ( falando só dos pop star) conheçam porque muitas parcerias foram feitas com o músico Sérgio Godinho. Escutar e enxergar sem reproduzir lugares comuns é REVOLUCIONÁRIO.

A Piu

Br, 16/01/2022

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