De origem germânica achtung! servia como interjeção chamativa para perigos e paisagens deslumbrantes. Mais a norte, nos países escandinávos,ACHTUNG!! é considerado o espirro oficial dos vikings. Em terras lusas utiliza-se a expressão "Arre!!" quando alguém está arreliado. "Arretung!" é uma espécie de grito de guerra dos trabalhadores da classe precária, que desunidos nunca vencerão.
terça-feira, 28 de maio de 2013
HISTÓRINHAS PEQUENININHAS PARA ESCUTAR EM NOITE DE LUA CHEIA
Era uma vez um palhaçinho muito, mas muito velhinho.
Coitadinho do palhaçinho que já estava velhinho e cansadinho de escutar:"Palhaçinho, oh palhaçinho faz-me rir! Faz aí umas palhaçadinhas para eu escangalhar-me a rir. Conta aí umas piadas. Faz umas macacadas." O palhaçinho velhino coitadinho agora teria dre lidar com o facto de ser velhinho e tratarem-no como tal. "O palhaçinho faz aí barulhinho com a tua buzininha para eu me esquecer de mim e considerar-me muito, mas muito mais inteligentezinho que tu." Coitadinho do palhaçinho velhinho. E a maquiagem a derreter-se pelas rugas o tempo todo. Aquela maquiagem que tantas vezes assustara as criançinhas. E ele que gostava tanto de criançinhas (salvo seja! salvo seja!). O palhaçinho velhinho coitadinho que tanto gostava de distrair as criancinhas, das entreter, mas que de vez em quando as assustava com a sua cabeleira e a sua exagerada pintura, mais o fom fom da buzina. Coitadinho do palhaçinho cuja maquiagem derretera com o tempo! Cansado tirou a cabeleira e limpou um pouco a maquiagem. O nariz ficou. Esqueceu-se de tirá-lo ou já o considerava como parte de si. Eis se não quando fez-se luz. Quem o olhava podia ver a sua humanidade, revia-se na sua vulnerabilidade, empatizava com o seu descompasso. Eis se não quando o palhaçinho velhinho coitadinho deixou de o ser para passar a SER. Nem inho, nem ão. A SER e a ESTAR.
A piU
Br, 28 de Maio de 2013
segunda-feira, 27 de maio de 2013
FLUXO CIRCULAR
Correu atrás da felicidade e esta fugindo. Fugindo nas vielas, por entre o dedos fugindo. Lado a lado, a o seu lado a felicidade escapando-se, deixando-se ficar só mais um pouco. Correu fugindo da felicidade. Escapou-se assim que a avistou. Era demasiado grande para si. Assustou-se. Tentou ocupar-se com sucedâneos de felicidade. Um sucedâneo requentado uma e outra vez. Tentou convencer-se que assim estava bem, que assim era suficiente. E foi indo. Foi indo. Tantas vezes quis segurá-la nas palmas das mãos, mas as linhas eram como rios escoando, escoando. Deixando uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Parou. Não iria mais correr atrás. Em suspensão deixaria que as linhas dessas mãos, como rios, escoassem até si num fluxo circular.
a piu
bt, 27 de Maio de 2013
a piu
bt, 27 de Maio de 2013
pintura Patrice Murciano |
A ESTRELA DE CAUDA
Marc Chagall |
Bósi, Eclea "Memória e Sociedade, lembrança de velhos", São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
sexta-feira, 24 de maio de 2013
MAGNATAS DO PIJAMA
Todos de pijama, reunidos. Debruçados sobre assuntos de elevada importância para a comunidade local e mundial reflectiram demoradamente sobre cada questão. A um ponto que alguns adormeceram, cada um com o seu respectivo travesseiro conjecturou sobre possiveis reformas no ensino, na educação e nas leis de trabalho que pudessem benefeciar todos e qualquer um. Magnatas vestidos de pijama revolucionavam toda uma estrutura social assente na aparência, na imagem. Logo várias facções emergiram Existiam aqueles cujo o pijama era da mais fina seda e outros que vestiam qualquer coisa para dormir. Mas todos tinham o mesmo objetivo: abalar com as estruturas. Porém a dúvida ficou:"Será que a estrutura seria realmente abalada ou somente seria conversa para boi dormir?" Fica aqui a dúvida. Voltarei brevemente com uma outra qualquer historieta da treta.
A piU
Br, 24.Maio. 2013
A piU
Br, 24.Maio. 2013
DIA DE EMANCIPAÇÃO
Hoje é sexta! Acho que é um bom dia para me emancipar! Deixa cá ver em quem me posso inspirar! hmmm já sei!
I'M A MOTO GIRL unt ein akt model
Há
dias em que o sol não aparece. Nesses dias pode acontecer que a pessoa
fique com menos paciência para a ciência do dia a dia de todos os dias.
Talvez porque tem de enfrentar esse tal cotidiano do agora ou vai ou
racha e fique com uma certa preguiça para debater, discutir, reflectir
sobre questões que parecem tão óbvias. Bom, mas o óbvio nem sempre é
óbvio para todos. É óbvio, ou deveria
ser, que todos temos direito à vida, a comer, beber, a pernoitar em
lugares dignos do gosto de cada (eu gosto de dormir na praia ao
relento), assim como ter liberdade de expressão. Talvez, para alguns eu
seja uma desbocada. neste momento, sinceramente tenho a consciência
tranquila relativamente a tal. Há momentos que a pessoa leva tanto no
lombo que o lombo já vai, já cede. Uma espécie de perdido por cem,
perdido por mil.
Hoje, cruzo me com um anuncio: "Contratam-se moto boys". Olha! Eu já fui moto girl! Será que me aceitam?...Na mesma época pousei para um pintor. Modelos nu. Pena não ter comigo a minha velha moto aqui, nem saber de algum pintor ou aulas de desenho para pousar. Preciso de trabalhar mais ainda.
Hoje houve um manifesto na universidade. Alguns rapazes vestiram saia em solidariedade a um estudante da Universidade de São Paulo que foi alvo de chacota. São Paulo! Opa! Uma cidade do mundo! Ai que canseira, que preguiça ter de defender questões aparentemente tão básicas como a liberdade de expressão, a liberdade de se ser o que se quer ser desde que não enfie o cotovelo no olho do próximo. Lembra me a minha adolescência quando calçava botas de camponês alentejano com saias ou calças e andava de blusa desbotada e colete do meu bisavô numa escola onde a marquinha e a ostentação é que contava. Por reação cortava toda e qualquer etiqueta de marca considerada relevante e largava a moto e o capacete bem longe dos olhares alheios. eheheh sou muita rabelde!
