"Onde foste desencantar isso?", perguntava a minha avó quando eu aparecia com alguma coisa achada no fundo de uma gaveta. "Ai esta miúda! É maluca e família não sabe", exclamava com carinho. Depois de eu ser mãe exclamava: "Ai mulher! Não tens juízo!. "Olha!, pensava eu, Já sou uma mulherzinha! Fui promovida! Mas continuo a ser maluca e a minha família já sabe"
Muito antes disso, quando eu mais mocinha, lá pelos meus 4, 5 anos (sim tenho memórias de infância que remontam ao tempo das fraldas de bebé e da luz a entrar no meu quarto) do que sou agora sou, podia se escutar muito baixinho: " A menina está outra vez com gatinhos!" Passo a explicar. Gatinhos é aquela farfalheira no peito que os especialistas chamam de asma ou problemas respiratórios.
Como todas as meninas, miúdas, mulheres da minha idade contaram-nos histórias da Branca de Neve, do Capuchinho Vermelho com o lobo mau e a avó. Além de assistirmos na tv ao Sitio do Pica Pau Amarelo e ao Verano Azul que devo dizer que muito contribuiu para o meu imaginário do que é estar em grupo ao ar livre vivendo histórias e encontros entre amigos.
Há quase sempre uma capuchinho vermelho dentro nós. Não tem problema! Temos é que saber e estarmos atentas aos lobos maus que andam por aí e não adormecer tal qual Branca de Neve, esperando que um príncipe nos venha dar aquele beijo. Talvez tenhamos de abrir delicadamente, de uma forma criativa e leve, todas as nossas gavetas do inconsciente e subconsciente e dar uma geral. Porque caso não o fizermos além das gavetas estarem uma bagunçada vai que encontramos um príncipe desencanta dor fazendo-se passar por gatinho ron ron?! Isso dá cá uns gatinhos no peito! Que os príncipes e as princesas encantadas não existem nós já quase todas e todos sabemos, mas que temos de estar atentas ao capuchinho vermelho que há em nós e aos lobos maus que andam por aí, temos sim senhora! E nunca esquecer o que a avó disse: Podes andar pelo mundo com uma candeia acesa que nunca encontrarás uma amiga como eu!" É verdade! Grande amiga! Mas há falta da sua presença nunca esquecermos dos nossos amigos para o que der e vier! E fazer xôôô às princesas e príncipes desencanta dores!
Ana Piu
Brasil, 0103.2015
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