segunda-feira, 28 de setembro de 2015

UM BELO PRESENTE MUITO BELO*

Renascer é sonhar e saber que já dormimos no colo e hoje temos as pernas muito compridas, mas mesmo assim ainda sonhamos. ( Ana Piu)


Pega no presente como se nascesses no Natal e não sofras com o que foi… que o que foi está longe como o que só foi agora uma vez.
Pega no presente e envolve-o lasso suficiente para caber quem gostas.
Pega no presente e começa de novo usando tudo para trás como informação tua noutra vida em que eras o mesmo… mas não tão perfeito.
Pega no presente e percebe que é o momento.
Pega no presente e sabe de cor interiormente, sem cábulas, tudo o que te aconteceu porque tudo o que te aconteceu fez sentido, e o sentido foi o que te trouxe até aqui, e aqui é perfeito para dar início a mais um momento áureo.
Pega no presente até ao infinito e perpetua o instante como o especial.
Pega no presente e torna-o tão único como a água e faz dele a pujança inequívoca de estar tão vivo como tudo o que é impressionante.
Pega no presente e pulsa o ritmo cadente de um músculo novo que nasce sem esforço porque se inventa como o vento e as marés.
Pega no presente e faz tudo de novo como se respirasses a coragem.
Pega no presente e acende-o como a luz faz ao escuro.
Pega no presente e mata o medo do teu vocabulário como se só tivesses cheta para um dicionário de bolso.
Pega no presente e faz dele o que virá. E do que foi soubeste ver tudo, gostaste de ver tudo, precisaste de ver tudo.
Pega no presente e sabe que o que se passou foi para te fazer e o que há-de vir há-de ser sempre já.
* muito obrigada pelo presente Joao Negreiros e por saber que se continua a escrever poesia em terras de Portugal, se é que a territoralidade é assim tão importante. Eu acho que não, mas a identidade acaba por ser sempre a identidade, mesmo que falemos que somos do mundo.

Nascer é alargar o quadril da nossa mãe e dizer: "AQUI VOU EU!" ( Ana Piu)


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