Ai que canseira debater se o homem beija com língua outro homem, se existem mulheres que gostam de mulheres mais velhas, que o homem solteiro quer adotar uma criança e um cachorro. Ai que canseira as mulheres terem de se depilar só porque sim e os homens se dividirem entre machos e larilas. Ai que canseira tremenda. Chissa! Chaissa! Os soutiens foram queimados, a mulher já fuma e usa calça há décadas. Dizem que o homem já foi a lua e que e possível fazer bebés provetas.
Gosto, sinceramente, ver um homem de saias. Acho bonito, sensual, charmoso. Gosto de ver mulheres sensuais sem serem bonequinhas de cera. Gosto de corpos nus, cobertos. Corpos sem fome de liberdade. Talvez seja hoje que me dei conta uma vez mais que existem preocupações básicas de subsistência que é ter comida na mesa, ter mesa, ter cama, ter casa, andar na rua com dignidade, beijar e abraçar quem se gosta, sorrir mesmo quando a chama está pequena. Ai que canseira a moral os bons costumes serem uma falácia geringácia que empata a vida dos seres viventes.
A piU
Br, 23 de Maio de 2013
Hoje, cruzo me com um anuncio: "Contratam-se moto boys". Olha! Eu já fui moto girl! Será que me aceitam?...Na mesma época pousei para um pintor. Modelos nu. Pena não ter comigo a minha velha moto aqui, nem saber de algum pintor ou aulas de desenho para pousar. Preciso de trabalhar mais ainda.
Hoje houve um manifesto na universidade. Alguns rapazes vestiram saia em solidariedade a um estudante da Universidade de São Paulo que foi alvo de chacota. São Paulo! Opa! Uma cidade do mundo! Ai que canseira, que preguiça ter de defender questões aparentemente tão básicas como a liberdade de expressão, a liberdade de se ser o que se quer ser desde que não enfie o cotovelo no olho do próximo. Lembra me a minha adolescência quando calçava botas de camponês alentejano com saias ou calças e andava de blusa desbotada e colete do meu bisavô numa escola onde a marquinha e a ostentação é que contava. Por reação cortava toda e qualquer etiqueta de marca considerada relevante e largava a moto e o capacete bem longe dos olhares alheios. eheheh sou muita rabelde!
Ai que canseira debater se o homem beija com língua outro homem, se existem mulheres que gostam de mulheres mais velhas, que o homem solteiro quer adotar uma criança e um cachorro. Ai que canseira as mulheres terem de se depilar só porque sim e os homens se dividirem entre machos e larilas. Ai que canseira tremenda. Chissa! Chaissa! Os soutiens foram queimados, a mulher já fuma e usa calça há décadas. Dizem que o homem já foi a lua e que e possível fazer bebés provetas.
Gosto, sinceramente, ver um homem de saias. Acho bonito, sensual, charmoso. Gosto de ver mulheres sensuais sem serem bonequinhas de cera. Gosto de corpos nus, cobertos. Corpos sem fome de liberdade. Talvez seja hoje que me dei conta uma vez mais que existem preocupações básicas de subsistência que é ter comida na mesa, ter mesa, ter cama, ter casa, andar na rua com dignidade, beijar e abraçar quem se gosta, sorrir mesmo quando a chama está pequena. Ai que canseira a moral os bons costumes serem uma falácia geringácia que empata a vida dos seres viventes.
A piU
Br, 23 de Maio de 2013
quarta-feira, 22 de maio de 2013
UM DIA
Um dia não mais sentiria o sufoco da sobrevivência. Não mais sentiria aquele aperto que a precariedade imprimia na respiração. Enquanto soletrava baixinho tais pensamentos vividos a noite estrelada e calma sem luzes da cidade ofereciam o belo espetáculo de estrelas cadentes, que de quando em vez rasgavam traquinamente o céu. A época era de fruta madura caída no chão. Várias mangas criavam uma doce lama em torno de outras árvores. Deitada no morno chão, enraizava-se até ao centro da terra e os pensamentos sentidos do centro do seu peito emergiam. "Um dia não mais viverei no sufoco da precariedade, da sobrevivência." Enquanto pensamentos e estrelas rasgavam a noite calma e escura sorriu mansamente, enquanto o manga madura perfumava as suas mãos, a sua alma. Sorria e pensava:"Mas tenho o privilégio de fazer sempre o que gostei e viver disso, mesmo que sobrevivendo."
As mangas estavam maduras.Não precisavam de serem trincadas, apenas saboreadas aos poucos, sem pressas. Num tempo de uma estrela se manter no céu, guardiã de desejos e quereres. No tempo de uma estrela que mais tarde, muito mais tarde se torna cadente. Porque nada é estático e num movimento perpétuo se transforma algo que é outra coisa e a mesma. Num movimento de odores e sabores que atravessam os tempos imensuráveis. Há quem chame viver. Há quem chame amor. Viver com amor? Viver com amor enfrentando odores, sabores, dissabores e novamente sabores, Amaciando os pensamentos vividos e sentidos com uma leve e profunda respiração repetiu: "Um dia, mesmo continuando o caminho dos meus quereres, não viverei mais no sufoco da sobrevivência, da precariedade," O céu tão estrelado que estava e o calor saindo do centro da terra fê-la não se sentir só.
a piu
br, 23 de Maio de 2013
imagem: "Noite estrelada", Van Gogh
terça-feira, 21 de maio de 2013
DE SORRISO LEVE
E a vida continuou milhares e milhares de vezes. Continuou após momentos suspensos, interrompidos momentos. Continuou, diante de uma cicatriz, de uma pequena ferida aberta continuou. Continuou milhares e milhares de vezes durante milhares e milhares de anos. A vida continuou porque não deveria parar. Continuou num longo deserto rumo ao mar. Continuou mesmo quando vivalma não se avistava. Continuou depois de uma súplica, de uma luta inglória para prender outras vidas que se iam à vida.
Continuou perante um sorriso triste, mas um sorriso.
Continuou depois da alma se esvaziar para voltar a ser.
Continuou porque sentia que deveria continuar. Milhares e milhares de segundos afagados nas pontas dos dedos. Milhares e milhares de respirações cortadas pela incerteza. E a vida sempre continuando, mesmo quando a mais pequena chama ameaçava apagar-se.
