Na verdade nunca vivi uma guerra e espero não viver. Seis meses depois de eu nascer acabou uma em terras de África que durou 12 anos. Aquela, a colonial. Também tive a sorte de na minha infância ninguém na minha família ser traumatizado de guerra, pois não combateu no mato "a matar pretos" (passo a expressão, por ser tão racista e boçal). Mais tarde convivi com um "preto" traumatizado da guerra que continuou em Angola, depois da independência, a combater também. Temos a mesma idade, só que tivemos sortes diferentes. E só posso, de alguma forma, ser solidária com ele. Conheci-o em Lisboa, passados anos voltou para Luanda quando já não corria o risco de ser julgado em tribunal de guerra por ser desertor. Não sei se está em paz interior ou não. Espero que sim, mas não sei. Perdemos contacto. Lamento sinceramente.
Hoje sou eu que sou emigrante como muitos da minha geração. E certa vez recebi aqui um comentário que eu não considero de muito boa fé, principalmente vindo de alguém bem colocado na vida e com obrigação de ter outro tipo de abordagem visto ser antropólogo: "Kkkkk você é uma refugiada! Outro dia assisti no noticiário uma conterrânea sua falando que já não tinha dinheiro para a sopa!" Não quis acreditar no comentário e nem comentei.
E vamos combinar. Quando nos deslocamos dum lugar para outro desejamos profundamente ser acolhidos, recebidos e tratados com dignidade. Como tal, considero INADMISSÍVEL A POSTURA DE MUITOS PORTUGUESES E PORTUGUESAS AO SE RECUSAREM A RECEBEREM REFUGIADOS DA GUERRA DA SÍRIA! ESSAS PESSOAS COM CERTEZA NÃO SÃO MINHAS AMIGAS NO FACE NEM EM PARTE NENHUMA. A sorte, que não é sorte, é que felizmente não convivo com esse tipo de mentalidades. Uffff que alivio! Mas sempre olho vivo e pé ligeiro! Aqui comigo só gente de verdade que ame por inteiro!
Ana Piu
Brasil, 17.09.2015
Brasil, 17.09.2015
Amor só por inteiro. Amor não rima com retalhos. Quanto muito rima com simplicidade e profundidade. |
Somos do mundo, independentemente de credos, ideologias e outras manias que se não temos cuidado fazem-nos uns monstrinhos. E daí perguntamos cinicamente: " Como foi acontecer o Holocausto??!" " Admitam. Não vos interessa se eles morrem ou não, mesmo que tenham partilhado a foto da criança morta na praia, acompanhada de uma citação de um site brasileiro. Admitam que são um bocadinho racistas, xenófobos e que não gostam de muçulmanos. Admitam e deixem de ser hipócritas." http://porfalarnoutracoisa.sapo.pt/2015/09/10-razoes-para-nao-acolhermos-refugiados.html?utm_content=buffer9233c&utm_medium=social&utm_source=facebook.com&utm_campaign=buffer |
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