Continuou porque tinha de continuar. Continuou de sorriso leve no respirar. Um sorriso que segurava quem à vida queria segurar, continuando. Continuando vivo e não sem vida. Com vida e com o mais profundo segredo que tudo é uma passagem que se imprime no invisivel, no indizivel. Numa passagem que ora nos detemos aqui e ali, deixando marcas mais ou menos profundas daquilo que somos e desejamos ser. Continuando de sorriso suave, leve. De uma leveza marcante num tempo e num
espaço impalpáveis.
a piu
Br, 21 de Maio de 2013
dedicado à minha querida amiga Ana Santos
Continuou perante um sorriso triste, mas um sorriso.
Continuou depois da alma se esvaziar para voltar a ser.
Continuou porque sentia que deveria continuar. Milhares e milhares de segundos afagados nas pontas dos dedos. Milhares e milhares de respirações cortadas pela incerteza. E a vida sempre continuando, mesmo quando a mais pequena chama ameaçava apagar-se.
Continuou porque tinha de continuar. Continuou de sorriso leve no respirar. Um sorriso que segurava quem à vida queria segurar, continuando. Continuando vivo e não sem vida. Com vida e com o mais profundo segredo que tudo é uma passagem que se imprime no invisivel, no indizivel. Numa passagem que ora nos detemos aqui e ali, deixando marcas mais ou menos profundas daquilo que somos e desejamos ser. Continuando de sorriso suave, leve. De uma leveza marcante num tempo e num
Imagem: Inês d'Espiney |
a piu
Br, 21 de Maio de 2013
dedicado à minha querida amiga Ana Santos
segunda-feira, 20 de maio de 2013
ESPERANÇAS EXPECTANTES
De noite acordava pensado, imaginando. Imaginava detalhes. Algumas vezes se retraia em imaginar finos detalhes. Se por um lado achava que ao imaginar não se iria realizar o que sonhava, por outro sentia que não merecia toda essa imaginação.
Dias e noites, semanas, meses, anos preparando-se. Mesmo quando o sorriso esmorecia o queixo erguia-se puxado por um fiozinho de esperança e querer.
Expectante dava um passo, depois outro. Por vezes sentia que ia depressa demais, mas quando assim sentia já era tarde.Outras vezes achava que ia lenta demais e não se achava, encontrando-se de revés.
Tentava ansiosamente acalmar as expectativas e silenciava-se.Tentava amaciar seus bloqueios sorrindo suavemente por dentro, gargalhando de sua própria fraqueza.
Diante do que pensara, sonhara, desejara, do que espectara estremeceu. Não conseguiu distinguir o que era expectativa e o que realmente era o que era.
Sorriu por dentro suavemente, pois teria de lidar com o que era realmente e não com as tais expectativas que tanto alimentaram o seu sonho. Depois voltou a sorrir suavemente, pois sonhar e ter expectativas são o motor para o seu viver. Ainda depois respirou fundo para que o seu peito se amaciasse novamente. E sorriu simplesmente, um sorriso com cor a esperança expectante.
a piu
20 de Maio de 2013
HÁ ESPAÇO PARA TODOS, É SÓ TER TEMPO PARA OLHAR, VER, OBSERVAR, OUVIR E ESCUTAR. ENFIM, SENTIR
O mundo é redondo, dizem. Se junto as mãos em baixo e depois começo a
abrir as braços até que as mãos se juntem por cima da minha cabeça, de braços
esticados, desenham um circulo. Se círculo numa sala por entre os meus amigos e
colegas certamente não me chocarei com eles. Se olho ao meu redor atentamente
que espaço ocupo e como o mundo se vai organizando para que cada um de nós
ocupe um espaço sem necessariamente ocupar o espaço do outro. Talvez assim
evitamos conflitos desnecessários. Eu não bato em você, nem você em mim. Se dou
um beijo a alguém permito-me a mim e a quem beijo de ocuparmos um mesmo espaço.
Se nos abraçarmos ainda mais!! Uiiiiiii! Que gostoso! Se conto um segredo baixinho posso chegar-me mais perto da pessoa. Por vezes somos
obrigados a dividir um espaço minimo com desconhecidos. Por exemplo, no
elevador, na carruagem do metrô, naquele show do nosso cantor preferido. No
carnaval! Nas lojas apinhadas de gente comprando em promoções!
O Brasil, assim como o resto do mundo, tem muito espaço, mas por vezes nós temos tendência a viver em
cima uns dos outros. Porquê? Alguns de nós vivemos em altissimos prédios de
ruas cheias de carros. Por vezes sentamos na mesa grande da sacada uns em cima
dos outros. Porquê? Será que é para não
nos sentirmos sós? Temos medo de sentir o nosso corpo de uma forma plena? Quando
vamos na praia o que acontece? Um monte de gente montando a sombrinha em cima
de outra sombrinha e por aí a fora. Depois caminhamos e um pouco mais na frente
o areal está vazio. Na rodovia porque é que os carros se grudam na traseira do
carro da frente. Porque querem sempre ter pressa de serem os primeiros e não
darem passagem para o outro carro que tenta entra na rodovia?
Porque não param para o pedestre passar?
Porque falamos todos ao mesmo tempo, achando que nos estamos escutando?
Mas não nos estamos escutando, não! Porque nem sempre suportamos escutar o
silêncio? O silêncio fala coisas tão bacanas!
Porque não respeitamos o nosso espaço e o dos outros?
Porque não respeitamos o tempo de cada
um? Será que o silêncio e a escuta nos assustam? Será que nos esquecemos que o
Brasil, assim como o resto do mundo,é muito grande com muita mata, quintais, praia, ruas largas, por vezes,
para podermos abrir os braços , as pernas e convidarmos os nossos amigos nesse
jogo/ brincadeira que é nos mexermos e falarmos livremente respeitando o espaço
e tempo de cada um.
Ana Piu
Barão Geraldo, 3 de Maio de 2013quinta-feira, 16 de maio de 2013
UTOPIAS POSSÍVEIS FAZÍVEIS
Cada um foi para sua casa.
Cada um começou a olhar mais nos olhos dos outros.
A não ter medo de amar. A não ter medo de dizer que se ama.
A não ter medo de se indignar por causas como a justiça, a igualdade e a fraternidade.
A não ter medo de tocar a pele macia, a pele enrugada.
As pessoas voltaram para casa e compreenderam que viviam com um monte de coisas dispensáveis. Passaram a ser mais amáveis para consigo e para com o mundo.
Decidiram construir aeronaves a pedal, a fazerem em vez de comprarem.
A trocarem em vez de pagarem com dinheiro. Decidaram plantar a sua comida nos seus quintais. Destruiram as grandes fábricas e fazendas que escorraçavam e matavam animais e pessoas
das terras que até aí então viviam.
foto:
Yann Arthus-Bertrand da série Earth from Above (A Terra vista de cima).
Cada um começou a olhar mais nos olhos dos outros.
A não ter medo de amar. A não ter medo de dizer que se ama.
A não ter medo de se indignar por causas como a justiça, a igualdade e a fraternidade.
A não ter medo de tocar a pele macia, a pele enrugada.
As pessoas voltaram para casa e compreenderam que viviam com um monte de coisas dispensáveis. Passaram a ser mais amáveis para consigo e para com o mundo.
Decidiram construir aeronaves a pedal, a fazerem em vez de comprarem.
A trocarem em vez de pagarem com dinheiro. Decidaram plantar a sua comida nos seus quintais. Destruiram as grandes fábricas e fazendas que escorraçavam e matavam animais e pessoas
das terras que até aí então viviam.
foto:
Yann Arthus-Bertrand da série Earth from Above (A Terra vista de cima).
quarta-feira, 15 de maio de 2013
À DERIVA
"Partidos dali, houveram vista daquele grande e notável cabo, ao qual
por causa dos perigos e tormentas em o dobrar lhe puseram o nome de
Tormentoso, mas el-rei D. João II lhe chamou cabo da Boa Esperança, por
aquilo que prometia (...)
João de Barros, Décadas da Ásia.
Dias e dias ao largo. Durante e dias e dias navegaram para sul desnorteado. Primeiro a brisa no rosto, depois grossas gotas rasgando esperanças, assombrando desejos grandes ondas se levantavam. Ondas de linguas mortíferas atormentavam o sonho de ir mais além. Balançaram a dança do fim. Bocas imensas de escorbuto escancaravam-se de espanto, de medo. De um medo tão profundo que os fazia ir mais além, da morte. As mãos como troncos de carvalhos agarravam-se à vida. Já nada tinham perder, porém o seu instinto de sobrevivência gritava surdo das bocas escancaradas de escorbuto. Degredados, exilados, aventureiros, muitos indesejados na sua terra natal rumavam para sul tentando encontrar um norte para os seus caminhos. Cada um seguia por motivações várias, mas naquele momento, naquele preciso momento de turbulência cujo a vida quase se dissolve na espuma dos cânticos da sereia se agarraram à boa esperança de resistirem e sobreviverem sãos e salvos. E no final levaram a cabo essa emboscasda. A emboscada de se salvarem. E salvaram-se, mas as promessas tiveram das criar e realizar e isso foi novamente uma tormentanta banhada de esperança que ora se desvanecia ora submergia.
A piU
Br, 15 de Maio de 2013
João de Barros, Décadas da Ásia.
Dias e dias ao largo. Durante e dias e dias navegaram para sul desnorteado. Primeiro a brisa no rosto, depois grossas gotas rasgando esperanças, assombrando desejos grandes ondas se levantavam. Ondas de linguas mortíferas atormentavam o sonho de ir mais além. Balançaram a dança do fim. Bocas imensas de escorbuto escancaravam-se de espanto, de medo. De um medo tão profundo que os fazia ir mais além, da morte. As mãos como troncos de carvalhos agarravam-se à vida. Já nada tinham perder, porém o seu instinto de sobrevivência gritava surdo das bocas escancaradas de escorbuto. Degredados, exilados, aventureiros, muitos indesejados na sua terra natal rumavam para sul tentando encontrar um norte para os seus caminhos. Cada um seguia por motivações várias, mas naquele momento, naquele preciso momento de turbulência cujo a vida quase se dissolve na espuma dos cânticos da sereia se agarraram à boa esperança de resistirem e sobreviverem sãos e salvos. E no final levaram a cabo essa emboscasda. A emboscada de se salvarem. E salvaram-se, mas as promessas tiveram das criar e realizar e isso foi novamente uma tormentanta banhada de esperança que ora se desvanecia ora submergia.
A piU
Br, 15 de Maio de 2013
terça-feira, 14 de maio de 2013
BOM PROVEITO!
Vá lá, só uma nisquuinha! Sabe a quê? Sabe a quê? Hmmmm tem ar que sabe a etéreo, a fumo. Hmmm nham nham. Olha, aí do lado esquerdo está a derreter tudo. 'Tás a ficar com as mãos todas lambuzas. O lado direito também não está muito melhor. Hmmmm esse azul deve ter um suave sabor a petróleo. Faz-me lembrar as marinas com iates do Algarve. Como é bom o Verão cheio de gente nas praias! É nessas alturas que sinto que não estou só, nem deslocado. Tudo ao molho e fé em Deus, aconchegadinhos em prédios iguazinhos aqueles em que vivemos nas nossas cidades! Mas é diferente! Muito diferente! Em vez de ficarmos no meio do trânsito para ir para o trabalho, ficamos no meio do trânsito por uma boa causa! Ir para a praia! Esse verde sabe a quê? Tem uma pálida cor amazônica de armário sueco. O marronzinho sabe a remédio? 'Tou a ver! Mas deve ser bom, pelo menos deve seguir as normas higiénicas da comunidade. Qual comunidade? Não te recordas que tudo isto é uma grande comunidade! Global! Olha, se não comeres logo vai derreter tudo! Se eu quero provar?! Deixa estar! Bom proveito! 'Tou de dieta!
A piU
Br, 14 de Maio de 2013
segunda-feira, 13 de maio de 2013
"Sorriso amarelo em posição macaco"
"Mas
seu descompasso com o mundo chegava a ser cômico de tão grande: não
conseguia acertar o passo com as coisas ao seu redor. Já tentara se pôr a
par com o mundo e tornara-se apenas engraçado: uma das pernas sempre
curta demais. (O paradoxo é que deveria
aceitar de bom grado essa condição de manca.) (Só quando queria andar
certo com o mundo é que se estraçalhava e espantava.) E de repente
sorriu para si própria (...)" Lispector, Clarice "Uma aprendizagem ou o
livro dos prazeres
foto: "Sorriso amarelo em posição macaco". modelo: Piu fotógrafa: Denise, a mulher que compactua com a loucura de tal ave rara vinda diretamente do parque das aves de Foz do Iguaçu transformada em saguim.
foto: "Sorriso amarelo em posição macaco". modelo: Piu fotógrafa: Denise, a mulher que compactua com a loucura de tal ave rara vinda diretamente do parque das aves de Foz do Iguaçu transformada em saguim.
PORQUE O DIA DAS MÃES E DA FILHARADA É SEMPRE QUE NOS LEMBRAMOS DE SER QUEM SOMOS
Um dia quando for velhinha, mas mesmo muito velhinha, gostava de
continuar a escutar vozinhas: "Mããããeeee!Oh mãããããeee!" Um dia quando eu
for velhinha muito velhinha quero ser como a minha avó que lhe dá uma
daquelas sulipampadas e depois volta com aquela voz roliçona:" Olha que
eu fui arranjar!? Só me faltava mais esta!"
UM SUSPIRO CHAMADO ROSA
Primeiro foi vizinho de uma turma de biscoitos. Eram porreiros. Garotada fina. Sempre à brinca. Mas como finos biscoitos que eram logo foram numa tarde de chá das cinco. Depois veio a turma dos caramelos. Esses tinham a mania que eram espertos. Caramelos. Sempre no bate boca. "Oh suspiro! Pensas que és doce, mas ninguém te pega! Nós, sim! Quando vai um marcham logo dois ou três!" O suspiro quase teve vontade de fazer aquele choro onamatopaico:"Buá! Buá!" Mas como era um suspiro não podia chorar. Limitou-se ao "Glup". Depois ficou sózinho, destituido da sua turma que foi levado por uma menina no seu dia de aniversário a contra gosto da mãe que lhe dizia que aquilo além de fazer sede, faz mal aos dentes e ao estômago. E o pobre suspiro rosa continuava na montra à espera que alguém o levasse, mas ele estava destinado a ser o bibelô da montra. E depois já fazia muito tempo que era conhecido pelo bairro inteiro e deste modo ninguém o queria levar porque estava velho.
O homem de óculos redondos, chapéu de feltro e de tez germânica gostava de se vestir à Pessoa quando visitava aquela cidade de rio largo e ruas estreitas. Já lera tudo de todos. Desde Pessoa a Sá Carneiro. Agora virara-se para Lorca. Lia o pequenito livro "Rosinha, a solteirona". Naquele dia fazia um calor insuportável. Era Agosto e muita gente estava de férias. O homem fantasiado de Pessoa nem reparou no pequeno suspiro na montra. Pediu um galão (café e leite) e um pires de caracois. Como se esquecera do guia da Michelin no hotel não averiguou que aquela combinação não era very typical nem para os nativos nem para o estômago. Enquanto o elétrico (bonde) fazia curva num chiar ensurdecedor, o intestino roncou, o gato em cima do balcão ronronou,foi e o suspirou foi derretendo aos poucos muito aos poucos. O homem saiu porta fora. O suspiro rosa ainda tentou dar o seu último suspiro antes que o homem fosse de vez. O homem muito compenetrado na sua performance de turista cultural nem se virou, seguindo para uma antiga tabacaria que lera nessa manhã no guia. O suspiro derreteu de vez. O gato que há muito esperava essa ocasião, languidamente saltou do balcão aquecido por aquela tarde quente de Verão e abeirou-se do suspiro derretido. Uma lambidela, duas, três. Tudo num tempo infinito, saboreando cada momento que há tanto esperava. Depois... Depois? Depois não conto. Imaginar é mais divertido.
a piu
Br. 11. 05.2013
AINDA HÁ HEROIS?
CHEGOU DE PEITO ABERTO. ERA O MAIOR DA SUA RUA. DO SEU BAIRRO. DA SUA CIDADE. DO SEU PAÍS. DO SEU CONTINENTE. DO MUNDO E ARREDORES!
INFALIVEL ERA! TRAZIA RECEITAS, FÓRMULAS INEQUACIONÁVEIS! PERFEITO! GENIALMENTE PERFEITO! TRAZIA A RECEITA DA SALVAÇÃO DO MUNDO NO BOLSO DE DETRÁS DAS CUECAS! ELE, SUPER MAN! SUPA PARA OS AMIGOS! ZUPA MAIS A NORTE! AO MÍNIMO GESTO TODOS, EXTASIADOS DIZIAM:"YÁ! YÁ! ZUPA! ZUPA!"
Um dia descobriu-se que ele, o ZUPA, não tinha poderes celestiais, tampouco a salvação para os comuns mortais. Um dia descobriram que ele não passava de uma farsa. Levaram-no. Com a dignidade de um superman que se preze deixou-se levar.
As suas crises de asma voltaram. Entre um arfar e outro entendeu que ele também não passava de um comum mortal e que a sua maior força era assumir a sua fraqueza. Respirou fundo, aconchegou-se na sua heroica capa e dormiu um sono de menino. Depois abriu o peito, tomou coragem em partilhar o que tinha descoberto de si mesmo. Escutaram-no desconfiados, depois entenderam o que queria dizer. Libertaram-no e ao o libertarem libertaram-se também, pois entenderam que se existe salvação, ela é livre de idoltarias e outras sinfonias e que o heroismo está no atos do dia a dia, nos sonhos faziveis por pessoas de carne e osso que choram, que riem, que se indignam, que se comovem. E que de vez em quando lhes falta o ar, mas dá sempre para o recuperar.
A piU
Br, 13 de Maio de 2013
quinta-feira, 9 de maio de 2013
O ROSTO DA POBREZA
A professora não tem vindo. O que aconteceu com a professora? O tempo está virado. Está doente? A professora não tem vindo e na virada da semana houve um feriado. Talvez aproveitou, a professora, para gozar de um fim de semana maior. A professora não veio ainda. O tempo anda virado. Ora frio, ora calor.
Coitada da professora. Anda assustada. Não consegue sair de casa. Levaram o carro. Ainda sente o frio do revólver na cabeça. Coitada da professora. Boa professora, a coitada de fonte gelada, que aquece a vontade da criançada para ler e escrever. Vive com a mãe, com o padastro porque do seu salário de funcionária pública nunca poderia habitar naquelo bonito bairro de classe média. Um bom bairro para acontecer tal azar (?), dizem. Coitada da professora que viu a sua vida por um fio, dependente de uma mão de grossas veias pulsando uma revolta ancestral. Coitado de quem a mão pertence. Uns olhos pedindo calor, enregelados pela discrepâncias que teimam em persistir. Coitados dos olhos e da mão. Coitada de mim por me apiedar.
Apiedar é aquele ato passivo que num rasgo de paternalismo achamos que estamos por dentro, mas estamos completamente por fora. Completamente por fora do trajeto daqueles dois até chegar aquele momento de colisão. Um momento fugaz sem fim. Um momento de colisão de dois trajetos. Talvez uma colisão inevitável não no particular, mas no coletivo, no social. Depois, varre-se o que não interessa para debaixo do tapete. Enchem-se as cadeias de indesejados nunca incluidos, por isso revoltados. Por indesejados serem, segregados, excluidos adornam os seus pensamentos os seus atos com mãos que ja não transpiram. Mãos paradas contendo raiva, desprezo.
Sem apiedamento. Sem paternalismo: Coitada da professora de fonte enregelada e do homem de olhos vazios de calor, de grossas veias nas mãos. Coitados de nós que ainda não conseguimos erradicar momentos fugazes sem fim; momentos pendentes por um fino, muito fino de fio que segura a vida ao descalabro.
a piu
Br, 9 de Maio 2013
Coitada da professora. Anda assustada. Não consegue sair de casa. Levaram o carro. Ainda sente o frio do revólver na cabeça. Coitada da professora. Boa professora, a coitada de fonte gelada, que aquece a vontade da criançada para ler e escrever. Vive com a mãe, com o padastro porque do seu salário de funcionária pública nunca poderia habitar naquelo bonito bairro de classe média. Um bom bairro para acontecer tal azar (?), dizem. Coitada da professora que viu a sua vida por um fio, dependente de uma mão de grossas veias pulsando uma revolta ancestral. Coitado de quem a mão pertence. Uns olhos pedindo calor, enregelados pela discrepâncias que teimam em persistir. Coitados dos olhos e da mão. Coitada de mim por me apiedar.
Apiedar é aquele ato passivo que num rasgo de paternalismo achamos que estamos por dentro, mas estamos completamente por fora. Completamente por fora do trajeto daqueles dois até chegar aquele momento de colisão. Um momento fugaz sem fim. Um momento de colisão de dois trajetos. Talvez uma colisão inevitável não no particular, mas no coletivo, no social. Depois, varre-se o que não interessa para debaixo do tapete. Enchem-se as cadeias de indesejados nunca incluidos, por isso revoltados. Por indesejados serem, segregados, excluidos adornam os seus pensamentos os seus atos com mãos que ja não transpiram. Mãos paradas contendo raiva, desprezo.
Sem apiedamento. Sem paternalismo: Coitada da professora de fonte enregelada e do homem de olhos vazios de calor, de grossas veias nas mãos. Coitados de nós que ainda não conseguimos erradicar momentos fugazes sem fim; momentos pendentes por um fino, muito fino de fio que segura a vida ao descalabro.
a piu
Br, 9 de Maio 2013
DO CENTRO DA TERRA UM ABRAÇO
Abraçando o chão, do ventre sentia o calor que do centro da terra vinha. Ali ficou, enraizando-se, numa terra que lhe oferecia calor. Escutou o pulsar do coração. Ali ficou numa escuta interna, num estado de alerta calmo.Aos poucos foi deixando o passado se diluir serenamente no sereno da manhã. O futuro por vir depois, ficou para depois. Tocou o presente com a pontas dos dedos, dos lábios, do nariz; e uma respiração profunda permitiu-se a que o seu peito se abrisse para um abraço que atravessaria a linha do tempo. Um abraço leve e profundo, pleno de presente, de viva, de calor. Depois, palavras deslizaram baixinho: "Sentido o chão fico, enraizando-me numa nova terra. Enraizando-se, empurro o chão, para que num salto sinta o gozo do que poderá ser voar. E de seguida abraçar o calor do enraizado chão e dum abraço outro. Um abraço de quem no chão voa e se enraíza também."
a piu
Br, 9 de MAIO 2013
quarta-feira, 8 de maio de 2013
FORMULÁRIOS ONÍRICOS
Ora nome já tá. E pá esta coisa do código postal é sempre uma treta! Um número enorme que nunca sei! E já não falando de todos os outros! E eu tenho cá uma memória de elefante que só visto! Enfim! O que vem a ser isto? Cor? B ( ) P ( ) A ( ) I ( ). Bem B deve ser cor barrenta. P... Cor de pitanga. Eu até gostava de ser da cor da pitanga. Mas é tanga! Ninguém tem cor de pitanga! Ou tem? A.... Cor de alma. Hmmmm que cor tem a minha alma? Boa pergunta. I... I... Indigo! Eu sou indigo!! E pá, espera aí! As crianças indigo são a new age da contemporaneidade! Eu já nasci no milénio do século passado! Sendo assim, que cor sou? Uma boa pergunta merece uma boa resposta! Pois, pois, ah pois é! Cum escamartilhão! Raios me partam ao meio sem deixar réstia do meu ser! Esta agora! Pois que não sei de que cor venho a ser eu! Olha, não respondo a esta! Pulo! Mas agora fiquei com uma dúvida existencial, quiçá uma crise existencialista que terei de recorrer a um especialista! E eu que tinha acordado tão bem disposto. Disposto a disponibilizar-me para a vida de uma forma disponivel! Mas assim, meu amigo, não há condições! Agora sinto-me com uma cor barrenta birrenta. Ora toma e vai buscar!
A piU
Br, 8 de Maio de 2013
A piU
Br, 8 de Maio de 2013
terça-feira, 7 de maio de 2013
VENTOS DE MUDANÇA
No cimo do armário está uma garrafa. Em cima da prateleira a bonita garrafa de doce licor olha o mundo. Garrafa degustada. Nada a impede de acariciar o pequeno cálice. A garrafa está no cimo do armário, olhando o mundo, para deguste de lábios sedentos. A brisa que da janela se egueira contorna a linda forma da garrafa. A garrafa de doce licor mira o mundo acariciando os pequenos cálices que acariciam lábios sedentos. Da janela a cortina voa ondulante. A garrafa abana. Tremelica. As portadas batem. Alguém empurra o armário contra a porta para que os ventos não invadam a casa, mas o vento é forte. A bonita garrafa de licor doce ameaça tombar vertiginosamente. As cortinas batem no teto. A garrafa estatela-se no chão. Uma queda seca. Deixou de ser uma garrafa. verde, passou a ser um monóculo. O licor doce acaricia o verde monóculo em que agora a bonita garrafa se tornou. Uma dádiva dos ventos de mudança, um reinventamento de si mesma após a sua queda seca vertiginosa e resignificante.
a piu Br, 7 de Maio de 2013
PESADA, LONGA E ALEGRE
Na minha pen drive na pasta das imagens da Inês esta está legendada como "Nivelar por baixo". Penso que entitueli assim, porque originalmente a história que pedi para a Inês ilustrar tinha a ver com isso. Quando recebi a ilustração vi que não tinha nada a ver com nivelar por baixo, pelo contrário, nivelar por cima. Sentir o chão, enraízar-se nele para crescer, saltar e voltar a sentir o chão. Ontem juntei alguns pensamentos e escrevi um texto. Hoje ao abrir a pasta da pen drive percebi que o texto não ficou guardado. Depois do primeiro embate conclui que o texto tratava exactamente disso: do enraizamento, da perda, da aceitação da mesma, da celebração da vida. Quando cheguei aqui para publicar, pensei fazer uma breve introdução dedicando o texto a uma velha amiga que me conhece desde a nascença, my grandmama. Ao meu velho amigo primo Nuno que me conhece, desde que ele nasceu. À minha nova amiga Isabela, que nos temos divertido ao brincar, resignificando o mundo. À minha nova amiga e companheira de estrada e novos caminhos artísticos Denise. E há minha velha recente amiga Inês que me tem ofererecido o prazer de apreciar o seu trabalho. Desta feita deixo uma pequena adivinha da menina Flor para não me alongar neste atarefado mundo cibernautico. Assim que recuperar o texto ou reescreve-lo partilharei.
- O que é? O que é que é pesada, longa e alegre?
- Uma bola de futebol americano?
- Nããããooooo!
- É a vida!
(Flor, 7 anos)
a piu
Br, 7 de Maio de 2013
- O que é? O que é que é pesada, longa e alegre?
- Uma bola de futebol americano?
- Nããããooooo!
- É a vida!
(Flor, 7 anos)
a piu
Br, 7 de Maio de 2013
sexta-feira, 3 de maio de 2013
O COSMOS NÃO É ISOHISTÉRICO
Desde os tempos mais remotos que os seres viventes se deslocam. Nomadizam-se, adaptam-se segunda as vicissitudes que o planeta terra mais o seu cosmos envolvente oferece. Os seres viventes relacionam-se entre si. Umas vezes inventam umas guerras por questões de sobrevivência, depois essas guerras tornam-se ancestrais. Vingar o antepassado e por aí afora. Essa sobrevivência algumas muitas vezes confunde-se com relações de poder. As relações de poder existem por razões mil. Uma delas é o medo do outro, medo que o outro invada o seu espaço, então por defesa invade o espaço do outro, aniquilando-o. O planeta terra é redondo de savanas, pastos, selvas verdes e de pedra imensas. Se as relações de poder, nascidas de forma resumida do medo, fossem erradicadas o planeta terra não abanaria de forma insana no espaço sideral. Dançaria sem pisar no pé do outro.
Alguns seres viventes humanizados tendem a se deslocarem no planeta terra por variadíssimas razões. Por necessidade, por curiosidade, pela necessidade curiosa de ver o que está para lá do horizonte. Uns fogem de quem os perseguem em tempos ditos duros, outros vão ao encontro de outros lugares para acumularem riquezas e voltar para o seu lugar de origem, outros ainda procuram outros estímulos para crescerem por dentro.
Mudar de lugar, sair da zona de conforto requer querer, sonho, persistência e por vezes algum desconforto. De vez em quando, torna-se necessário começar quase do zero ou até mesmo do zero. Porém se essa persistência se mantiver ao poucos os seres viventes dão-se a conhecer, relacionando-se, estabelecendo elos, entre ajudas. Requer humildade. Mas quem disse que não se pode ter orgulho na humildade? Por vezes o ser vivente é estigmatizado, segregado em processos que nem Kafka imaginaria. Por vezes manter a serenidade é um árduo exercício, mas, porém todavia, contudo no entanto se levantarmos a cabeça e olharmos para lá da linha do horizonte e continuar caminhando o cosmos fará também sua parte sem ser demasiado isohistérico.
a piu
Br, 3 de Maio de 2013
Alguns seres viventes humanizados tendem a se deslocarem no planeta terra por variadíssimas razões. Por necessidade, por curiosidade, pela necessidade curiosa de ver o que está para lá do horizonte. Uns fogem de quem os perseguem em tempos ditos duros, outros vão ao encontro de outros lugares para acumularem riquezas e voltar para o seu lugar de origem, outros ainda procuram outros estímulos para crescerem por dentro.
Mudar de lugar, sair da zona de conforto requer querer, sonho, persistência e por vezes algum desconforto. De vez em quando, torna-se necessário começar quase do zero ou até mesmo do zero. Porém se essa persistência se mantiver ao poucos os seres viventes dão-se a conhecer, relacionando-se, estabelecendo elos, entre ajudas. Requer humildade. Mas quem disse que não se pode ter orgulho na humildade? Por vezes o ser vivente é estigmatizado, segregado em processos que nem Kafka imaginaria. Por vezes manter a serenidade é um árduo exercício, mas, porém todavia, contudo no entanto se levantarmos a cabeça e olharmos para lá da linha do horizonte e continuar caminhando o cosmos fará também sua parte sem ser demasiado isohistérico.
a piu
Br, 3 de Maio de 2013
HÁ ESPAÇO PARA TODOS, É SÓ TER TEMPO PARA OLHAR, VER, OBSERVAR, OUVIR E ESCUTAR. ENFIM, SENTIR
O mundo é redondo, dizem. Se junto as mãos em baixo e depois começo a
abrir as braços até que as mãos se juntem por cima da minha cabeça, de braços
esticados, desenham um círculo. Se círculo numa sala por entre os meus amigos e
colegas certamente não me chocarei com eles. Se olho ao meu redor atentamente, posso entender
que espaço ocupo e como o mundo se vai organizando para que cada um de nós
ocupe o seu espaço sem necessariamente ocupar o espaço do outro. Se dou um beijo a
alguém permito-me a mim e a quem beijo de ocuparmos um mesmo espaço. Se nos
abraçarmos ainda mais!! Por vezes somos obrigados a dividir um espaço minimo
com desconhecidos. Por exemplo, no elevador, na carruagem do metrô, naquele
show do nosso cantor preferido. No carnaval! Nas lojas apinhadas de gente
comprando em promoções!
O Brasil tem muito espaço, mas por vezes nós temos tendência a viver em
cima uns dos outros. Porquê? Alguns de nós vivemos em altíssimos prédios de
ruas cheias de carros. Por vezes sentamos na mesa grande da sacada uns em cima
dos outros. Porquê? Será que é para não
nos sentirmos sós? Temos medo de sentir o nosso corpo de uma forma plena? Quando
vamos na praia o que acontece? Um monte de gente montando a sombrinha em cima
de outra sombrinha. Depois caminhamos e um pouco mais na frente o areal está
vazio. Na rodovia porque é que os carros se grudam na traseira do carro da
frente. Porque querem sempre ter pressa de serem os primeiros e não darem passagem
para o outro carro que tenta entra na rodovia?
Porque não param para o pedestre passar?
Porque não param para o pedestre passar?
Porque falamos todos ao mesmo tempo, achando que nos estamos escutando?
Mas não nos estamos escutando, não! Porque nem sempre suportamos escutar o
silêncio? O silêncio fala coisas tão bacanas!
Porque não respeitamos o nosso espaço e o dos outros?
Porque não respeitamos o tempo de cada um? Será que o silêncio e a escuta nos assustam? Será que nos esquecemos que o Brasil é muito grande com muita mata, quintais, praia, ruas largas, por vezes, para podermos abrir os braços , as pernas e convidarmos os nossos amigos nesse jogo/ brincadeira que é nos mexermos e falarmos livremente respeitando o espaço e tempo de cada um.
Porque não respeitamos o tempo de cada um? Será que o silêncio e a escuta nos assustam? Será que nos esquecemos que o Brasil é muito grande com muita mata, quintais, praia, ruas largas, por vezes, para podermos abrir os braços , as pernas e convidarmos os nossos amigos nesse jogo/ brincadeira que é nos mexermos e falarmos livremente respeitando o espaço e tempo de cada um.
Ana Piu
Barão Geraldo, 3 de Maio de 2013
AMORES PERROS
Maria Odete, amiga da Marilia- Oh Marilia, pá, bola p'ra frente! Emancipa-te, pá, qués mulher! Não deu, não deu! Simplifica! Andavas satisfeita? Não andavas! E depois também fostes-te meter cá numa!... Oh homem é maluco, mulher! Oh homem, pá! Só não te conto mais porque enfim... és nha amiga. Oh Marilia, Marilia! MARILIAAA! Tu estás a ouvir-me?!?!O raça da mulher! Sempre no mundo da lua! Não tá habituada a mexer-se sózinha! Sempre com o outro a reboque! Aquele! Aquele Até me dá calores! Oh Marilia! Marilia! Aquele ali de casacão não é?... Ai credo! O que ele tá a fazer!Aiiiii! Um exibicionista! Ai nem quero ver! Hmmm mas deve ser interessante... há tanto que não vem um ter comigo... Marilia! Marilia! Aquele não é?...
Marilia- O que tu estás aqui a fazer, pá! Já p'ra casa! Jááá p'ra casa! Eu não te aviso mais vez nenhuma! Só me fazes passar vergonhas! Que preparos são esses? Que mostras tu?! Oh seu! Oh seu!
Joaquim Marcelo- Só queria... Só queria.
Marilia- Só querias o quê, pááá?! Tu não me enerves!! Com isso nem a Magapatalógica vai na conversa!! Tem juízo!! Que fiz eu? Mas que fiz eu para merecer isto! Ai a homenzarrada!!!
Joaquim Marcelo- Só queria fazer uma surpresa.
Marilia- Uma surpresa?! Há quantos anos eu sei como tu és? Não precisas de me abrir o casacão no meio da rua, ainda por cima com este calor!! A gente já conversa em casa! À minha frente! Nem te atrevas a nada! O raça do homem! Ainda por cima sabe que eu gosto desta jogatina!
A piU
bR, 2 de Maio de 2013
quarta-feira, 1 de maio de 2013
I LIKE. WHY NOT?
I LIKE TO LIKE WHAT I LIKE
I LIKE TO LIKE
WHEN I DON'T LIKE I DON'T LIKE
WHAT'S MATTER?
I LIKE TO SAY: I LIKE YOU!
I LIKE TO LISTEN: I LIKE YOU!
I LIKE TO LISTEN, TOO: sOMETIMES I DON'T LIKE HOW YOU ARE, EVEN I LIKE YOU!
ME TOO, I SAY, BUT I LIKE YOU TOO
I LIKE TO FEEL THAT I CAN SAY WHAT I FEEL
I LIKE TO LISTEN WHAT YOU FEEL, WHAT YOU THINK
I LIKE TO LIVE, EVEN WHEN I'M SAD
I LIKE TO BE HAPPY, EVEN WHEN I'M SAD. I'M MAD?
I'M SAD, I'M HAPPY, I'M HAPPY. I'M SAD.THAT'S IT, AT THE THE SAME TIME. THAT'S IT! WHY NOT?
I FEEL HAPPY WHEN I LIKE TO LIKE WHAT I LIKE
A Piu
Br, 1 de Maio de 2013
UMA LINHA FINA, MUITO FINA
Corremos atrás da vida. Corremos à frente da morte. Corremos lado a lado entre a vida e morte. Corremos para nos encontrarmos. Corremos para nos fugir, assim, de nós mesmos. Fugimos para não nos depararmos diante de nós mesmos. Fugimos de nós mesmos porque a plenitude assusta. Assusta sermos quem somos. Então corremos. Corremos para nos ocuparmos, nos desviarmos do nosso silêncio, da nossa imobilidade. Convencidos que nos encontrámos, dissertamos sobre conhecimentos elevados, convencidos que a que simplicidade é menor. Quando descobrimos, quando nos revelamos diante de nós mesmos, que a simplicidade é um mundo imenso então o que nos resta é viver; deixando que a poeira tome o seu caminho. Que pouse. Que volte a se levantar. Que rodopie nas correntes de ar de portas entreabertas, de janelas de vidros quebrados. Depois essa linha ténue que divide a vida da morte é tomada com cuidado na ponta dos dedos. Um dia, os dedos ficarão cansados, de movimentos quebrados, mas essa linha continuará lá se os dedos segurarem suavemente essa linha. Depois a linha tomará o seu próprio rumo e os dedos deixar-se-ão levar, permitindo que a linha que liga uns dedos de um alguém a outros alguéns não quebre nunca. Essa linha é composta de memórias, de carinhos, de mal entendidos, de reconciliações, de empatia. Essa linha não se quebrará enquanto a memória da empatia permanecer. Simplesmente.
A piu
Br, 1 de Maio de 2013
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